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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Godín é gigante, mas não pode ser reposição a Alonso no Galo

Colunista do UOL

14/01/2022 04h00

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Diego Godín é mais um grande jogador sul-americano prestes a ser trazido de volta ao continente pelo Atlético Mineiro. Um dos principais defensores uruguaios da história, ''El Faraon'' assina contrato com o Galo até dezembro. Pode acrescentar muito, mas se engana quem pensa que se trata de um substituto para Junior Alonso. São zagueiros bem diferentes.

O paraguaio foi negociado com o Krasnodar, da Rússia, por incríveis R$ 42 milhões. Uma venda inevitável, mas que acabou desfalcando uma característica importante que ele oferecia ao time: a saída de bola qualificada com passes verticais e a capacidade de condução da pelota para começar a construção ofensiva. Godín não tem isso.

Não que seja um zagueiro meramente rebatedor ou limitado tecnicamente. Mas entre as muitas características positivas do novo camisa 3 do Atlético, não está a aptidão para iniciar as jogadas ofensivas com desenvoltura. Como o Alvinegro está entre as principais equipes do continente, é necessário ter homens com tais valências desde o primeiro passe.

A situação pode se agravar ao constatar que Nathan Silva, excelente zagueiro, que será o provável companheiro de Godín, também não possui proximidade com o nível que Junior Alonso oferecia neste sentido. Fez diversos jogos como volante na carreira, mas suas qualidades como defensor chamam muito mais atenção.

Outro ponto é a parte física. Godín teve uma rotina de jogos muito diferente no Cagliari da que, provavelmente, enfrentará no futebol brasileiro na atual temporada. Completa 36 anos em fevereiro e não chegou a emplacar uma sequência de cinco partidas pela equipe da Sardenha. O próprio desempenho técnico e tático não tem sido próximo do que já mostrou, seja no clube ou na seleção.

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Números de Godín na atual temporada europeia
Imagem: Rodrigo Coutinho

Obviamente que os mais de 150 jogos pela Celeste, as três Copas do Mundo, as seis Copas América, Copa das Confederações, anos de destaque e liderança no Atlético de Madrid e Villareal, e a passagem recente pelo futebol italiano trazem muita hierarquia ao vestiário mineiro. Pode contribuir nesse aspecto, mas depende de alguns contextos para dar a resposta esperada em campo.

O principal deles é a preparação que a comissão técnica precisa desenvolver para torná-lo apto a encarar o insano calendário brasileiro. Nos últimos 18 meses, Godín fez pouco mais de 50 jogos, número que atingiria facilmente sendo titular num período de 10 meses no Brasil. Isso sem contar as idas para a seleção uruguaia.

Um detalhe que merece atenção é o cenário da maioria dos jogos do Atlético. Godín é um excelente protetor de área. Bola aérea impecável, posicionamento, firmeza nos combates e tempo de cobertura em espaços curtos, mas sempre rendeu atuando em equipes que marcam mais atrás, times que reduzem o seu espaço de atuação. Dificilmente, o Galo terá essa realidade pelo time dominante que possui.

Nada impede que sua qualidade e experiência façam com que todos esses entraves sejam superados e ele construa uma linda história em Minas Gerais, mas é bom que todos que acompanham o futebol brasileiro tenham ciência dos fatos listados acima, principalmente o departamento de futebol do Atlético.