Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Coutinho: Em 40 dias, 37% dos clubes das Séries A e B trocaram de técnico
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Os anos passam e o futebol brasileiro segue com alguns problemas recorrentes. Mesmo com pouco tempo de temporada em 2022, quase 40% das principais 40 equipes já demitiram seus treinadores. O dado promete ganhar contornos ainda mais alarmantes com o fim da regra que tentava minimizar o problema visto na última temporada.
Agora não há mais restrições. Se em 2021 houve uma busca de controlar minimamente a farra das mudanças de treinador, permitindo apenas uma demissão ao longo da competição, tudo voltou à estaca anterior. Pudera. A quantidade de ''acordos em comum'' entre treinadores e dirigentes foi impressionante. Uma clara forma de burlar a medida.
É óbvio que uma lei repleta de brechas como a citada acima não resolveria o problema de má gestão técnica da maioria dos clubes. Dirigentes mais preparados e capazes de identificar os processos de formação de uma equipe é a principal carência.
E isso se estende também a grande parte da imprensa. Muitos julgam trabalhos sem ter conhecimento básico de parte tática. A ''cornetagem'' é pautada apenas no placar final dos jogos, e isso inflama as torcidas, principalmente nos casos dos clubes de massa.
A pressão que vem de fora para dentro do clube torna insustentável a situação de muitos profissionais. Principalmente quando acima destes há dirigentes com pobre repertório de conhecimento de jogo e mais preocupados com a política interna. Se a pressão cresce, é mais válido trocar de técnico e ter um novo ''escudo'' para as críticas
Não se trata aqui de uma defesa cega dos treinadores. Vários deles precisam evoluir. A invasão de técnicos estrangeiros no Brasil como jamais havia ocorrido não é por acaso, mas até estes entram nessa ''ciranda moedora de treinadores''. A reflexão precisa ser: o que leva um clube a demitir alguém dentro de um espaço de 40 dias de um novo ciclo?
Subentendesse que ao iniciar a temporada 2022 com treinadores que terminaram 2021 no cargo, havia a convicção que o profissional deveria ter sequência. Mas não é a realidade. O que se avalia é somente o resultado. O contexto em que eles foram obtidos e a mudança de realidade dos campeonatos nacionais para os Estaduais não é considerado.
O caso de Sylvinho no Corinthians é o mais emblemático. O time seguiu apresentando no Paulistão o que jogava no Brasileirão. Mesmo depois de alguns meses de trabalho. O treinador apontou as carências no elenco. Elas não foram resolvidas. Pior. Foram aumentadas. E o novo técnico, o português Vitor Pereira, em pouco tempo já as identificou.
Se havia a desconfiança sobre Sylvinho por que mantê-lo? Por qual motivo não dar a um novo técnico o período de treinamento da pré-temporada? A situação de Fabio Carille no Santos é igualmente intrigante. Será que a diretoria santista não sabia ou não teve a percepção, já em 2021, que ele não ofereceria o esperado DNA de futebol do clube?
Os dois exemplos citados acima apenas ilustram a limitação de quem comanda os departamentos de futebol pelo Brasil. Na Série B, já são nove as demissões entre os 20 clubes. Há treinadores que em menos de dois meses já foram demitidos ou pediram demissão e acabaram contratados por outras equipes.
Felipe Conceição, Marcelo Cabo, Hélio dos Anjos e Allan Aal integram essa lista. Rafael Guanaes, que foi mandado embora pelo Tombense, agora é auxiliar na comissão técnica permanente do Cruzeiro.
É preciso melhorar muito. Esse caos se soma ao calendário péssimo, gramados ruins, competições mal estruturadas e divulgadas porcamente. E extraímos o mais puro suco do futebol brasileiro de hoje. Poderia ser muito melhor, mas se sabota em diversos níveis.
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