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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bahia deve ter um time mais criativo em 2021

Jogadores do Bahia comemoram gol de Patrick de Lucca, contra o Sport, em partida válida pela Copa do Nordeste  - Walmir Cirne/AGIF
Jogadores do Bahia comemoram gol de Patrick de Lucca, contra o Sport, em partida válida pela Copa do Nordeste Imagem: Walmir Cirne/AGIF

Colunista do UOL

22/03/2021 16h37

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Dado Cavalcanti assumiu o Bahia em dezembro de 2020 com a missão de salvar o Tricolor do rebaixamento para a Série B. O time estava na 17ª colocação a 12 rodadas do fim e terminou três posições acima, safando-se do descenso com uma rodada de antecedência. Se naquele momento a ordem era só pontuar, agora há a possibilidade de fazer mais. O início parece promissor.

Hoje com 39 anos, começou sua carreira com apenas 22 anos, no Sub-15 do Náutico, passou pelo sub-20 do Sport, até assumir o primeiro clube profissional, a Ulbra, de Rondônia, onde sagrou-se campeão estadual em 2006 e 2007. De lá pra cá esteve em 15 clubes e fez bom trabalho no time sub-23 do Bahia no ano passado, o que o credenciou para dirigir o time principal.

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Dado Cavalcanti pode disputar sua segunda Série A da carreira. A primeira foi disputada com o Paraná em 2018.
Imagem: Divulgação/Bahia

O detalhe é que o treinador foi contratado para ser o coordenador das categorias de base do clube, mas herdou o cargo que ficou vago após o péssimo trabalho de Mano Menezes. A julgar pelos primeiros jogos da temporada 2021 há um movimento bem interessante de evolução ofensiva, utilizando alguns atletas como base das ideias implementadas. Se Dado tiver continuidade no cargo, poderemos ver um Bahia com mais repertório de jogo na Série A.

O clube vinha numa crescente. Voltou para a Série A em 2017 e, estabilizado administrativamente, montou elencos melhores do que diversos adversários com mais títulos, melhores colocações, e receita superior na elite do futebol brasileiro. Em 2020, quando parecia que brigaria por algo maior, a coisa empacou a partir de um plantel com perfil físico aquém das exigências de hoje, e passando por trabalhos ruins de Roger Machado e Mano Menezes.

Patrick de Lucca: o gestor do time

Quando Gregore foi negociado com o futebol norte-americano a saída foi logicamente lamentada. Era o capitão do time e titular absoluto há três temporadas. Não dá pra dizer que o substituto é exatamente Patrick de Lucca, até porque ambos jogaram juntos no Brasileirão 2020, mas o jovem de apenas 21 anos vem tomando conta das ações ofensivas do time em campo.

Há uma diferença bem ampla de características entre Gregore e Patrick. O ex-capitão é mais combativo e o camisa 45 é um volante construtor. Chegou a atuar compondo a linha de cinco defensiva na reta final do Brasileirão, quando o Bahia propunha se fechar para jogar em contra-ataques. Agora vem atuando na frente da defesa nas fases defensiva e ofensiva, quando inicia as jogadas e dita o ritmo da equipe.

Oriundo da base do Palmeiras, o volante chegou ao Esquadrão no ano passado e atuou pela equipe sub-20 até subir aos profissionais em dezembro. A confiança passada por Dado vem sendo determinante para que ele possa apresentar seu futebol de ótimos passes, visão de jogo e chutes potentes de média distância. Tem muita coragem para descobrir meias, laterais e atacantes em regiões avançadas do campo com passes verticais. Faz isso de forma criteriosa.

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Patrick de Lucca sempre centralizando a iniciação das jogadas entre os zagueiros. Meias mais a frente, se orefecendo para o passe curto
Imagem: Rodrigo Coutinho

Liberdade aos laterais

Matheus Bahia e Nino Paraíba são os titulares. Ambos possuem muita energia para imprimir velocidade e apoios constantes pelos flancos. Por isso Cavalcanti dá total liberdade e faz com que participem ativamente do momento ofensivo. A ''saída de três'', utilizada sempre com Patrick de Lucca entre os zagueiros, favorece esse comportamento, e partir daí eles buscam as aproximações no campo de ataque e consequentemente a linha de fundo.

Jogo de aproximação

Em algumas partidas do último Brasileirão já era possível identificar a propensão maior a ataques construídos desta forma. O problema era o momento de muita pressão e necessidade por vitórias, o que multiplicava erros e atrapalhava qualquer evolução coletiva. Agora, com mais calma e um nível de enfrentamento inferior dos adversários, o time pode crescer e chegar mais maduro dentro desse estilo no Brasileirão.

Daniel, Edson, Ramon, Rodriguinho, Índio Ramirez e Matheus Galdezani devem disputar duas posições pelo centro do campo, logo à frente de Patrick de Lucca. Esses dois meias jogam lado a lado e se oferecem por dentro para levar a bola até o terço final. Acionam laterais e atacantes, chegam na entrada da área e fazem infiltrações na defesa rival.

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Laterais bem projetados no campo de ataque, pontas flutuando para o centro e Gilberto na referência ofensiva
Imagem: Rodrigo Coutinho

Ataque potente

São 12 gols marcados em quatro jogos oficiais na temporada 2021. Péssimas defesas de Campinense e Sport, por partidas da Copa do Brasil e da Copa do Nordeste respectivamente, contribuíram no cenário, mas o Bahia fez a sua parte em ambos. É bem verdade que a produção no empate por 1x1 contra o Botafogo/PB e na derrota para o Vitória por 1x0 não foi tão alta, o que é natural num recorte inicial.

Gilberto segue como referência e tem a sua volta mais dois atacantes que saem dos lados e flutuam para o centro. Gabriel Novaes é o titular partindo da esquerda, ele é quem mais se aproxima do camisa 9, ataca a área, busca tabelas com o homem de referência. Rodriguinho e Rossi se revezam partindo da direita. Quando o primeiro joga, o Bahia ganha mais profundidade e velocidade. Quando segundo atua na função, o Tricolor conta com um entrosamento muito forte entre Gilberto e o camisa 10. Cresce a inteligência na movimentação final e a eficiência do último passe ou finalização.

Há um caminho...

O Esquadrão ainda está longe de ser um time confiável ou de passar a certeza que fará uma Série A na ''primeira página'' da tabela. Os dois meses que terá antes da principal competição nacional preveem desafios importantes no processo natural de fortalecimento das bases de jogo citadas acima. A boa notícia é que há ideias coerentes em andamento.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL