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Rodolfo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A polêmica de Felipão: você prefere futebol bonito ou a retranca vencedora?

Felipão à beira do campo a estreia do comando do Athletico-PR, em jogo pela Copa do Brasil, na Arena da Baixada - Gabriel Machado/AGIF
Felipão à beira do campo a estreia do comando do Athletico-PR, em jogo pela Copa do Brasil, na Arena da Baixada Imagem: Gabriel Machado/AGIF

Colunista do UOL

30/07/2022 04h00

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Flamengo e Athletico Paranaense empataram na última quarta-feira (27), por 0 a 0, no Maracanã, no jogo de ida da Copa do Brasil. Segundo as estatísticas do SofaScore, o rubro-negro carioca deu 22 finalizações, contra apenas quatro do Furacão. Foram seis chutes certos a gol contra nenhum do time paranaense, além de dois chutes na trave do goleiro Bento.

Depois do jogo, vieram as críticas ao antijogo do time de Felipão, que foi ao Maracanã apenas para se defender e segurar o 0 a 0. Por outro lado, o experiente treinador foi elogiado por amarrar o time de Dorival Júnior e o poderoso ataque com Gabigol, Pedro, Arrascaeta, Everton Ribeiro e Everton Cebolinha (que entrou no segundo tempo).

Mas não parou só por aí. A velha polêmica do futebol bonito x futebol pragmático voltou à tona. Ou futebol ofensivo x retranca. Felipão, que completou 40 anos como treinador em 2022, fez sua carreira montando times extremamente competitivos e priorizando o sistema defensivo. O futebol bonito nunca foi o foco. O resultado, sim.

Não à toa, Felipão conquistou 27 títulos, entre eles, uma Copa do Mundo com 100% de aproveitamento em 2002, uma Copa das Confederações também com uma campanha 100% (em 2013), duas Libertadores (1995 e 1999), dois Brasileiros (1996 e 2018) e quatro Copas do Brasil (1991, 1994, 1998 e 2012). Além disso, foi vice da Euro de 2004 e semifinalista da Copa de 2006 com a seleção portuguesa.

É claro que o treinador de 73 anos não fez tudo certo na carreira. Ele foi um dos maiores culpados pelo maior vexame da seleção brasileira na Copa de 2014, quando o Brasil apanhou de 7 a 1 da Alemanha na semifinal. Ele foi também um dos responsáveis pelo rebaixamento do Palmeiras no Brasileirão de 2012 e fracassou no futebol inglês, pelo Chelsea — mas também foi o único técnico brasileiro a chegar lá.

Pelo Athletico-PR, Felipão voltou a ficar em evidência. No clube desde maio, Scolari conseguiu, em 22 jogos, 13 vitórias, 6 empates e apenas três derrotas, com um aproveitamento de 68% dos pontos. Foram 40 gols feitos (1,82 por jogo) e 19 gols sofridos (0,86 por jogo). Nesse curto tempo, classificou o time para as quartas de final da Copa Libertadores, para as quartas da Copa do Brasil e no pelotão de frente do Brasileirão — terminou em 5º no 1º turno.

Felipão, o técnico com mais jogos (100), mais vitórias (59), mais títulos (4) e que mais chegou às quartas da Copa do Brasil (13 vezes), tem uma grande chance de levar o Furacão à semifinal da competição depois do 0 a 0 no Maracanã — precisa de uma vitória simples na Arena da Baixada. Na Libertadores, pode levar o Athletico também à semifinal, já que tem pela frente o Estudiantes-ARG. Não é pouco.

O jeito que Felipão monta seus times pode não agradar. A maneira como suas equipes se comportam dentro de campo, sem tanta inovação tática ou sem jogadas criativas e ofensivas, também deixam a desejar. Mas uma coisa é certa: seus times quase sempre vão brigar por títulos.

Felipão é um treinador copeiro. Ganhou títulos como ninguém nesses campeonatos de mata-mata. E foi isso que ele fez contra o Flamengo. Qualquer um sabe da força desse time do Flamengo. Principalmente no Maracanã. Felipão armou sua retranca muito bem, fez o seu time catimbar e irritar o adversário (muito bem, como sempre) e voltou com o 0 a 0 no bolso.

O resultado foi injusto, claro, já que o Flamengo criou inúmeras chances de gol, teve 74% de posse de bola contra 26% do Furacão. O Athletico deu apenas 162 passes (68% certos) contra 689 do Flamengo (89% certos). Mas futebol não é só isso. Retranca também ganha jogo e ganha campeonato. O Corinthians voltou com a classificação sobre o Boca Juniors nas oitavas de final da Bombonera sem dar um chute a gol. E foi saudado por seu torcedor, principalmente por jogar com vários desfalques.

Na Espanha, o Atlético de Madri, do técnico argentino Diego Simeone, vem fazendo sucesso com seu futebol defensivo, de retranca, há quase 10 anos. Já chegou à final da Champions League, ganhou a Liga Europa, a Liga Espanhola, e se tornou um dos times mais competitivos do continente nesse período.

Na seleção brasileira, vimos o título da Copa de 1970 com um futebol brilhante, de encher os olhos. Vimos também uma seleção que encantou o mundo com um futebol ofensivo em 1982, sob o comando de Telê Santana, mas que ficou marcada por não ganhar nada. Depois disso, vimos dois treinadores, um tachado de pragmático (Carlos Alberto Parreira) e outro de retranqueiro (Felipão), levarem o Brasil aos títulos do tetra e do penta.

Futebol pragmático ou de retranca também ganha jogo e vence campeonato. Faz parte do esporte e cada um faz sua escolha.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL