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Reflexão necessária: o Brasileirão 2020 foi muito ruim
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Nos acostumamos a repetir que o Campeonato Brasileiro é o mais difícil do Mundo. Mais disputado, e com o maior número de clubes como favoritos. ''Utopias nacionalistas'' à parte, é importante frisar, de fato, o caráter imprevisível que a competição de 2020 novamente teve. Precisamos nos atentar, porém, ao que dá origem a isso. Um combo de erros que resulta num nível muito mais baixo do que poderia ser apresentado em campo. Não dá pra ficar satisfeito!
Em 2019, um Flamengo histórico e totalmente fora da curva nos brindou com um futebol que há muito não se via por aqui. Mas aquele time foi exceção. Corinthians de 2015 e Cruzeiro de 2003, numa escala um pouco menor que a do rubro-negro, também se destacam na trajetória recente. O São Paulo de Muricy, tricampeão na década retrasada, foi soberano, deu poucas chances a rivais, mas num estilo muito pragmático. Precisamos de mais! Três campeões de relevância técnica e tática é muito pouco em 18 edições de pontos corridos.
Logicamente o futebol se transformou bastante no período, mas considerando o contexto de cada uma das edições, não sobra muita coisa além do que foi citado. E o pior: os equívocos que resultam no nível da última competição nacional são repetitivos. Estão aí há muitos anos e pouco é feito para resolver. Aliás, é até pouco debatido.
Parte da culpa disso reside na própria imprensa. Mais afeita, em sua grande maioria, a confirmar teses individuais e reafirmar paixões clubísticas do que entender as questões que influenciam no jogo. Contribuímos de forma extremamente nociva ao não nos prepararmos adequadamente para avaliar e analisar atletas, partidas e treinadores. Somos uma ''máquina moedora'' importante no processo. Motivando, inclusive, o comportamento do torcedor.
A origem da questão, porém, vem da estrutura de poder corroída do futebol brasileiro. A CBF não parece interessada na qualidade do que é apresentado. O calendário é um crime físico e mental aos atletas e a qualquer profissional que trabalhe no futebol. Como ter bom desempenho se uma temporada se mistura com a outra? A pandemia agravou tudo, mas perdeu-se uma grande oportunidade de racionalizar a disposição dos jogos com ela.
Preocupada em manter os bizarros Estaduais com muitas datas, a entidade que organiza o calendário sufocou novamente a temporada 2021, que tem a mesma tendência de mediocridade no campo. Até quando os clubes ficarão reféns disso? Quando entenderão que um ano com menos jogos e partidas mais espaçadas fará crescer o ''produto'' como um todo?
Somamos a isso a incapacidade de mais de 90% dos dirigentes em avaliar os processos de formação de um time e montagem de elenco. Contratam e descontratam treinadores de forma estapafúrdia e sem conhecimento. Endividam os clubes, geram caos político e econômico, produzem ambientes prejudiciais ao desenvolvimento profissional.
Preparamos mal também nossos treinadores. É preciso avançar academicamente neste sentido. A prática do dia a dia é determinante na formação deles, mas a teoria oferece conteúdo, conhecimento de todas as áreas necessárias. Passar uma semana na Granja Comary não oferece o que um treinador de ponta precisa. O resultado vemos em campo. Comandantes com repertório insuficiente para as exigências do futebol de hoje, mas tratados como grandes estrelas.
Por último, mas não menos importante: os atletas. Não é segredo a situação econômica do Brasil perante os europeus, chineses, árabes e norte-americanos. Obviamente somos um mercado exportador. Os melhores jogadores brasileiros não atuarão aqui, mas há qualidade para algo muito melhor do que vem sendo o nível geral. Todas as questões listadas acima contribuem negativamente no cenário.
Tivemos um campeonato de 20 times, e apenas três deles podem dizer que tiveram um desempenho acima ou dentro do esperado, de forma regular, nas 38 rodadas: Fluminense, Ceará e Atlético/GO. Longe de serem brilhantes, mas se esperava menos deles. A comemoração é válida a quem alcançou seus objetivos, mas a reflexão deveria ser geral. O Brasileirão 2020 foi péssimo!
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