Abel e Palmeiras: Por que tão pouco na hora de decidir?

Cair na semifinal do Mundial de Clubes foi decepcionante para o torcedor palmeirense. Mas para quem vê a situação com certo distanciamento, talvez a decepção tenha vindo antes. O Verdão é o campeão da Libertadores e finalista da Copa do Brasil com todos os méritos, mas a postura tática da equipe em jogos decisivos vem chamando a atenção negativamente.

Não existe uma única forma correta de se jogar futebol! Também é possível ser eficiente e superior ao adversário de forma mais defensiva, voltada ao aproveitamento dos contra-ataques, o famoso ''jogar no erro'' do rival. Ao longo da história foram muitas as equipes que venceram e convenceram assim.

Mas e quando há potencial para mais do que isso? Pior... Quando o próprio treinador e a equipe mostraram que sabem jogar de outra forma, que possuem os meios para algo mais agressivo e organizado, protagonista com a bola, e gerando espaços em defesas fechadas. Pois é. O Palmeiras, sob o comando de Abel Ferreira, fez isso em diversos jogos.

Muitos podem ser os motivos para o treinador português optar por algo mais conservador. O pouco tempo de treinos, não teve mais do que uma semana livre de jogos desde que chegou, em novembro. A vontade de se afirmar com conquistas em um mercado novo. Debilidade física em virtude da maratona de jogos. Ou a própria ideia de que a estratégia adotada contra Santos, River Plate, América Mineiro e Tigres era a perfeita para o encaixe com o adversário.

Cabe ressaltar que os quatro adversários citados têm características e níveis bem diferentes, o que automaticamente inutiliza o último argumento acima. ''Esperar'' o River Plate, de longe o time mais regular do continente nos últimos anos, é natural. Especular contra o Santos e, até contra o Coelho, não parece ser algo tão condizente com a qualidade palmeirense, indiscutivelmente maior.

Abel Ferreira tem nas mãos o segundo melhor elenco do Brasil, certamente um dos cinco melhores da América Latina. Não lhe falta conteúdo para aplicar conceitos ofensivos bem elaborados e desenvolvidos. Você pode rever aqui. Já atuou também de maneira mais direta, sem especular tanto com a postura adversária, o que prova que repertório tático também não é problema.

O caráter mais ''adaptável'' dele já havia aparecido no Braga e no PAOK. Sempre montou essas equipes de acordo com a realidade que o jogo apresentava. Resta saber se entenderá que o Palmeiras possui necessidade de protagonismo, em termos de modelo de jogo, bem maior do que seus ex-clubes.

A semifinal contra o Tigres deixou uma importante reflexão. Entrar em campo esperando o adversário, na realidade do Palmeiras, é um grande desperdício. E quando as coisas dão errado, ''virar a chave'' estratégica no meio do jogo é muito difícil.

A avaliação, inclusive, não poder ser refém do resultado. A bola que entrou com Breno Lopes nos acréscimos no Maracanã, poderia ter entrado num chute de Diego Pituca pouco antes, ou na finalização de Soteldo da entrada da área na sequência. Não seria absurdo o Santos sair vencedor. O resultado sempre será incontrolável, seja qual for a estratégia adotada, mas é melhor perder aproveitando tudo o que se tem e se pode fazer.

Abel merece continuidade e um projeto de longo prazo. É um ótimo treinador e com o passar dos anos tem uma grande tendência de evolução. A temporada 2021 pode representar um ganho para o time e possibilitar um Verdão mais solto e ofensivo em duelos decisivos.

Se contentar com menos do que isso não acrescenta nada ao futebol brasileiro e aos profissionais envolvidos no processo. É o mais do mesmo que estamos vendo há alguns anos, com raríssimas exceções. Palmeiras e Abel podem e devem somar com um jogo mais desenvolvido por aqui.