Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Os desafios do Grêmio contra o Del Valle. Um raio-x dos equatorianos.
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Um clube totalmente diferente daquilo que se tem como costume no futebol sul-americano. O Independiente del Valle, adversário do Grêmio na 3ª fase da Libertadores, não é exatamente uma novidade. Há pelo menos seis temporadas vem se destacando no continente e obtendo resultados e admiração. Entender a postura correta para anular virtudes e aproveitar fragilidades é o caminho para o Imortal chegar aos ''grupos'' da competição. O desafio é muito difícil!
O Técnico
Aqui já podemos começar a abordar a originalidade do clube de Sangolqui. A equipe desenvolveu um padrão tático para suas equipes nos últimos anos. Da base ao profissional a proposta é ter a bola, atacar de forma posicional e marcar por encaixes com perseguições dentro do setor. A partir daí vai atrás dos treinadores. Depois do sucesso de Miguel Ángel Ramirez, é a vez do português Renato Paiva assumir o time.
Ele tem 51 anos, 16 dedicados à base do Benfica. Foi importante na formação de diversos jogadores do clube de Lisboa e mais recentemente comandava a equipe B. Foi contratado para dar continuidade ao projeto citado acima e para dar ainda mais ênfase na utilização precoce e desenvolvimento de jovens atletas. O Del Valle é um clube formador e tem como objetivo vender jogadores novos para capitalizar.
Time-Base
Ao contrário do que ocorria com Miguel Ángel, o Independiente não tem atuado no 4-3-3. Joga na maioria das vezes em um 3-5-2, mas as ideias são basicamente as mesmas. Ramirez, de 20 anos, ganhou espaço na meta. O mesmo aconteceu com Pacho, de 19, no miolo da zaga. Schunke e Segovia seguem no setor. Landázuri e John Sanchez se revezam na ala direita e Beder Caicedo continua sendo o dono da função na esquerda.
No meio, o experiente Pellerano é o termômetro do time, Faravelli o auxilia e Mera reveza com o jovem Pedro Vite completando o meio. Bryan Garcia é outro que as vezes aparece na função. Na frente, Cristian Ortiz e o artilheiro Montenegro têm formado a dupla de ataque.
Modelo de Jogo
O ''padrão Del Valle'' já ficou popular entre os torcedores que acompanham com atenção as competições continentais. É um time que, independente do adversário, busca ter a bola e marcar a saída rival em bloco alto. Com a posse, a iniciação das jogadas é feita sempre pelo trio de zaga e o goleiro Ramirez participando ativamente com a bola nos pés.
A preferência é pelo passe curto e os zagueiros são motivados a vencerem as pressões, seja servindo um companheiro mais à frente, geralmente Pellerano, ou conduzindo a bola para gerar desequilíbrios no adversário. São muito ativos na construção.
Pellerano entra em ação mais contundente quando o time começa a se estabelecer no campo de ataque. É o grande regente. Mesmo com mobilidade reduzida pela idade, se posiciona muito bem para receber a bola e dar prosseguimento rapidamente aos lances. Postura corporal perfeita para isso. Tem o passe excelente e leitura de jogo. Sabe exatamente a hora de cadenciar ou acelerar o ritmo. Chuta bem de longa distância também.
O time ocupa os espaços de forma bem definida. Segue o ataque posicional, quando cada atleta atua em uma faixa específica do campo, e interagem a partir disso. Pellerano tem então dois meias à sua frente, sempre flutuando entre as linhas de meio e defesa do adversário, e infiltrando na área quando a bola vai para os lados do campo, próximo da linha de fundo.
Pelos flancos, os alas dão amplitude, ocupam o corredor bem abertos. No ataque, Montenegro é mais fixo no centro do campo, e Ortiz trabalha do meio para a direita, auxiliando os meias entre as linhas e fazendo movimentos em diagonal do meio para o lado em profundidade.
É bem comum vermos o Del Valle utilizar duas alternativas a esta construção baseada em passes curtos. Uma delas é o passe em profundidade para que os alas ataquem as costas da defesa. A outra é a inversão em diagonal, longa, do zagueiro para o ala do lado contrário. Pellerano também executa esse tipo de passe.
Sem a bola a proposta é subir o bloco de marcação e sufocar as saídas do adversário. Utiliza encaixes e perseguições para isso. Nos momentos de transição defensiva, tenta reagir rápido ao perder a posse.
Pontos Fortes e Fracos
O principal cuidado que o Grêmio deve tomar é com a imposição do time equatoriano jogando em casa. Por mais que seu estádio siga em obras e a partida seja disputada em Quito, os jogadores do Del Valle se sentem bem confortáveis, e a altitude de 2.850m reforça a sensação de sufocamento sentida pelos oponentes.
Essa imposição não se dá somente pelos efeitos da altitude. O Del Valle joga bola! Tem jogadores técnicos, habilidosos, leves, e que entendem perfeitamente o modelo de futebol do clube. Como o Tricolor pode superar isso?
Em primeiro lugar e necessário manejar a velocidade e os nervos do jogo. Desacelerar a partida na casa deles costuma causar ansiedade nos equatorianos. Os erros acabam aumentando e expondo aquilo que o time tem de pior: a transição defensiva e as oscilações de intensidade.
Nem sempre os comandados de Paiva conseguem ter uma boa reação ao perderem a bola. Isso dá margem de contra-ataque aos rivais e expõe bastante o trio de defesa. Passes longos em profundidade também costumam gerar bons resultados. A última linha dos equatorianos não tem uma coordenação tão eficaz. Costuma apresentar espaços entre os defensores e coberturas atrasadas.
Por último, uma atenção especial com duas figuras se faz necessário. Um deles é o já citado Pellerano. Pressioná-lo com afinco pode cortar o circuito de jogadas do Del Valle. O mesmo deve-se fazer com o jovem zagueiro Pacho. Mesmo aos 19 anos ele tem assumido protagonismo na saída de bola. Executa ótimos lançamentos e passes verticais.
Outro fator que pode ajudar o Tricolor é a queda de produção do time nos jogos fora de casa. Isso já era um problema sob o comando de Ramirez e se mantém com Renato Paiva. Até aqui foram seis partidas como visitante na temporada e três derrotas. Sofreu 11 gols fora de seus domínios, quase dois por jogo.
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