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Coutinho: Paulo Sousa terá tempo e paz para mostrar que é bom?
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A novela de maior audiência desta janela de transferências vive seus últimos capítulos. O Flamengo está perto de anunciar o técnico português Paulo Sousa, que atualmente dirige a seleção polonesa. O treinador tem potencial para fazer um bom trabalho e tirar o esperado do estrelado elenco rubro-negro, mas tudo o que cercou sua contratação pode criar um ambiente de cobranças ainda mais esquizofrênicas que o normal no clube.
Jorge Jesus é um dos grandes ídolos da história do Flamengo! Não há exagero nenhum nesta frase! Tudo o que fez em 2019 e 2020, somado ao carisma e identificação com os torcedores rubro-negros, o elevam a um patamar quase que inalcançável por outro treinador no Mais Querido. A negociação frustrada com ele foi péssima para Paulo Sousa. Se poderiam esperar alguns dias pelo Mister ou não, Marcos Braz e Bruno Spindel criaram uma armadilha perigosa.
Durante alguns dias a torcida do Flamengo alimentou a esperança de ter seu ''objeto'' de cobiça de volta, mas verá o time ser dirigido por um nome que ainda busca mais holofotes no futebol internacional. Não se trata de diminuir Paulo Sousa. Como veremos abaixo, suas equipes possuem padrões interessantes e ele têm chances de funcionar no rubro-negro. Mas viverá uma situação totalmente nova em sua carreira.
Pela primeira vez Paulo terá nas mãos o ''puro suco'' de talento disponível em um continente. Suas experiências como protagonista vieram apenas em âmbito nacional, e em centros totalmente diferentes do Brasil. Foi dominante na Suíça, com o FC Basel, em 2014/2015, sendo campeão local e chegando às oitavas da Champions League. E com o Maccabi Tel-Aviv, de Israel, em 2013/2014, onde foi campeão do país novamente.
Aqui não vai uma avaliação apenas pelo currículo de conquistas. É necessário observar os conceitos de suas equipes e o contexto em que cada uma delas esteve inserida, como ''o blog'' se dedicou nesta semana, mas a primeira coisa a entender ao chegar no Flamengo é ter noção do tamanho da responsabilidade, da cobrança, e do nível hierárquico do vestiário, outra novidade em relação ao restante de sua carreira.
Paulo Sousa foi um atleta de destaque no futebol lusitano. Começou no Benfica, passou pelo Sporting, jogou duas temporadas na Juventus, no Borussia Dortmund, três na Internazionale e ainda vestiu as camisas de Parma, Panathinaikos e Espanyol. Com a seleção portuguesa, disputou duas Euros e uma Copa do Mundo. Tem lastro suficiente para entender o cenário descrito acima.
O grande problema é sobreviver à sombra de Jorge Jesus, principalmente com a iminente saída do Mister do Benfica daqui a cinco meses. Dar respaldo e confiar nos processos de montagem de um trabalho não é o forte desta diretoria do Flamengo. Certamente Braz e Spindel não contrataram Paulo Sousa pensando naquilo que poderia oferecer taticamente ao time ou como se inseriria no ambiente do clube. Quando trouxeram Jorge Jesus em 2019 também não foi assim.
O histórico recente com Domènec Torrent e Rogério Ceni não ajuda. Ambos foram fritados e boicotados por boa parte do elenco sob olhares passivos dos dirigentes rubro-negros. Teriam os atletas do clube aprendido algo com o caótico trabalho feito por Renato Gaúcho? Afinal de contas, um perfil de menos cobrança e ''amigo'' do grupo foi pedido, mas sabe-se que o futebol precisa de mais do que isso, principalmente um time com a qualidade do Flamengo.
Estilo de Paulo Sousa
Assim como Domènec, o treinador de 51 anos é adepto do jogo de posição, mas as semelhanças param por aí. Há diferenças importantes de ritmo entre as equipes de Paulo Sousa e Domènec. O comandante português exige bastante fisicamente. Seus times costumam ser intensos e rápidos na circulação da bola. Reagem rápido ao perder a posse e fazem boas transições.
Ele variou bastante os esquemas táticos usados ao longo da carreira iniciada em 2008, mas recentemente vem utilizando uma linha com três atrás, dois alas bem espetados no ataque, e alternado o desenho do meio e do ataque. Por vezes uma trinca por trás de dois atacantes. Em outros momentos dois volantes e um meia central mais à frente, se aproximando de uma dupla de ataque. Ou o meio em quadrado: dois volantes e dois meias, por trás de um homem de área.
Paulo faz essas variações em cima das características dos jogadores. É menos irredutível em relação a Dome nesse aspecto. Cada jogador ocupa um espaço no gramado e a partir dali geram as interações entre eles, seja com trocas de passes curtos ou passes mais longos. Alguns atletas tiveram dificuldades de adaptação com o catalão neste modelo. Os movimentos são bem coordenados para gerar as linhas de passe.
Há clara preocupação em manter alguns aspectos para a bola circular. Amplitude nos dois lados do campo, opção de passe nas costas dos volantes adversários, profundidade para gerar presença de área, opção de passe de ''retorno'' com os volantes para mudar rapidamente o jogo de lado. O zagueiro do lado em que a jogada se desenvolve tem liberdade para apoiar e gerar superioridade como ''homem-surpresa'' seguidamente.
Paulo sempre prezou um time que fique mais com a bola. Em alguns momentos da carreira isso não foi possível por não ter tanta capacidade de protagonismo, mas no Flamengo certamente desenvolverá essa proposta em todos os jogos. Outra característica é a adoção muitas vezes de ''esquemas híbridos''. Transforma um lateral em ''zagueiro'' no momento ofensivo, mas se defende com linha de quatro atrás.
Na parte defensiva, desperta comportamentos de pressão mais intensa na bola em relação ao que estamos habituados a ver no Brasil, mas isso é algo que depende muito do poder de persuasão juntos aos jogadores. Em alguns trabalhos não funcionou tão bem. Marca bastante com encaixes e perseguições apenas dentro do setor, sem fazer com que o jogador se afaste e deixe espaços.
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