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Rodolfo Rodrigues: Voltamos à questão do malefício das torcidas organizadas
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A selvageria e a brutalidade envolvendo torcedores de futebol seguem em alta no Brasil. Na semana passada tivemos duas agressões covardes contra os ônibus de Bahia e Grêmio, causando lesões graves no goleiro Danilo Fernandes e no volante Villasanti. Nesse último final de semana, uma briga entre torcidas organizadas em Belo Horizonte, antes do clássico Atlético e Cruzeiro, fez uma vítima fatal. Já em São Paulo, depois do clássico Majestoso, torcedores da Gaviões da Fiel e da Independente brigaram no metrô.
Como sempre, quase todas as brigas, confusões e mortes entre torcedores têm a participação de membros de torcidas organizadas. Mas ainda seguimos fazendo vista grossa para isso. E isso vai desde autoridades até jornalistas que cobrem futebol. Saudosistas, muitos ainda pregam que é um absurdo expulsar esses torcedores dos estádios. Que seria o fim do nosso futebol, que acabaria com a essência do esporte nos estádios.
Na Inglaterra, nos anos 80, o ápice da violência dos hooligans aconteceu na final da Liga dos Campeões de 1985, quando torcedores do Liverpool causaram a morte de 39 pessoas no estádio do Heysel, na Bélgica. O episódio fez com que os clubes ingleses fossem banidos de competições europeias. Depois disso e anos de estudos, os ingleses criaram a Premier League, em 1992. Com medidas efetivas, como identificar todos os torcedores nos estádios e até cobrar ingressos mais caros, a situação mudou completamente.
Aqui no Brasil, para muitos, isso ainda é um absurdo. Em transmissão recente da Liga dos Campeões, o apelido pejorativo da torcida dos clubes ingleses era de 'torcida de teatro', em alusão aos torcedores que assistem às partidas sentados. O pai que leva o filho ao estádio, ou que vai com a família inteira e quer ver o jogo sossegado, sentado, é visto com maus olhos por muitos.
O sujeito da torcida organizada, que causa desde o trajeto rumo ao estádio, gritando e batendo na porta do metrô, que intimida e agride quem veste camisa do time rival, esse ainda é bem visto só porque fica gritando o nome do time, ou nem isso, no estádio. Vários que estão lá, nem sequer sabem a escalação do seu time. Vão para cantar o nome da torcida organizada. Ficam de costas para o jogo. Levantam bandeira enquanto a bola está em jogo —nesse último domingo, o bandeirão da Independente foi hasteado e muita gente nem viu o gol de Calleri nos primeiros segundos da partida.
Já frequentei muitos jogos de futebol. Sei perfeitamente o quando é empolgante quando a torcida canta e empurra o time. Mas acho que não é só isso que move o futebol. Existem torcedores comuns, que são até maior parte do que esses de torcida organizada. Vários deles sonham em ir ao estádio e são privados por causa da violência. Ou até mesmo pelo sistema de pontuação em vendas de ingressos. Quando um time grande vai jogar em outro estado ou em outro país, os dirigentes pagam passagem para esses torcedores das organizadas. Por que não para o torcedor comum?
Chegamos ao ponto em que não podemos mais ter torcidas rivais nos estádios. Em dias de clássicos ou até de jogos de time rival, é extremamente perigoso você circular nas grandes capitais com a camisa do seu time de futebol podendo ser espancado por alguns membros de torcidas organizadas. O curioso é que em dias sem jogos, muitos desses torcedores convivem juntos. Vão para festas juntos, trabalham juntos, se reúnem em família com quem torce para o rival. E não se matam por isso. Mas em dias de jogos, se transforam em marginais, que sentem prazer em espancar quem veste outra cor.
Infelizmente, não há espaço para esse tipo de torcedor na nossa sociedade. Gostaria muito de poder vestir a camisa do meu time sem medo. De ir ao estádio como se estivesse indo ao cinema, sem preocupação com violência. De andar de mão dada com meu filho que torce para o time rival e sentar ao lado dele no estádio. Aliás, estádio de futebol é lugar para torcedor comum. Lugar de família. Para quem é apaixonado de fato pelo clube.
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