Rodolfo Rodrigues: Brasileirão é difícil, mas Libertadores é ainda mais

O técnico Cuca, campeão brasileiro e da Copa do Brasil, deu uma declaração na segunda-feira (27) no canal BandSports, dizendo que vencer o Brasileirão é mais difícil do que ganhar a Libertadores. "Ganhar o Brasileiro é muito mais difícil do que a Libertadores. E não é pouco, é muito mais difícil", afirmou Cuca.

O treinador, que anunciou nesta terça-feira (28) que não vai ficar no Galo na temporada 2022, tem autoridade para opinar sobre as duas competições. Afinal, foi campeão das duas. Em 2016 e 2021 ganhou o Brasileirão por Palmeiras e Atlético-MG, respectivamente, e em 2013 foi campeão da Libertadores pelo Galo. Nas últimas duas edições do torneio sul-americano, Cuca foi ainda vice com o Santos (2020) e semifinalista com o Atlético-MG (2021).

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Cuca argumentou que na Libertadores, os clubes certamente passam da fase de grupos e depois têm pela frente apenas quatro mata-matas. Enquanto no Brasileirão, os times precisam de 38 rodadas para chegar ao título, tendo que superar adversários mais fortes.

O pensamento de Cuca deve ser respeitado, claro. Técnico com mais jogos e vitórias na era dos pontos corridos, o treinador está também entre aqueles com mais partidas e vitórias entre os brasileiros na Libertadores. Mas será que realmente o Brasileirão é tão mais difícil assim como ele afirma?

Analisando as últimas edições da Libertadores, no cenário atual, vimos quatro clubes brasileiros sendo campeões nas últimas cinco edições, desde 2017. Além disso, fizeram a final das últimas duas edições. Em 2021, tivemos ainda um recorde de brasileiros nas quartas de final (5 clubes) e na semifinal (3 clubes).

Com elencos mais fortes e mais ricos em relação aos adversários da América do Sul, os brasileiros estão tendo um desempenho muito superior aos rivais do continente. Algo nunca visto anteriormente. Mas daí a achar que a Libertadores é mais fácil que o Brasileirão, tenho lá minhas dúvidas.

Com um time forte, passar da fase de grupos realmente não é lá um grande feitos. Fazendo o dever de casa (vencendo os três jogos como mandante) e empatando um jogo fora, talvez contra o adversário mais fácil, o time faz 10 pontos e garante sua vaga nos mata-matas. Depois, porém, o bicho pega. Em alguns casos, dependendo do desempenho dos outros times, você pode pegar um adversário cascudo, copeiro. Depois, das quartas em diante, é só pedreira. E o Atlético Mineiro de Cuca passou por isso em 2021.

Time de melhor campanha na fase de grupos, o Galo pegou o Boca Juniors nas oitavas e passou com dificuldades, nos pênaltis, apesar de ter um elenco bem superior. Depois, pegou o forte River Plate nas quartas de final. Já na semifinal, mesmo como favorito, parou no Palmeiras, o atual campeão, que se mostrou mais eficiente no mata-mata. Mesmo invicto, o Galo de Cuca foi eliminado e não conseguiu confirmar seu favoritismo e levar o título.

No Brasileirão, na teoria, realmente o campeonato é um dos mais complicados do mundo. Com a presença de muitos times grandes e tradicionais, o campeonato teria tudo para ser disputadíssimo. Mas, na prática, não é bem assim. Hoje, por exemplo, temos três grandes na Série B (Cruzeiro, Vasco e Grêmio), além do Bahia, outro ex-campeão.

E na atual divisão, tivemos em 2021, por exemplo, três fortes candidatos (Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG), um bloco intermediário, com Corinthians, Bragantino e Fortaleza e um outro grupo bem mais abaixo, com Santos, São Paulo, Athletico-PR, Internacional, Ceará, Fluminense, América-MG e Atlético-GO, buscando vagas na fase preliminar da Libertadores e lutando praticamente ao mesmo tempo contra o rebaixamento.

Além dos quatro rebaixados (Chapecoense, Sport, Bahia e Grêmio), tivemos ainda Cuiabá e Juventude lá na rabeira por boa parte da competição. Então, na prática, tivemos apenas três clubes, de fato, com chance de levar o Brasileirão. Nos anos anteriores, em raras oportunidades, vimos quatro clubes na briga até certa etapa do campeonato (30ª rodada). Geralmente, quando um clube dispara na liderança, os outros acabam jogando a toalha. Não há uma briga tão acirrada assim e nem sempre vários grandes disputam rodada a rodada a ponta do do campeonato.

Com a disputa paralela de outras competições, como Copa do Brasil, Libertadores e Copa Sul-Americana, muitas vezes quem está distante do líder, acaba abrindo mão do Brasileirão e focando nos torneios de mata-mata. Então, nem sempre um time que está bem na Libertadores, por exemplo, está focado na Série A.

Clubes que conseguem largar bem no Campeonato Brasileiro e que têm um equilíbrio dentro e fora de casa, geralmente são aqueles que ficam com o título. Quem tem um elenco forte e consegue manter uma regularidade na temporada, também geralmente fica próximo do título Brasileirão. Sim, é um campeonato dificílimo. Mas entendo que a Libertadores, por suas características e peculiaridades, é mais complicada.

Além de desafios como jogos na altitude, adversários fortes e desconhecidos, arbitragem tendenciosa, a competição sul-americana tem suas armadilhas nos jogos de mata-mata. Os brasileiros, que nos últimos anos aprenderam a jogar o torneio e ter a cabeça mais fria, estão conseguindo um sucesso maior. Mas levar o troféu é algo pra lá de complicado.

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