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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Conheça tudo sobre o Tigres, adversário do Palmeiras

Colunista do UOL

06/02/2021 04h00

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Continuidade! Esta é a palavra que melhor define o oponente do Palmeiras nas semifinais do Mundial de Clubes. O Tigres, da cidade de Monterrey, nordeste mexicano, tem nada menos que nove dos possíveis 11 titulares contra o Verdão atuando há pelo menos três anos no clube. Um time entrosado e com proposta bem definida de futebol. Confira!

O lateral-esquerdo Jesus Dueñas e o zagueiro Hugo Ayla são os mais longevos, 12 e 11 anos respectivamente como profissionais e, na maioria das temporadas, titulares do Tigres. Trata-se de um clube estabilizado financeiramente e com administração que permite sempre brigar pelos principais títulos nacionais, além de chegar nas fases agudas da Concachampions, a ''Libertadores'' da América Central e Caribe. Reyes e Leonardo Fernandez são os prováveis titulares de história mais recente no clube.

Em dezembro os Felinos bateram o Los Angeles Galaxy por 2x1, de virada, e conquistaram pela primeira vez o continente. O caneco veio depois de três vice-campeonatos (2019, 2017 e 2016). A hegemonia nacional do clube foi extensa na última década. Cinco dos sete títulos mexicanos da história do Tigres foram conquistados no período. Ainda ganhou uma Taça do México e três troféus Campeão dos Campeões.

O Treinador

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Tuca Ferretti comanda o time do Tigres
Imagem: Azael Rodriguez/Getty Images

Todas as conquistadas recentes listadas acima tiveram a assinatura de um verdadeiro ícone da história do futebol mexicano. O brasileiro Ricardo ''Tuca'' Ferreti é o comandante dos Auriazules desde meados de 2009. São 12 anos dirigindo a equipe, mesmo número de troféus conquistados para a galeria do Tigres.

O profissional viveu 44 dos seus 66 anos em solo mexicano e se naturalizou. É irmão do famoso atacante Ferreti, que atuou no Botafogo e na Seleção Brasileira no final da década de 60 do século passado. O próprio Tuca também foi atleta. Iniciou no Glorioso e depois passou por Bonsucesso, CRB e CSA, antes de ir pro México.

Iniciou a carreira de treinador na década de 90, no Pumas, clube que também possui forte identificação. Depois comandou Chivas, Morelia e Toluca até chegar ao Tigres. Treinou a seleção mexicana como interino em nove partidas. É uma verdadeira entidade no futebol local.

O Time

Até a semifinal do Mundial de Clubes, Ferreti vinha montando o Tigres num 4-4-2, o esquema que mais utilizou em seus anos de clube. Gosta sempre de atuar com um atacante de referência, o francês Gignac, e um atacante de mais mobilidade, que pode ser o uruguaio Leonardo Fernandez ou o paraguaio Carlos González, este último menos veloz, mas que sai mais da área que Gignac.

Meias atuando bem abertos, agudos e rápidos, geralmente Aquino e Luis Quiñones, e volantes com capacidade de organização: Rafael Carioca e Guido Pizarro. Guzman é o dono da meta. Hugo Ayala e Salcedo formavam a dupla de zaga, mas Reyes recuperou espaço e pode ser titular novamente como na semifinal. Ayala sairia. E as laterais são ocupadas por Luis Rodriguez e Jesus Dueñas, meio-campista de origem.

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Time-base do Tigres
Imagem: Rodrigo Coutinho

O Craque

Destaque desde que chegou, André-Pierre Gignac tem 247 jogos pelo clube e 146 gols marcados. Média de um tento a cada duas partidas. Se transformou em um dos ídolos e maior artilheiro da história do Tigres em apenas seis temporadas. É um ''colosso'' dentro da área. Finaliza muito bem, se impõe fisicamente, resolve rápido as jogadas e se posiciona de maneira perfeita. A retaguarda palmeirense vai precisar de muita atenção para marcá-lo.

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Gignac comemora um dos muitos gols que já marcou pelo Tigres
Imagem: Getty Images

Quando precisa sair da área, Gignac também se mostra participativo. Sabe fazer o trabalho de pivô, prepara bem as jogadas para os companheiros com um ''último passe'' preciso, apesar de não ser rápido e não ter tanta mobilidade em espaços maiores. Outro traço marcante de seu jogo é a precisão nas cobranças de falta de média e curta distância. Não vinha jogando antes do Mundial de Clubes em virtude de uma lesão muscular.

Figurinha conhecida de fora

Quem poderia reaparecer aos olhos do torcedor brasileiro é o atacante Nico López, ex-Internacional. O jogador, porém, testou positivo para Covid-19 antes da viagem para o Mundial de Clubes e ficou de fora da competição. Nico provavelmente não seria titular da equipe, mas é constantemente utilizado entrando na 2ª etapa. Outro que ficou fora de combate pelo mesmo motivo é o lateral-esquerdo Venegas, mais um suplente.

Como ataca

Ter a bola é o principal objetivo do Tigres em basicamente todas as partidas. Não se trata de um time que se feche e busque contra-ataques como ideia predominante. Tenta progredir no campo através de aproximação e troca de passes curtos entre os atletas, a começar pelo goleiro Guzman, que encaixa bons passes na saída de bola acionando volantes ou laterais.

O primeiro momento de construção é feito quase sempre com uma linha de quatro atrás envolvendo os zagueiros e laterais. A proposta é chegar ao campo de ataque pelos lados, gerando triangulações entre laterais, pontas, e mais um jogador que se aproxime do setor, geralmente um dos volantes.

Rafael Carioca e Guido Pizarro gerem o ritmo das jogadas e alternam o lado que o time avança com competência. Os meias ficam sempre muito abertos. Aquino, destro pela esquerda. E Quiñones, canhoto pela direita. ''Abrem'' o campo para gerar essa linha de passe e espaçar a defesa adversária. Contam com a aproximação do lateral do setor e do volante mais próximo num segundo momento para produzirem as triangulações.

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Exemplo de uma triangulação pelo lado, algo bem comum quando o Tigres ataca
Imagem: Rodrigo Coutinho

A proposta é ganhar a linha de fundo ou acionar Leonardo Fernandez e Gignac perto da área. Quando conseguem o primeiro objetivo, o francês é alvo constante e marca muitos gols desta forma. Já quando buscam o ''último passe'' pelo centro, Leonardo Fernandez acaba oscilando mais na eficiência. Chuta bem de média distância, é habilidoso e inteligente, mas peca pela irregularidade.

Quando enfrenta adversários que adiantam a marcação com ''pegada'' e organização, o Tigres tende a sofrer um pouco mais. Isso acontece porque a circulação de bola na primeira linha é lenta. A ligação direta para Gignac acaba sendo a opção, mas falta mais movimentação para ganhar a ''segunda bola'' após o passe longo. Por mais que tenham bom passe, os zagueiros não contam com laterais tão confiáveis neste momento, principalmente Dueñas.

O lateral-esquerdo é experiente e líder do elenco, mas não lida bem quando é pressionado e induzido a jogar com a perna canhota. Ele é destro e meio-campista de formação. Até por isso entra bastante em diagonal para o meio quando o oponente marca mais atrás, e depois se aproxima de Aquino para triangular pela esquerda.

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Dueñas mais voltado ao centro e Aquino bem aberto pela esquerda. Uma constante do Tigres quando o adversário marca mais atrás
Imagem: Rodrigo Coutinho

Por mais que se mostre organizado e com ideias desenvolvidas para diferentes cenários, falta ao Tigres um pouco mais de intensidade atacando. Luis Quiñones e Aquino sempre aceleram o ritmo, mas a tomada de decisão em espaços curtos não é tão boa, principalmente com o colombiano pela direita. O camisa 23 é também muito acionado em contra-ataques. Tem força e velocidade.

Como defende

O sistema de marcação é o zonal, quando cada jogador protege o seu espaço no campo, sem promover perseguições fora do setor de origem. A intensidade da abordagem é irregular. Em transições defensivas costuma reagir muito bem. Pressiona com força logo após perder a bola e sofre pouco com contra-ataques rivais, retoma muitas vezes a posse no campo de ataque.

Já em fase defensiva o time não pressiona a bola com tanta pegada em vários momentos. Se posiciona novamente em um 4-4-2 e tem dois pontos que podem ser aproveitados pelo Palmeiras.

Pela direita, Luis Quiñones muitas vezes fecha de forma errada a linha do meio-campo, possibilitando linhas de passe e espaço para o lateral-esquerdo rival no setor, Viña pode se beneficiar. Pela esquerda, Dueñas se posiciona bem, mas possui problemas quando precisa se ''desgarrar'' um pouco da linha para pressionar a bola, é pesado, e Gabriel Menino deve levar vantagem.

Bolas Paradas

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Organização do Tigres marcando em escanteios em detalhes
Imagem: Rodrigo Coutinho

Nos escanteios defensivos, o Tigres marca com predominância zonal. São seis atletas defendendo zonas específicas dentro da área e outros dois trabalhando nos bloqueios em alvos pré-determinados, geralmente os homens mais fortes no jogo aéreo adversário. Dueñas e Aquino devem ser os responsáveis por obstruir a movimentação de Luan e Gustavo Gómez.

Na risca da pequena área, uma linha de quatro jogadores. Gignac, Rafael Carioca, Ayala(ou Reyes) e Salcedo marcando por zona. Guido Pizarro e Luis Rodriguez protegem o primeiro pau. Leonardo Fernandez e Luis Quiñones são os homens do rebote. Na bola parada ofensiva, Ayala e Gignac são os principais alvos das cobranças feitas por Leonardo Fernandez. Os dois possuem ótima aproveitamento na bola aérea.