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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Os trunfos de Palmeiras e Santos para vencer a Copinha

Colunista do UOL

24/01/2022 18h00

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Depois de um ano ausente em função da pandemia de Covid-19, a Copa São Paulo volta a ter uma decisão. E que jogo! Palmeiras e Santos se enfrentam pelo direito de levantar o troféu do torneio mais tradicional da base brasileira. São duas equipes com características parecidas em organização tática, bastante talento, mas alguns pontos podem definir o duelo.

O primeiro deles é o fator casa. Numa decisão bem controversa, pela melhor campanha palestrina, a Federação Paulista de Futebol marcou o confronto para o Allianz Arena, estádio palmeirense. Para completar, a torcida única em clássicos paulistas segue valendo, e a galera alviverde deve tomar as arquibancadas do local. Isso pode pesar muito.

Outro detalhe importante é o desfalque de Lucas Barbosa no Santos. Um dos artilheiros da equipe na competição com seis gols, está suspenso pelo segundo cartão amarelo e fará muita falta partindo da direita para a área com sua canhota afiada.

O terceiro ponto é o elenco mais homogêneo do Verdão. Nada menos que 11 jogadores alviverdes integram a lista de artilheiros. No Peixe, os gols se dividem em apenas quatro nomes. O cenário dá um leve favoritismo ao time da casa.

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O Palmeiras de Endrick pode fazer história e quebrar o tabu de nunca ter vencido a Copinha. Já o Santos de Rwan vai em busca do quarto título, venceu em 1984, 2013 e 2014
Imagem: Rodrigo Coutinho

Palmeiras

Endrick! Todas as atenções do Palmeiras nesta Copinha estão voltadas para ele. O garoto é um candidato a fenômeno. Fará 16 anos em 2022 e teoricamente ainda tem mais quatro anos para jogar na base, algo que não deve acontecer. Mostra maturidade em campo, qualidade acima da média e força. Pode evoluir em tudo isso, mas o time alviverde não se restringe a ele.

O camisa 9 não foi titular em todos os jogos do Verdão nesta Copa São Paulo. Iniciou só duas das oito partidas, entrou em outras quatro, mas é o artilheiro da equipe com cinco gols. Sua utilização desde o início ainda é uma incógnita. Vitor Hugo é a outra opção provável. Centroavante com mais presença na área.

O elenco que o técnico Paulo Victor tem é muito bom. Atletas de qualidade como opção no banco, e alguns deles até com experiência nos profissionais. No time titular, se destacam o lateral Gustavo Garcia, os zagueiros Yuri Naves e Lucas Freitas - que tem passagem pelo futebol espanhol -, a dupla de volantes Fabinho e Pedro Bicalho, os meias Jhonatan e Giovani, e Gabriel Silva, artilheiro na base palmeirense e integrante do elenco principal.

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Provável time-base do Palmeiras para a final
Imagem: Rodrigo Coutinho

Por mais que seja uma equipe que preze a posse de bola e busque se impor desta forma, o Palmeiras já mostrou capacidade para se fechar e sair rápido em contra-ataques também. Foi assim na semifinal contra o São Paulo, depois de fazer um gol logo no início, e em momentos de outras partidas.

Marca por zona num 4-4-2, com compactação entre os setores e pressão na bola. Mostra coordenação para subir as linhas de marcação e sufocar os adversários no ataque, fez gols assim. Também apresenta pressões pós-perda bem ajustadas. Reage rápido e em massa ao perder a posse no campo rival.

Em fase ofensiva, a equipe se organiza muito a partir da distribuição dos volantes e zagueiros. Geralmente faz a saída com a linha de quatro atrás montada e os dois volantes se aproximando por dentro. Fabinho e Pedro Bicalho encaixam bem os passes, assim como a dupla de zaga. Os laterais participam desta circulação inicial e depois se soltam no campo de ataque.

Pela esquerda, Vanderlan ataca sempre aberto, aproveitando a flutuação do destro Jhonatan da esquerda pra dentro. No lado direito, Garcia e Giovani revezam um pouco mais. Como Giovani é canhoto e tem o drible em condução como arma principal, por vezes recebe aberto e Garcia ataca pela meia direita. Mas o contrário também acontece.

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Dinâmica de movimentos do Palmeiras em detalhes. Jhonatan(em amarelo) flutuando pro meio e Vanderlan(em vermelho) atacando em amplitude. Dupla de volantes por trás da linha da bola sempre e dupla de ataque interagindo pelo meio
Imagem: Rodrigo Coutinho

Há uma variação. Garcia também pode se alinhar aos zagueiros numa saída de três. Vanderlan segue se projetando pela esquerda, e aí Bicalho ganha mais liberdade em relação a Fabinho pelo meio. Se posta como um meia ao lado de Jhonatan, que novamente flutua da esquerda para o meio. Neste cenário, Giovani fica mais preso na direita.

O Palmeiras trabalha com dupla de ataque. Gabriel Silva é titular absoluto e o seu parceiro varia. Endrick é o favorito para começar jogando, mas Vitor Hugo pode entrar. Há ainda reservas bastante utilizados no setor ofensivo que acrescentam muito quando entram, como Kevin e Luis Guilherme. Ian Custódio é um bom lateral-esquerdo suplente.

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Aqui um exemplo do Palmeiras quando faz a saída de três. Garcia, na parte de baixo do vídeo, alinhado e Kayke Naves e Lucas Freitas
Imagem: Rodrigo Coutinho

O Verdão tem muita facilidade para circular a bola. A qualidade dos atletas se soma a movimentos organizados e bem coordenados para gerar as linhas de passe e interações nas proximidades da área. Os espaços estão sempre bem ocupados. Precisa cuidar da concentração. Isso oscila ao longo dos 90 minutos.

Chama a atenção também a quantidade de jogadas ensaiadas em escanteios e faltas laterais batidas na área. O volante Fabinho é forte atacando a primeira trave neste tipo de lance.

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Como o Palmeiras marcou seus gols na Copinha
Imagem: Rodrigo Coutinho

Santos

Se o Palmeiras é um time que varia o comportamento de acordo com o momento do jogo, o Santos também tem essa faceta, apesar de preferir o controle das ações através da bola. O técnico do Peixe, o ex-volante Élder, que teve boa passagem pelo clube no final dos anos 90 e chegou a disputar um Mundial Sub-20 com a Seleção, tenta colocar em prática a tradição alvinegra.

Uma lástima a ausência de Lucas Barbosa, jogador que poderia fazer a diferença para o alvinegro. Fernando deve substituí-lo. Weslley Patati, Rwan e Ed Carlos completam o dinâmico quarteto ofensivo.

O lateral-direito titular, Sandro Perpétuo, deve ser outra ausência sentida. Teve uma lesão muscular nas quartas de final, contra o Mirassol, e não atuou na vitória por 3x0 sobre o América Mineiro na semifinal. Andrey Quintino, atacante de origem, pode tomar conta da função mais uma vez.

Essa mexida transforma bastante a forma de atacar do Peixe. Sandro, muitas vezes, compõe uma saída de três com os zagueiros, e ataca como um meio-campista quando a bola está no campo rival. Andrey tem características diferentes. A tendência é que Jhonnathan recue para fazer a saída entre os zagueiros quando esta for a estratégia.

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Provável time do Santos para a final
Imagem: Rodrigo Coutinho

Em comparação ao Palmeiras, as opções vindas do banco para mudar a realidade da partida são um pouco mais modestas, mas mesmo com os problemas que o Peixe tem para a decisão, há potencial para superar o rival diante de um Allianz Parque lotado.

O estilo agressivo já é possível de acompanhar na postura de marcação. Quase sempre o Santos se adianta para inibir os ataques adversários já na saída de bola rival. Coordena sua pressão num 4-4-2 que avança em conjunto. Rwan e Ed Carlos fazem a pressão inicial. Os meias e volantes auxiliam.

O mesmo esquema tático é usado como base na hora de atacar. Ed Carlos, que já foi campeão da Copinha pelo São Paulo em 2019, faz uma ótima dupla com Rwan. Jogadores de estatura alta, qualidade técnica e finalizações potentes.

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Os dois atacantes por dentro e os dois meias/pontas dando amplitude ao time perto da área. Uma constante do Peixe
Imagem: Rodrigo Coutinho

Se mexem com desenvoltura e entrosamento pelo centro do ataque. Enquanto um flutua entre as linhas o outro dá profundidade, revezam neste aspecto. Os lados do campo são ocupados pelos pontas/meias. Weslley Patati e Lucas Barbosa são canhotos habilidosos, driblam para o fundo ou na direção da área, tentam tabelas e triangulações ao conduzirem para o meio.

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Jhonnathan recuando para fazer a saída de três entre os zagueiros. Isso deve acontecer com mais frequência na ausência de Sandro
Imagem: Rodrigo Coutinho

Sem Lucas, a tendência é o destro Fernando entrar, e aí o lado de Patati, que costuma ser o esquerdo, pode mudar. Jhonnathan é o volante mais fixo. Canhoto, encaixa bons passes. João Victor, o ''Balão'', joga a seu lado. É leve e dinâmico para se movimentar, carrega a bola com desenvoltura e chega mais perto da área.

É muito comum vermos o Santos empurrando quatro jogadores em cima da última linha de defesa rival. Por mais que o time tenha variações que permitam a flutuação dos pontas para o meio, o mais natural é fazer com que os homens das ''extremas'' tentem ''esgarçar'' a defesa adversária e produzam ao receberem no mano a mano.

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Como o Santos marcou seus gols na Copinha
Imagem: Rodrigo Coutinho

Se o Palmeiras tem Derick, nascido em 2006, o Santos tem o zagueiro Jair Paula, nascido em 2005. Foi titular e mostrou segurança ao longo de toda a campanha. O lateral-esquerdo Lucas Pires apoia com desenvoltura e faz bons cruzamentos, já o zagueiro Derick se impõe com muita força física.