Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Pedir Tite fora da seleção é coisa de ''negacionista da bola''
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Por mais que a afirmação do título da coluna dê a entender o contrário, o texto não tem a pretensão de estabelecer uma verdade absoluta ou mostrar um viés antidemocrático. Todas as opiniões, desde que não carreguem conteúdo criminoso ou discriminatório, são válidas na sociedade plural em que vivemos. Mas algumas delas, como pedir a cabeça de Tite no comando técnico da seleção, se distanciam de qualquer fundamentação minimamente razoável.
Há muitos anos, o Brasil não tinha um profissional tão capacitado e merecedor, quando foi contratado, para ocupar o cargo mais '' cornetado'' do país. Tite não é o melhor técnico do mundo e nem inquestionável. Podemos enumerar alguns pontos de discordância nas escalações, convocações e posicionamentos, mas há quanto tempo um treinador da seleção não buscava ser tão esclarecedor e coerente em suas ações e justificativas?
A vitória sobre o Paraguai, em Assunção, foi a 40ª em 54 jogos da Era Tite. No mesmo período, o Brasil foi derrotado apenas quatro vezes, só uma delas em competições oficiais, a fatídica eliminação para a Bélgica no último Mundial. Números que revelam a quantidade necessária de resultados positivos num ambiente de tanta pressão, e que dão o respaldo e a certeza de que a continuidade pode render frutos. Se não a conquista da próxima Copa do Mundo, a formação de um time e o desenvolvimento dos principais jogadores disponíveis para vestir a ''amarelinha''.
O Brasil tem uma equipe com padrões bem nítidos e variações igualmente claras, seja em esquemas táticos adotados ou na forma de atacar. Particularmente não concordo com a estrutura mais ''posicional'' adotada desde o amistoso contra a Rússia, antes da Copa do Mundo de 2018. A cultura dos jogadores de meio e ataque no Brasil ainda não é a de ocupar o espaço e esperar a chegada da bola no setor. De lá pra cá esse modelo sofreu adaptações e algumas melhorias, mas ainda é possível tirar mais de algumas peças.
A questão, porém, é entender que o universo de uma seleção é totalmente diferente de um clube. Se por um lado há mais qualidade disponível e o poder de escolher os melhores, por outro a rotina de poucos dias de treinamento e jogos espaçados dificulta o fortalecimento coletivo. A formação de um padrão de jogo que possa ser aprimorado nas competições oficiais. Por isso o trabalho de Tite é louvável. São poucas as seleções com essa condição. E o Brasil é uma delas.
Mesmo com as oscilações naturais diante do cenário descrito, o time segue dando respostas. Umas mais contundentes, outras nem tanto. O que não podemos perder de vista é a qualidade e a seriedade do trabalho que vem sendo desenvolvido. Questionar Tite é saudável e muitas vezes necessário. Querer trocá-lo por quem debocha do conhecimento e da preparação é rejeitar uma verdade desconfortável, manifestando um caráter radical e controverso. O dia em que Tite sair, alguém melhor do que ele precisa assumir. E no Brasil, neste momento, não há nem quem esteja no mesmo nível.
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