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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Brasileirão 2022 deve ser o mais aberto dos últimos anos. Entenda o porquê

Colunista do UOL

23/05/2022 10h01

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O balanço da principal competição nacional após sete rodadas disputadas é totalmente vago. É a menor distância de pontos entre o líder e o primeiro time fora da zona de rebaixamento dos últimos dez anos. O Corinthians, 1º colocado com 14 pontos em sete jogos, faz companhia ao Flamengo de 2018 como líderes que menos pontuaram nas sete rodadas iniciais. Alguns fatores ajudam a explicar o cenário.

Pep Guardiola, que acabou de conquistar o seu décimo título de grande liga nacional europeia, tem uma tese sobre os pontos corridos. Para ele, nas ''oito rodadas iniciais é o momento em que se perde a oportunidade de ser campeão''. Ele não quer dizer que quem não liderar dentro das oito rodadas iniciais está fora, mas sim relacionar a perda de alguns pontos em confrontos diretos ou duelos diante de equipes de nível inferior, ao sucesso na competição.

Atlético Mineiro, Palmeiras e Flamengo eram apontados por basicamente todos, antes da competição começar, como os grandes favoritos. Justo! Possuem os melhores elencos e têm os jogadores com maior capacidade de desequilíbrio. Venceram os principais títulos nacionais e internacionais das últimas temporadas, mas o início do trio é abaixo da expectativa.

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Zé Rafael, do Palmeiras, comemora gol contra o Juventude, pelo Brasileirão
Imagem: Luiz Erbes/AGIF

No caso do Palmeiras, atual vice-líder, a realidade está mais perto da expectativa. É o time mais pronto do país hoje. Um dos trabalhos mais longevos de um treinador, jogadores adaptados ao modelo adotado. A única coisa que pode tirar da briga é a atenção maior às Copas, algo que já aconteceu nos últimos anos.

O Brasileirão, porém, é o ''título possível'' que falta a Abel Ferreira no clube. Isso, somado ao momento oscilante dos principais rivais, pode ser decisivo. Se reforçou de forma cirúrgica em alguns setores. Se não trouxe ninguém como titular indiscutível, reduziu lacunas de seu elenco e segue tendo Raphael Veiga e Dudu como homens-chave. Gustavo Gómez e Weverton também desequilibram.

O Flamengo continua na crise existencial que perdura desde a saída de Jorge Jesus. Mesmo considerando os erros dos treinadores que passaram no clube a partir de meados de 2020, a sensação que fica é que ''não há ninguém capaz de treinar o time além do Mister''. A diretoria está nitidamente rachada e com objetivos diversos fora do rubro-negro. Há descompassos de pensamentos entre lideranças do elenco e Paulo Sousa. Tudo isso afeta o trabalho.

Descartar o rubro-negro está fora de cogitação. Mesmo em momentos ainda mais conturbados de sua história, e com times menos qualificados, conseguiu superar tudo e sagrou-se campeão brasileiro. 2009 é um bom exemplo. Mas fazer uma campanha consistente no Brasileirão não parece ser o indicativo.

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Pedro, jogador do Flamengo, comemora seu gol com jogadores do seu time durante partida contra o Goiás no Maracanã pelo campeonato Brasileiro A 2022.
Imagem: [Thiago Ribeiro/AGIF

O Galo também tem oscilado bastante, mas já está no G-4 e a apenas dois pontos do Corinthians. Tem o jogador mais decisivo do continente neste momento, o atacante Hulk, e deu prosseguimento a basicamente o mesmo modelo implementado por Cuca. Turco Mohamed é questionado pela torcida atleticana, mas taticamente não mudou a equipe. Talvez precise tirar mais concentração e intensidade de seu ótimo time em alguns momentos.

Corinthians e São Paulo aparecem como ''novos atores'' nesta trama. Há bons trabalhos sendo desenvolvidos pelos treinadores e níveis técnicos bem satisfatórios nos elencos. Precisam de ajustes, mas são organizados e, mesmo com as campanhas iniciais, ainda não podem ser considerados favoritos ao título. O desempenho e os resultados até o fim do 1º turno darão esse tom.

Botafogo, Santos, Coritiba e Fluminense conseguiram um início acima das expectativas. Red Bull Bragantino, Fortaleza e Ceará até aqui decepcionam. A Copa do Mundo será mais um fator que deve equilibrar as coisas. O calendário está ainda mais apertado. Multiplicando lesões e desgastes de atletas importantes, aproximando equipes que têm níveis diferentes.

O time que entender todo esse cenário e sofrer menos com o caos do futebol brasileiro deverá sair vencedor, e este pode não estar entre aqueles que projetamos como favoritos há pouco mais de um mês. Nunca esteve tão palpável quebrar essa barreira.