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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Forte nas duas áreas, Botafogo dobra aproveitamento na Série B

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O que parecia ser mais um ano de decepções e a representação de outra temporada no calvário da Série B, se transformou em esperança. O Botafogo superou o péssimo início de competição e está bem perto de voltar para a Série A. O percentual de pontos que era de postulante ao rebaixamento virou de um time campeão desde que Enderson Moreira assumiu o comando.

Somada à busca para colocar a casa em ordem na vida financeira por parte da diretoria, a melhora tática, técnica e comportamental em campo são alicerçadas em alguns nomes que formam uma espécie de espinha dorsal da equipe. Joel Carli, Kanu, Chay e Rafael Navarro são as ferramentas de um Glorioso muito mais competitivo em relação aos primeiros meses de 2021.

Não é que não havia padrões de organização com Marcelo Chamusca. O time tinha ideias e proposta de jogo, mas o ex-treinador não conseguia tirar dos atletas uma execução mais regular e, principalmente, intensa. O Alvinegro era um time sem ''pegada''. Lento na circulação da bola, permissivo na abordagem de marcação, e com muitas falhas no sistema defensivo. Não controlava os jogos.

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Sem Enderson, o Botafogo sofria mais gols do que fazia e tinha aproveitamento de 16º colocado. Hoje sofre poucos gols e seria o líder com esse aproveitamento
Imagem: Rodrigo Coutinho

Time "adaptável" e solidez defensiva

Enderson aumentou a qualidade do trabalho e o Botafogo passou a ter condições de superar os rivais de formas diferentes. Apresenta padrões para jogar com ou sem a bola. Não faz tanta questão de ter a posse. É apenas o 12º time em média de retenção de bola no Brasileirão da Série B. Muitas vezes, deixa o adversário tomar a iniciativa para explorar a velocidade dos quatro homens mais ofensivos.

Chay é a referência técnica. Tem potencial de articulação, pega bem na bola, fez oito gols e deu sete assistências nesta Série B, mas também é um jogador que sabe atacar espaços e ser acionado em transições, além de conduzir bem em velocidade. Rafael Navarro é um centroavante de mobilidade e potência física. Diego Gonçalves, Warley e Marco Antônio, os pontas que mais são escalados, são velozes e agressivos.

Contra-atacar com eficiência exige ter a defesa sólida para que a ''primeira parte'' da estratégia de jogo reativo, quando esta é adotada, dê certo. Marcando quase sempre em bloco médio ou baixo, e em zona, o Botafogo consegue ter o melhor de Joel Carli, por exemplo. Zagueiro lento e sem tantos recursos técnicos com a bola, mas de excelente posicionamento, bola aérea, firmeza nos combates e interceptações. Ao seu lado, Kanu recuperou a regularidade.

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Duas linhas de quatro e compactação marcando em bloco baixo em fase defensiva
Imagem: Rodrigo Coutinho

Carli, que é o 1º colocado em vitórias de duelos defensivos nesta Série B, com 76% de êxito, ainda acrescenta hierarquicamente no cotidiano do clube. É um líder nato pela sua postura e histórico recente no Botafogo. Foi titular no bom time que o Glorioso teve entre 2016 e 2017. Fez o gol nos acréscimos da final do título estadual em 2018. Levou a decisão para os pênaltis contra o Vasco.

À frente da defesa, Barreto é o volante que dá mais força ao sistema de marcação e Luis Oyama e Pedro Castro se revezam ao seu lado. O Botafogo é o terceiro time que menos sofre finalizações nesta Série B, o que acaba compensando a ausência de um goleiro mais confiável com as ''eternas ausências'' por lesão de Gatito Fernandez e Diego Cavalieri.

Papeis bem definidos ao atacar

Se ter a bola durante muito tempo não é a principal característica do Botafogo, também não há motivos para não buscar uma organização coletiva bem elaborada neste momento. Afinal de contas, pela camisa pesada do clube na Série B e a necessidade diante de equipes inferiores dentro do estádio Nilton Santos, é necessário ter uma fase ofensiva trabalhada em conceitos claros.

Daniel Borges, que tem um bom poder de construção para o nível da Série B e já jogou como meia em outros momentos da carreira, faz a saída de três alinhado aos zagueiros. Desta forma, Carli, que não possui tanta eficiência nos passes verticais, fica centralizado, e Kanu e Daniel são mais ativos para circular a bola na iniciação dos ataques. O lateral-esquerdo: Hugo, Carlinhos ou Jonathan Silva, tem total liberdade para atacar a última linha de defesa adversária.

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Estrutura de saída de bola em 3-2 utilizada pelo Botafogo. Daniel Borges alinhado aos zagueiros e volantes próximos logo a frente
Imagem: Rodrigo Coutinho

Como Daniel trabalha a saída junto aos zagueiros e, num segundo momento, ataca por dentro, Warley dá amplitude pela direita. Pelo meio, Rafael Navarro é a referência, e ganha a companhia de Chay e Diego Gonçalves. O primeiro ataca quase sempre o espaço entre o zagueiro pela esquerda e o lateral-esquerdo adversário. E o segundo faz o mesmo entre o zagueiro pela direita e o lateral-direito oponente.

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Aqui percebemos bem a diferença de ocupação de espaços e movimentação entre os laterais. Daniel atacando por dentro e Carlinhos bem aberto e projetado. Warley dá amplitude pela direita
Imagem: Rodrigo Coutinho

A proposta então é abrir a linha defensiva do time adversário com Warley e o lateral-esquerdo espetados pelos flancos, e criar espaços entre os elementos desta linha para que sejam aproveitados por Diego, Chay e Navarro. Essas interações têm funcionado em virtude de uma circulação de bola mais rápida desde a origem das jogadas, e movimentos intensos para se desmarcar, algo que não acontecia antes.

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Cinco jogadores bem projetados na última linha adversária é o que busca o Botafogo em fase ofensiva
Imagem: Rodrigo Coutinho

Os volantes ficam na ''base'' da jogada, por trás da linha da bola, garantindo segurança nas transições defensivas. Pedro Castro ainda infiltra mais em relação a Oyama, uma questão de característica entre eles. Quando o adversário sobe a marcação, o Alvinegro utiliza bastante os passes longos em profundidade para os pontas ou Chay atacarem o espaço por trás da defesa oponente, ou tenta o ganho da ''primeira bola'' pelo alto com Rafael Navarro.

Enderson em busca do tri e cabeça no lugar para 2022

O técnico do Botafogo pode chegar a sua terceira conquista de Série B na carreira, todas em menos de dez anos. Ganhou em 2012 com o Goiás e em 2017 com o América Mineiro. Precisa tirar dois pontos de diferença para o líder Coritiba e manter a batida para não ter nenhuma surpresa desagradável nas últimas seis rodadas.

Nos jogos que tem pela frente chama a atenção o clássico contra o Vasco, em São Januário. O Cruzmaltino ainda busca uma vaga no G4 e, certamente, vai fazer um jogo de posse, instalado no campo de ataque contra o Botafogo. Confiança e Ponte Preta são adversários que lutam contra o rebaixamento. Operário e Brasil de Pelotas já deverão estar com seus destinos traçados quando chegar o confronto. E o Guarani, na última rodada, é outro que sonha com o acesso.

Seja qual for a posição final do Botafogo na Série B, se o acesso for de fato consumado, é necessário seguir pensando em recuperar a vida financeira do clube de forma gradativa e responsável. Um time melhor em 2022 é a lógica, mas pensar que tipo de futebol o clube pode e quer jogar é fundamental.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, o Botafogo não enfrenta o Vila Nova no restante da Série, mas sim o Operário. O erro foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL