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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ele não é um dublê de Diniz: o que o São Paulo pode esperar de Crespo

Colunista do UOL

12/02/2021 17h13

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Com a confirmação de Hernán Crespo como técnico do São Paulo, é hora de trazer aqui no blog um pouco do que ele mostrou nos trabalhos realizados no Defensa y Justicia, Banfield e Modena. A expressão modesta desses clubes em comparação ao São Paulo é o primeiro grande desafio do argentino no Brasil: entender a grandeza do Tricolor Paulista e saber que a cobrança por resultados rápidos aqui é cruel.

Comparações com Diniz e forma de atacar

Muito se tem comparado o conceito base de trabalho de Crespo com o de Fernando Diniz. Mas a única semelhança fiel é o fato de querer ter a bola a todo momento. Isso por si só é muito pouco para uma comparação mais completa. A forma como atacam, defendem, e conduzem a montagem de suas equipes é bem diferente.

O novo técnico do São Paulo é adepto do ''ataque posicional''. Essa forma de atacar consiste em dar espaços pré-determinados do campo a cada jogador, e a partir daí fazer com que eles interajam de forma natural. A bola vai até eles. E não o contrário. Eles se movimentam, mas dentro de um espaço específico e seguem a ''lógica da bola''.

Por exemplo, se há uma jogada de linha de fundo pela direita, o ala ou o ponta-esquerda vão entrar na área na segunda trave. Mas se a bola estiver no centro do campo, na intermediária ofensiva, o jogador deste setor estará ''abrindo o campo'' pela esquerda. Outro exemplo? Sabe os recuos de Luciano buscando a bola na saída com os zagueiros, que assistimos tantas vezes com Diniz? No ataque posicional isso não acontece. Os atacantes aguardam a chegada da bola em seu setor.

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O time do Defensa atacando em detalhes. Perceba como cada jogador ocupa um espaço no campo de ataque
Imagem: Rodrigo Coutinho

Neste ponto a diferença é que Diniz dá liberdade de movimentação a seus jogadores de meio e ataque. Eles podem mudar de lado, recuar, avançar, desde que tentem obedecer a uma ocupação de espaços racional para a bola circular. No ataque posicional isso já vem de forma mais natural. Em contrapartida, requer entendimento dos atletas para não confundirem a ''disciplina posicional'' com pouca mobilidade e apatia.

A preferência é por aproximação para trocar passes, e mesmo quando o adversário adianta a marcação há insistência para progredir no campo desta forma. As ligações diretas para o ataque são bem escassas. Um outro ponto que pode chamar a atenção do torcedor são-paulino é o uso do goleiro como membro ativo na construção ofensiva.

Crespo gosta de utilizar uma saída de bola com três jogadores em linha. Quando não atua com três zagueiros, utiliza o goleiro entre os dois defensores para gerar essa linha de passe e ter superioridade numérica desde o primeiro momento de ataque. O ritmo da troca de passes oscilou bastante em seu último trabalho. Nem sempre foi tão rápida quanto deveria.

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Saída a três com o goleiro entre os zagueiros quando o adversário recua o bloco de marcação e a equipe está atuando com dois zagueiros
Imagem: Rodrigo Coutinho

Escalações e esquemas táticos

Um traço do trabalho do ''Valdanito'' são as mexidas constantes na equipe. Sabemos o quanto a torcida e a imprensa brasileira criticam esse tipo de atitude e pouco se esforçam para compreender o que há de objetivo com elas. Ele alterna bastante o esquema tático. Monta seus times no 3-5-2 na maioria das partidas, mas também adota o 4-4-2, o 4-2-3-1 e o 4-3-3 como plataformas de jogo.

Em determinados momentos se utiliza de improvisações. Principalmente com laterais de origem formando na zaga quando joga no 3-5-2. Não surpreenderá caso Juanfran seja escolhido para fazer isso, até porque preza por alas bem agressivos no ataque. É adepto de poupar jogadores para ministrar o cansaço. Haverá um certo rodízio. Outro detalhe que vai de encontro ao ''modus operandi'' do futebol brasileiro.

Marcação por encaixes, e individual na bola parada

No momento defensivo suas equipes costumam adiantar o bloco de marcação para sufocar a saída de bola adversária. O sistema obedece a encaixes e perseguições. Ou seja, o atleta tem como alvo um adversário que caiu em seu setor e o segue até o final da jogada, retornando ao seu ponto de origem quando o lance termina. Diniz não adota este modelo.

O sistema defensivo é o grande ponto de melhora numa análise de desempenho inicial. A média de gols sofridos não é baixa e costuma abalar o aproveitamento dos times que comanda. As transições defensivas nem sempre são agressivas também, apesar de haver o padrão de pressionar logo após a perda da bola.

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O aproveitamento de Crespo no Defensa y Justícia certamente seria alvo de muitos questionamentos no São Paulo
Imagem: Rodrigo Coutinho

Outra mudança referente ao ex-técnico do São Paulo é a bola parada. Crespo gosta que suas equipes marquem com predominância individual nos escanteios contrários. Geralmente define cinco atletas para marcar cinco alvos adversários pré-determinados de acordo com a estatura, e outros três jogadores marcam por zona na primeira trave, com mais dois no rebote.

Histórico e desafio

Aos 45 anos de idade, o treinador tem uma carreira bem curta na beira do campo. Comandou o time sub-18 do Parma e chegou aos profissionais do Modena em 2015. Deixou o cargo após 35 jogos e apenas 11 vitórias na Série B italiana. O clube acabou rebaixado naquela ocasião.

Passou mais de dois anos sem trabalhar e, em janeiro de 2019, foi contratado pelo Banfield, da Argentina. Quando assumiu, o clube era o 12º na Superliga, e terminou o campeonato em 16º. Mesmo assim foi mantido e acabou saindo após cinco rodadas na temporada seguinte, deixando a equipe na 19ª colocação.

Chegou ao Defensa y Justicia em janeiro de 2020 e conseguiu levar o time da 13ª para a sexta posição no campeonato nacional. Acabou eliminado na primeira fase da Libertadores, mas sagrou-se campeão da Copa Sul-Americana sobrando na reta final.

Há uma diferença muito grande de qualidade no elenco, orçamento, cobrança, torcida e objetivos entre o São Paulo e os outros três clubes de sua carreira. Isso sem contar o fato de uma nova diretoria ter assumido o Tricolor recentemente. Não se sabe exatamente se terá uma condução mais profissional do que a gestão que passou. Superar tudo isso e ganhar o mínimo de estabilidade é a primeira missão.