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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Inter retoma modelo que deu certo e começa a se impor novamente

Colunista do UOL

02/10/2021 04h00

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O Internacional talvez tenha sido o clube brasileiro que mais passou por transformações em sua forma de jogar nos últimos anos. Teve Odair Hellmann e Abel Braga com organizações parecidas de equipe, Miguel Ángel Ramirez e o ''jogo de posição'' que não teve continuidade, e Eduardo Coudet, diferente dos três profissionais citados. Tudo isso num intervalo de menos de 24 meses. Com Diego Aguirre, o Colorado tem o retorno de uma proposta bem-sucedida recentemente no clube, e isso começa a dar resultados.

São oito jogos de invencibilidade na temporada, todos eles pelo Brasileirão, a única competição que restou depois das eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores, esta última já com Aguirre no comando. São pouco mais de três meses e 18 jogos nesta passagem do uruguaio. Um profissional que atuou como atleta no Inter e que já havia tido um trabalho de sucesso como treinador colorado em 2015. Foi campeão gaúcho e semifinalista da Libertadores.

Muito se falou que o time jogaria somente nos contra-ataques ou em ligações diretas com Aguirre, mas avaliar o modelo de jogo implementado pelo treinador desta forma é um erro. Em dez dos 18 jogos sob o comando do uruguaio, o Colorado teve mais a bola que o adversário. Alterna as estratégias e apresenta padrões em fase ofensiva bem diferentes de um ''jogo direto'', de apenas passes longos endereçados ao terço final do campo.

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Diego Aguirre, técnico do Inter, tem aproveitamento de pontos de vaga direta na Libertadores, 53%
Imagem: Ricardo Duarte/Inter

O Internacional tem como base um meio-campo de imposição física e melhorou muito o sistema defensivo. Talvez isso gere a sensação de ser um time voltado apenas aos contra-ataques. Um outro detalhe é a dificuldade para gerar interações naturais e ter coordenação nos movimentos dos jogadores nas proximidades da área adversária, principalmente quando o sistema defensivo rival está fechado e o oponente marcando mais recuado.

Este é um problema recorrente dos times de Aguirre e algo que precisa de fato melhorar, mas não quer dizer que não há uma organização prévia ao entrar em fase ofensiva. É nítido que os laterais dão sempre amplitude no campo de ataque e uma saída de bola com três jogadores alinhados é utilizada. Dourado ou Lindoso, um dos volantes, se fixa entre os zagueiros para iniciar a construção.

Edenilson e Patrick, os ''pontas'' do 4-2-3-1 que é utilizado com mais frequência, flutuam para o centro, se aproximam de Taison, enquanto o volante que não faz a saída entre os zagueiros, se coloca à frente do trio inicial para receber a bola e distribuir. As regiões de movimentação desses jogadores mais ofensivos é que precisa ser definida de forma mais nítida para que a bola circule com fluência e oportunidades sejam criadas a partir de lances assim.

A própria utilização de Patrick e Edenilson se mexendo de ''fora pra dentro'' no campo já é um indício do volume e da intensidade que Aguirre quer. Ele busca a imposição, mesmo sem um jogo tão elaborado muitas vezes, mas com capacidade para vencer os duelos no meio-campo, as ''segundas bolas'', retomar a posse rapidamente e resolver logo as jogadas. Yuri Alberto é outro nome que acrescenta nisso. É bom tecnicamente, inteligente para se mover, mas é mais um jogador intenso atacando a última linha de defesa rival.

02 - PEDRO H. TESCH/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - PEDRO H. TESCH/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Edenilson comemora um de seus nove gols no Brasieirão, é o artilheiro da competição
Imagem: PEDRO H. TESCH/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Taison seria o toque de maior qualidade ofensiva ao lado de Edenilson. É o meia-central da equipe e possui liberdade de circulação por dentro. Quando conseguir uma sequência de jogos sem lesão e evoluir fisicamente pode melhorar o aspecto criativo. Ainda há a possibilidade da entrada de Guerrero no time, fazendo com que Edenilson recue e jogue na sua função de origem.

Em jogos diante de adversários mais poderosos tecnicamente, principalmente fora de casa, o Colorado adota uma estratégia reativa, explora os contra-ataques. O miolo de zaga evoluiu demais com a chegada de Bruno Mendez. Protege a área com muito mais eficiência do que Zé Gabriel e Lucas Ribeiro, que eram utilizados como titulares ao lado de Victor Cuesta anteriormente.

Saravia dá segurança ao lado direito. Lindoso e Dourado formam um bloco à frente da linha defensiva, e é impossível não falar novamente da capacidade de Edenílson e Patrick para marcar e puxar transições. Mesmo com o segundo em fase técnica questionável, é difícil imaginá-lo muito tempo fora da equipe.

Com a cara de Diego Aguirre o Inter vai se destacando no bloco intermediário do Brasileirão e repetindo uma receita que levou o clube de volta ao topo das classificações nacionais nos últimos anos. É totalmente diferente da proposta inicial de 2021. Seria uma correção de rumo nas ideias ou algo momentâneo e a necessidade de obter resultados?