Ingleses orquestram homenagem ao adversário e aqui estamos distante disso

Podia ilustrar esse post com inúmeras histórias infelizes dos últimos anos envolvendo torcedores nos estádios. O menino que pegou a camiseta do Palmeiras na torcida do Santos, as emboscadas e ataques recentes aos jogadores de Bahia e Grêmio, as cenas deploráveis que eu cansei de ver em estádio de pais acuados com filhos pequenos sendo obrigados a tirar a camisa.

Futebol e segurança parecem não combinar mais no Brasil faz tempo. Já disse aqui e repito: não sei quando - e se - vou cumprir a promessa que fiz ao meu filho de 5 anos de levá-lo para conhecer o estádio. Mas quando vemos (e revi várias vezes) o vídeo da torcida do Liverpool homenageando Cristiano Ronaldo, jogador do rival Manchester United, fica claro qual a questão em relação às torcidas brasileiras: falta humanidade.

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Não que os ingleses sejam exemplo disso. Os hooligans são uma instituição patenteada na Inglaterra disposta a ir aos estádios apenas para agredir. Mas em uma situação dessa, quando um ídolo mundial vive a dor da perda de um filho, o mínimo que se espera é respeito. Paulo Andrade diz em sua narração para a ESPN que um momento como esse coloca o ser humano na frente do torcedor. E quando haveria de ser diferente?

O brasileiro acorda cedo, paga caro, enfrenta perrengues e longas distâncias para ir ao estádio. Para que? Torcer por seu time? Não, xingar. Xingar jogador adversário, xingar torcedor adversário, comemorar com agressividade contra o outro. Competitividade agora é pautada em ódio.

Quem consegue imaginar a torcida do Corinthians homenageando a do Palmeiras em uma situação semelhante? Brasileiro não respeita nem minuto de silêncio, imagina se consegue olhar para o lado o suficiente para combinar um canto coordenado que conforte um rival? Consegue imaginar dizer para o seu algoz que ele não está sozinho? Tirar essa camisa e amparar o pai que tenta proteger o filho acuado na saída do estádio?

Muito se fala que o futebol perdeu a beleza e a poesia e eu acho que é saudosismo demais. Não precisa de tanto - se conseguirmos devolver o respeito e a humanidade aos estádios já está de bom tamanho. Os ingleses deram aula disso essa semana. É só seguir.

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