Topo

Rodrigo Coutinho

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Marquinhos relembra foco do Juventude e reconhece 'ajuda' de Abel Ferreira

Colunista do UOL

11/09/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Juventude começou a Série A como um dos candidatos ao rebaixamento. Foram 14 anos longe da elite do futebol brasileiro e um orçamento que não permitia grandes contratações. A equipe, porém, mudou essa impressão inicial. Vem enfileirando boas atuações e dificultando jogos para equipes de maior poder aquisitivo. Conseguiu melhorar elenco, lidar bem com a saída do artilheiro Matheus Peixoto, e ocupa a 13ª colocação. Está no ''bolo'' que briga por algo melhor na competição.

Um dos grandes responsáveis por isso é o técnico Marquinhos Santos. Aos 42 anos e em sua segunda passagem pelo clube de Caxias do Sul, ele conversou com a coluna e reafirmou que a luta do ''Ju'' segue sendo pela permanência, mesmo com a melhora nos últimos dois meses. Abordou também aspectos importantes no cotidiano do futebol brasileiro e a ''mãozinha'' que recebeu de Abel Ferreira num momento complicado da temporada.

Com o desempenho que o Juventude vem apresentando, o campeonato do time segue sendo se manter na Série A ou dá pra sonhar com algo maior?

MS: A performance vem evoluindo e sendo satisfatória, a projeção é positiva, mas o objetivo não pode ser diferente. O foco é a permanência! Mesmo com as boas atuações, isso não foi alterado.

Hoje o Juventude está no ''meio do caminho'' entre o G6 e a zona de rebaixamento. Como fazer para que os jogadores não percam o foco do real objetivo do clube no campeonato?

MS: Temos uma forma de abordar que diz o seguinte: o que vale é a distância entre a nossa pontuação e o objetivo traçado. Entre o Juventude e a zona de rebaixamento há menos equipes do que entre o nosso time e a Libertadores. Então o pensamento não pode mudar. É preciso manter os pés no chão para colocar mais equipes entre nós e a zona de rebaixamento.

No início do campeonato, você garantiu uma equipe que não ficaria somente na defesa e isso acontece. Como fazer os jogadores entenderem que é possível jogar bem de formas diferentes?

MS: É um trabalho gradativo. O modelo de jogo daquilo que penso, gosto e aplico nas equipes que comando foi trabalhado desde o Estadual. A chegada de reforços para o Brasileirão qualificou o elenco e proporcionou isso. Mesmo com um plantel mais enxuto e menos investimento, podemos jogar de igual para igual. Quando colocamos em prática nos jogos aquilo que vem sendo treinado, o atleta enxerga a possibilidade de apresentar sempre um bom futebol. Aplico o ''jogo de posição'' na equipe e os jogadores estão respondendo bem. Tivemos derrotas, mas sempre jogando. Isso motiva a executar o que está sendo passado.

01 - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Abel Ferreira, do Palmeiras, interrompe coletiva de Marquinhos Santos e parabeniza técnico do Juventude
Imagem: Reprodução/Twitter

Após a derrota para o Palmeiras na 4ª rodada, havia muita pressão para que você fosse demitido. O time ainda não tinha vencido na competição. Uma declaração do Abel Ferreira, técnico do adversário, elogiando muito o seu trabalho depois do jogo chamou a atenção. Acha que aquilo ajudou a mantê-lo no cargo?

MS: Foram duas situações. Primeiro a eliminação da Copa do Brasil para o Vila Nova, que nos fez carregar um peso muito grande, e depois a eliminação do Estadual. Mesmo chegando entre os quatro primeiros e vencendo o primeiro jogo contra o Internacional, fomos eliminados na sequência. A declaração dele teve um peso muito grande naquele momento. É o treinador mais vitorioso do futebol brasileiro na última temporada. Mas o que achei determinante mesmo foi a condução do presidente Walter Dal Zotto e do vice de futebol, Osvaldo Pioner. Mesmo internamente havia o pedido pela troca, o que é natural, mas ter a continuidade foi determinante para alcançar o nível de hoje.

Acha que o debate sobre futebol no Brasil, por parte da imprensa, ainda é pobre, e isso influencia nas demissões dos treinadores?

MS: Acredito que não. Tenho acompanhado um processo evolutivo por parte de muita gente da imprensa. Não só na internet, mas nas TVs também. Há profissionais se qualificando e fazendo avaliações bem fiéis ao que acontece. É necessário, sim, falar da parte tática. Antes se falava muito de outros aspectos. Acho que isso tem a ver também com a chegada dos técnicos estrangeiros no cenário nacional. Hoje se fala muito mais de tática do que há dez anos.

Como enxerga as críticas ao jogo de posição? Falam que ele deixa as equipes engessadas. O que leva a essa interpretação?

MS: Eu acho que se faz uma leitura pelo comportamento dos ''extremos'', de esperar a bola no pé, bem abertos, fazendo um jogo de amplitude. O jogador brasileiro e a leitura mais geral se dá no enfrentamento do jogo de 1x1, naquele jogo de liberdade. Talvez venha daí o estranhamento. Mas o jogo de posição nada mais é do que você saber extrair o melhor da característica de cada jogador. Fazer com que ele consiga jogar numa faixa de campo mais próxima do gol e não tenha uma entrega física que prejudique o seu futebol. Não precisa ficar correndo atrás da bola. Ela chega no posicionamento necessário para o atleta jogar. Dentro disso, é necessário entendê-los. No meu ponto de vista, foi isso que aconteceu com o Miguel Angel Ramirez no Internacional. Ele vinha desenvolvendo bem o trabalho, mas por alterar as características de alguns atletas acabou tendo essa turbulência. Merecia continuidade pelo que vinha apresentando como proposta. Se faz uma leitura que no jogo de posição os atletas têm pouca liberdade para jogar soltos, mas não, pelo contrário, é saber aproveitar o melhor de cada um dentro das características. Talvez tenha faltado ao Miguel e ao Doménec Torrent entender um pouco mais o futebol brasileiro.

Como lidou com a saída do Matheus Peixoto, que era muito influente na equipe, e a chegada do Ricardo Bueno?

MS: O Peixoto evoluiu muito! A gente acreditou nele. Ele vinha de uma Série B pela Ponte Preta em que terminou no banco, mas entendemos que seria necessário e importante. Ele também entendeu muito bem o jogo de posição. Até lá na Ucrânia tem tido um início muito bom. Creio que tenha levado muito do que trabalhamos com ele aqui. A chegada do Bueno preenche justamente isso. Foi meu atleta no São Bento, na Série B, e sabia que ele poderia exercer essa função. Temos também o Roberson aqui, que é um jogador inteligente, técnico e tático, mas diferente em característica. O Bueno preenche o entendimento do jogo de posição sendo um ''9 flutuante''. Diferente do Matheus Peixoto, que ficava um pouco mais fixo. Não muda muito dentro daquilo que eu penso. A bola chega num setor do campo onde as duas características se encaixam bem.

02 - Fernando Alves/ECJuventude - Fernando Alves/ECJuventude
Guilherme Castilho carrega a bola durante o jogo entre Cuiabá e Juventude
Imagem: Fernando Alves/ECJuventude

Jogadores como Paulinho Boia, Guilherme Castilho e Vitor Mendes fazem sucesso e pertencem a clubes grandes. Como vem sendo trabalhar com eles?

MS: São jogadores que vêm de equipes grandes no cenário nacional, mas não tiveram tanto espaço lá. É o perfil do nosso elenco. A maioria é feita de atletas que busca espaço no mercado nacional. Seja numa primeira Série A, como é o caso do Vitor e do Castilho, mas também de jogadores mais rodados, como Michel Macedo, Matheus Jesus, Forster, Wescley... Perderam espaço nas equipes anteriores, mas trouxemos de maneira muito criteriosa. Não só pelo futebol, mas também pelo que são como pessoas. Conseguimos formar um time competitivo. É bacana fazer essa mescla entre jogadores novos e experientes. Temos Wagner e Élton por exemplo. Eles me passam coisas importantes e agrego no plano tático para a carreira deles. Vejo brilho no olhar em todos.

Como foi o processo de chegada dos jogadores entre o final do Gauchão e o início do Brasileirão?

MS: É um trabalho muito em conjunto com a diretoria. Semanalmente avaliando jogadores e encaixando nomes naquilo que eu penso como características para o modelo de jogo. Foi algo criterioso e pensado com o Marcelo Barbarotti, que é o executivo de futebol do clube, e o Pioner. Nossa análise de desempenho e a análise de mercado, recém-criada aqui no clube, ajudaram a minimizar os erros.