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Rodrigo Coutinho

Problema do Flamengo não é "ataque posicional", e sim seu sistema defensivo

Dome à beira do campo durante o duelo entre Flamengo e São Paulo, no Maracanã, pelo Brasileirão 2020 - RODRIGO BUENDIA / POOL / AFP
Dome à beira do campo durante o duelo entre Flamengo e São Paulo, no Maracanã, pelo Brasileirão 2020 Imagem: RODRIGO BUENDIA / POOL / AFP

Colunista do UOL

03/11/2020 04h00

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Resumo da notícia

  • O tão criticado ataque posicional do Flamengo é algo bem longe de ser um problema do time de Domènec
  • O que impede este Flamengo de ser mais competitivo é o comportamento no momento defensivo

A expressão "ataque posicional" ganhou espaço no debate sobre futebol no Brasil nos últimos meses. Na boca de torcedores ou comentaristas, a forma de atacar, que, diga-se, não é novidade por aqui, foi massacrada por muitos como algo que ''engessaria'' ou tornaria o time do Flamengo mais previsível, prejudicando o desempenho do melhor elenco do país. Um grande serviço de desinformação e até mesmo uma confusão semântica.

O nome posicional levou muita gente que deveria estudar para explicar o jogo de futebol no Brasil a cair no erro do significado da palavra. O ataque posicional não prevê que os atletas fiquem parados, sem mobilidade. Ele rege o respeito a uma ocupação de espaços estabelecida no campo de jogo. Cada jogador tem sua faixa de atuação e se movimenta dentro deste setor. Se aproximam e se procuram de acordo com a posição da bola.

Se a bola chegar na linha de fundo pela direita, o ponta pela esquerda tem a obrigação de atacar a área pelo outro lado. Se o adversário pressiona a saída de bola da equipe, o centroavante, homem mais avançado, recua metros junto com o restante do time para dar opção de passe e compactar os setores. Apenas dois exemplos que desmistificam o que vem sendo pregado. A ocupação de espaços fica mais racional, as linhas de passe são geradas automaticamente e a bola vai até o jogador com mais frequência, não o contrário.

Tite, na Seleção, Dorival Junior, Jorge Sampaoli e Maurício Barbieri são apenas alguns nomes que já implementaram este modelo ofensivo aqui no Brasil. Por vezes com sucesso, em outras sem êxito. Como em tudo no futebol, a ideia por si só não é a responsável pelo bom ou mau desempenho. Precisamos avaliar a execução de tal proposta. Para isso é fundamental entendê-la, e não a deturpar.

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Como o Flamengo costuma ocupar os espaços no campo de ataque. Everton Ribeiro flutua e abre o corredor para Isla. Filipe Luis fica um pouco mais atrás e Bruno Henrique dá amplitude pela esquerda. Setores todos ocupados
Imagem: Reprodução de TV

O Flamengo é o time com o melhor ataque do Campeonato Brasileiro 2020, o que cria mais chances nítidas, o que mais acerta passes, o que tem melhor aproveitamento nos dribles. Como vemos, ''engessado'', ''previsível'' e ''burocrático'', alcunhas designadas ao ataque posicional nas últimas semanas, não são adjetivos que podem ser aplicados ao coletivo do rubro-negro.

O que impede este Flamengo de ser mais competitivo é o comportamento no momento defensivo. Sem a bola, Domènec precisa fazer o time evoluir na pressão que exerce sobre o adversário que tem a posse. A intensidade avassaladora ao subir as linhas de marcação ficou nos primeiros meses de 2020. O catalão pede o mesmo movimento, mas a forma com que ele é feito deixa muito a desejar.

Alguns fatores podem causar isso. O insano calendário do clube este ano, a sequência de lesões de atletas importantes e a falta de confiança em defensores que não deram resposta positiva pesa bastante. Mas o time pode ser mais bem condicionado taticamente a fazer isso. Criar outros mecanismos para se proteger e sofrer menos gols. No New York City, Dome já não havia mostrado grande aptidão para trabalhar problemas defensivos. Se quiser ter mais sucesso no Brasil e dias mais tranquilos, precisa evoluir neste aspecto.

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Espaço dado pelo Flamengo ao adversário com a bola dominada. Ele tem total liberdade para executar um passe em profundidade ou um chute
Imagem: Reprodução de TV

Goleadas em competições de pontos corridos deixam marcas, mas são recuperáveis pelo bom trabalho ofensivo da equipe e a qualidade das peças individuais. Já em competições eliminatórias, essas mesmas goleadas geralmente são fatais.