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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Os acertos e erros do Palmeiras na semifinal do Mundial

Colunista do UOL

09/02/2022 04h00

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O Verdão jogou bem diante do Al Ahly e confirmou o favoritismo que tinha na semifinal do Mundial de Clubes. Agora aguarda o Chelsea como provável adversário da inédita decisão. Passadas algumas horas da partida, é hora de avaliar com calma aquilo que o Palmeiras fez de melhor, mas também entender os erros, e não os repetir na final de sábado.

É bom frisar que, se o adversário for mesmo o Chelsea, será um jogo com realidade totalmente diferente. Nesta terça, o time de Abel Ferreira precisou ficar mais com a bola e tomar a iniciativa de atacar. Contra os Blues, a dinâmica se inverterá, mesmo assim é possível tirar aprendizados e manter os acertos pensando no decisivo embate.

Marcação no campo de ataque

Todos sabem que o time do Palmeiras tem um sistema defensivo organizado. Ele apareceu nos jogos decisivos em cenários de marcação mais recuada, área bem protegida e compactação entre os setores. Na semifinal do Mundial, o Verdão adiantou o bloco com muita coordenação, induzindo o passe na saída de bola africana para os flancos, e sufocando os alas ou zagueiros adversários.

Raphael Veiga e Rony dando o primeiro combate foram determinantes. A intensidade na abordagem ao homem da bola começa com eles. Agressivos e atacando no tempo certo, contando com Dudu e Scarpa na complementação e com o balanço de Danilo e Zé Rafael para o lado da bola. A última linha subiu rapidamente e ''matou'' os espaços que poderiam surgir nas costas do meio-campo.

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Raphael Veiga comemora gol do Palmeiras contra o Al Ahly
Imagem: Angel Martinez - FIFA/FIFA via Getty Images

Rápida reação ao perder a bola

Outro ponto que chamou a atenção foram as pressões pós-perda. Um conceito sempre presente em equipes que querem manter a posse de bola, mas que o Verdão não teve com tanto afinco em 2021. Não foram poucos os jogos em que propôs o jogo e enfrentou problemas na recomposição. Contra o Al Ahly isso não aconteceu.

Concentração e coordenação para inibir os contra-ataques adversários é fundamental. Obviamente que se o Chelsea confirmar o favoritismo e fizer a final com o Palmeiras, haverá menos condições de colocar tal conceito em prática, mas nunca se sabe que rumo o jogo pode tomar. Danilo e Zé Rafael estiveram muito bem neste aspecto. Auxiliaram os quatro homens mais avançados com volúpia.

Ocupação de espaços e coordenação nos movimentos

Se já teve dificuldades maiores para se organizar ofensivamente com Abel Ferreira, o Palmeiras deu mais uma mostra que vai crescendo. O time se posicionou de forma bem nítida no ataque. Scarpa e Marcos Rocha dando amplitude. Piquerez na base das jogadas junto com os zagueiros. Dudu flutuando em diagonal da direita para o meio.

E o melhor: movimentação coordenada para aproveitar aquilo que cada atleta tem de melhor. Rony fez diversas diagonais para os lados, atraindo a atenção da defesa e liberando espaços de infiltração por dentro para Raphael Veiga, Zé Rafael e Dudu.

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Dudu, durante partida entre Palmeiras e Al Ahly, no Mundial de Clubes
Imagem: Michael Regan - FIFA/FIFA via Getty Images

Velocidade e inteligência nos contra-ataques

Essa não é novidade para quem acompanha o alviverde. É um time muito perigoso contra-atacando, e mostrou isso novamente nos Emirados Árabes. Essa, aliás, deve ser a principal estratégia diante do Chelsea. Além da velocidade para ''mudar a chave'' entre defender e atacar, destaca-se a sabedoria para aproveitar os espaços.

Roubar a bola e inverter o jogo de lado para surpreender o adversário, e explorar a velocidade de Dudu com a aproximação de Raphael Veiga, é uma das armas. Ela apareceu na construção do segundo gol. Os deslocamentos de Rony em profundidade também causaram problemas ao Al Ahly.

Pouca mobilidade pelo meio e passes forçados

Algo que pode ser fatal na decisão é repetir a quantidade de passes em profundidade forçados, sobretudo no 1º tempo. Faltou um pouco mais de mobilidade e criação de linhas de passe pelo centro do gramado, ainda na faixa de construção das jogadas.

Isso gerava ansiedade a quem tinha a bola, principalmente Luan, Gómez e Piquerez, e o passe saía sem tanta naturalidade, muitas vezes sem a devida condição para alguém atacar o espaço ou receber no pé. A defesa egípcia interceptou algumas dessas tentativas e o time africano poderia ter encaixado contragolpes perigosos.

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Joaquin Piquerez, do Palmeiras, e Taher Mohamed, do Al Ahly, na semifinal do Mundial de Clubes
Imagem: Michael Regan/Getty Images

Ritmo da circulação de bola e jogadas pelos flancos

Parece contraditório, mas ao mesmo tempo em que forçou alguns passes verticais e se precipitou em momentos do 1º tempo, o Palmeiras teve morosidade na hora de circular a bola lateralmente. Isso possibilitou poucas jogadas de mano a mano pelos lados, principalmente a Gustavo Scarpa pela esquerda.

Se há demora para a bola sair da direita para a esquerda e vice-versa, o bloco de marcação adversário balança para o lado da jogada e consegue inibir os espaços de quem vai receber. Fazer isso com mais velocidade libera situações favoráveis de 1x1.