Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Atrair para atacar. O funcionamento ofensivo do 3-5-2 do Palmeiras
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Adepto de uma linha com três defensores em muitos momentos da carreira, Abel Ferreira ainda não havia utilizado esse esquema com tanta frequência no Palmeiras. Por mais que faça uma saída sempre com três jogadores, independente da plataforma tática escolhida, a nova formatação do time traz algumas mudanças na hora de criar, e um jogador é determinante nisso.
Se tem algo que caracteriza a forma de trabalhar do técnico português é o poder de adaptação a diferentes cenários. Desde os tempos do Sporting Braga, já mostrou competência montando equipes mais propensas a tomar a iniciativa de atacar ou de jogar mais defensivamente, reagindo em contra-ataques. No próprio Palmeiras isso já apareceu.
Discutir se em determinados jogos o time poderia ter uma postura mais agressiva, como na final da Libertadores e nas semifinais da Copa do Brasil de 2020, por exemplo, é saudável. Mas é inegável o repertório, composto pelas variações de estratégias utilizadas em pouco mais de seis meses de trabalho. Quase sempre com nível alto de competitividade e capacidade de aproveitar debilidades dos adversários.
Em fase ofensiva, o Palmeiras tem buscado atrair os adversários de seus setores para gerar espaços em profundidade. Para isso usa algumas peças-chave. A principal é Luiz Adriano. Com potencial para jogar de costas e qualidade técnica para receber e servir companheiros, ele recua metros e busca o pivô nas costas dos volantes rivais. Escorando a bola para Danilo dar o passe vertical ou ele mesmo fazer o passe em profundidade. A proposta é induzir um dos zagueiros a ''quebrar'' a linha defensiva e liberar espaços de infiltração para Rony, Patrick de Paula ou Raphael Veiga.
Alguns pontos são fundamentais para o funcionamento disso. O primeiro é o passe qualificado saindo dos pés dos zagueiros ou do goleiro. Luan, muito criticado recentemente pelo torcedor alviverde após falhar em momentos decisivos, é o mais qualificado do sistema defensivo para fazer a bola chegar redonda aos pés de Luiz Adriano. A presença de Renan entre os titulares também potencializa esse ''primeiro passe''.
O segundo ponto é a dinâmica de movimentação e a qualidade de Danilo, encostando para receber e acionando os homens mais adiantados ou um dos alas. E o terceiro ponto é a coordenação nesses movimentos. Algo que gerou gols ao time recentemente.
Quando o oponente adianta o bloco de marcação, quem forma essa trinca inicial com Luan e Renan é o goleiro Weverton, e aí Gustavo Gómez se adianta, se alinha a Danilo. Um movimento pouco visto em zagueiros no futebol brasileiro, mas determinante para seguir o preceito: ''atrair para liberar e atacar espaços''.
Com o paraguaio alinhado a Danilo, a linha de meio adversária ou um dos volantes tem a tendência de subir a marcação, liberando lacunas justamente para Luiz Adriano se colocar e receber a bola. Há também a alternativa do passe direto para o ''fundo'' do campo, explorando a velocidade de Rony e a capacidade de Patrick de Paula e Raphael Veiga atacando a área.
Logicamente que a estratégia não pode ser só baseada nessa variação de jogadas. Há um potencial grande para pressionar logo após a perda da bola no campo de ataque ou adiantar o bloco de marcação em fase defensiva. É preciso se despir de preconceitos, dogmas e frases prontas. Jogar com três zagueiros não significa ter um time defensivo.
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