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Coutinho: Forte nas duas áreas, Botafogo dobra aproveitamento na Série B
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O que parecia ser mais um ano de decepções e a representação de outra temporada no calvário da Série B, se transformou em esperança. O Botafogo superou o péssimo início de competição e está bem perto de voltar para a Série A. O percentual de pontos que era de postulante ao rebaixamento virou de um time campeão desde que Enderson Moreira assumiu o comando.
Somada à busca para colocar a casa em ordem na vida financeira por parte da diretoria, a melhora tática, técnica e comportamental em campo são alicerçadas em alguns nomes que formam uma espécie de espinha dorsal da equipe. Joel Carli, Kanu, Chay e Rafael Navarro são as ferramentas de um Glorioso muito mais competitivo em relação aos primeiros meses de 2021.
Não é que não havia padrões de organização com Marcelo Chamusca. O time tinha ideias e proposta de jogo, mas o ex-treinador não conseguia tirar dos atletas uma execução mais regular e, principalmente, intensa. O Alvinegro era um time sem ''pegada''. Lento na circulação da bola, permissivo na abordagem de marcação, e com muitas falhas no sistema defensivo. Não controlava os jogos.
Time "adaptável" e solidez defensiva
Enderson aumentou a qualidade do trabalho e o Botafogo passou a ter condições de superar os rivais de formas diferentes. Apresenta padrões para jogar com ou sem a bola. Não faz tanta questão de ter a posse. É apenas o 12º time em média de retenção de bola no Brasileirão da Série B. Muitas vezes, deixa o adversário tomar a iniciativa para explorar a velocidade dos quatro homens mais ofensivos.
Chay é a referência técnica. Tem potencial de articulação, pega bem na bola, fez oito gols e deu sete assistências nesta Série B, mas também é um jogador que sabe atacar espaços e ser acionado em transições, além de conduzir bem em velocidade. Rafael Navarro é um centroavante de mobilidade e potência física. Diego Gonçalves, Warley e Marco Antônio, os pontas que mais são escalados, são velozes e agressivos.
Contra-atacar com eficiência exige ter a defesa sólida para que a ''primeira parte'' da estratégia de jogo reativo, quando esta é adotada, dê certo. Marcando quase sempre em bloco médio ou baixo, e em zona, o Botafogo consegue ter o melhor de Joel Carli, por exemplo. Zagueiro lento e sem tantos recursos técnicos com a bola, mas de excelente posicionamento, bola aérea, firmeza nos combates e interceptações. Ao seu lado, Kanu recuperou a regularidade.
Carli, que é o 1º colocado em vitórias de duelos defensivos nesta Série B, com 76% de êxito, ainda acrescenta hierarquicamente no cotidiano do clube. É um líder nato pela sua postura e histórico recente no Botafogo. Foi titular no bom time que o Glorioso teve entre 2016 e 2017. Fez o gol nos acréscimos da final do título estadual em 2018. Levou a decisão para os pênaltis contra o Vasco.
À frente da defesa, Barreto é o volante que dá mais força ao sistema de marcação e Luis Oyama e Pedro Castro se revezam ao seu lado. O Botafogo é o terceiro time que menos sofre finalizações nesta Série B, o que acaba compensando a ausência de um goleiro mais confiável com as ''eternas ausências'' por lesão de Gatito Fernandez e Diego Cavalieri.
Papeis bem definidos ao atacar
Se ter a bola durante muito tempo não é a principal característica do Botafogo, também não há motivos para não buscar uma organização coletiva bem elaborada neste momento. Afinal de contas, pela camisa pesada do clube na Série B e a necessidade diante de equipes inferiores dentro do estádio Nilton Santos, é necessário ter uma fase ofensiva trabalhada em conceitos claros.
Daniel Borges, que tem um bom poder de construção para o nível da Série B e já jogou como meia em outros momentos da carreira, faz a saída de três alinhado aos zagueiros. Desta forma, Carli, que não possui tanta eficiência nos passes verticais, fica centralizado, e Kanu e Daniel são mais ativos para circular a bola na iniciação dos ataques. O lateral-esquerdo: Hugo, Carlinhos ou Jonathan Silva, tem total liberdade para atacar a última linha de defesa adversária.
Como Daniel trabalha a saída junto aos zagueiros e, num segundo momento, ataca por dentro, Warley dá amplitude pela direita. Pelo meio, Rafael Navarro é a referência, e ganha a companhia de Chay e Diego Gonçalves. O primeiro ataca quase sempre o espaço entre o zagueiro pela esquerda e o lateral-esquerdo adversário. E o segundo faz o mesmo entre o zagueiro pela direita e o lateral-direito oponente.
A proposta então é abrir a linha defensiva do time adversário com Warley e o lateral-esquerdo espetados pelos flancos, e criar espaços entre os elementos desta linha para que sejam aproveitados por Diego, Chay e Navarro. Essas interações têm funcionado em virtude de uma circulação de bola mais rápida desde a origem das jogadas, e movimentos intensos para se desmarcar, algo que não acontecia antes.
Os volantes ficam na ''base'' da jogada, por trás da linha da bola, garantindo segurança nas transições defensivas. Pedro Castro ainda infiltra mais em relação a Oyama, uma questão de característica entre eles. Quando o adversário sobe a marcação, o Alvinegro utiliza bastante os passes longos em profundidade para os pontas ou Chay atacarem o espaço por trás da defesa oponente, ou tenta o ganho da ''primeira bola'' pelo alto com Rafael Navarro.
Enderson em busca do tri e cabeça no lugar para 2022
O técnico do Botafogo pode chegar a sua terceira conquista de Série B na carreira, todas em menos de dez anos. Ganhou em 2012 com o Goiás e em 2017 com o América Mineiro. Precisa tirar dois pontos de diferença para o líder Coritiba e manter a batida para não ter nenhuma surpresa desagradável nas últimas seis rodadas.
Nos jogos que tem pela frente chama a atenção o clássico contra o Vasco, em São Januário. O Cruzmaltino ainda busca uma vaga no G4 e, certamente, vai fazer um jogo de posse, instalado no campo de ataque contra o Botafogo. Confiança e Ponte Preta são adversários que lutam contra o rebaixamento. Operário e Brasil de Pelotas já deverão estar com seus destinos traçados quando chegar o confronto. E o Guarani, na última rodada, é outro que sonha com o acesso.
Seja qual for a posição final do Botafogo na Série B, se o acesso for de fato consumado, é necessário seguir pensando em recuperar a vida financeira do clube de forma gradativa e responsável. Um time melhor em 2022 é a lógica, mas pensar que tipo de futebol o clube pode e quer jogar é fundamental.
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