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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Efeito do tempo de Abel no Palmeiras é a prova do bônus da continuidade

Abel Ferreira conversa com Dudu no treino do Palmeiras, na Academia de Futebol - Cesar Greco
Abel Ferreira conversa com Dudu no treino do Palmeiras, na Academia de Futebol Imagem: Cesar Greco

Colunista do UOL

03/06/2022 04h00

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Abel Ferreira só fica atrás de Mauricio Barbieri quando o assunto é a longevidade dos técnicos da Série A do Brasileirão no cargo. São 20 meses de trabalho dentro de uma realidade cruel. No futebol brasileiro, a média de permanência de um treinador nos clubes de Primeira Divisão é próxima de seis meses. Os títulos são o fator mais importante, mas a diretoria do Palmeiras tem mérito nesta manutenção. Não deu ouvidos a determinadas pressões.

Bicampeão da Libertadores (2000 e 2021), campeão da Copa do Brasil (2020), campeão paulista (2022), campeão da Recopa Sul-Americana (2022) e vice do Mundial de Clubes (2021). O currículo de troféus e resultados do técnico português no Alviverde é o maior ''advogado'' do trabalho, mas todos sabem que nem sempre o desempenho foi elogiável.

Por vezes houve razão por parte de quem criticou, mas quase sempre os exageros que caracterizam a crítica da opinião pública brasileira em relação ao futebol se fizeram presentes. A melhor resposta do Palmeiras foi manter o trabalho. Quando há qualidade e lógica naquilo que se desenvolve no dia a dia, as pressões externas não podem falar mais alto.

E essa confiança foi o ponto alto da relação que começou a ser construída em novembro de 2020, ainda na antiga gestão do ex-presidente Mauricio Galliote. O Palmeiras tinha como principal característica o jogo baseado em contragolpes até a metade de 2021. Abel nitidamente se preocupou em fortalecer o sistema defensivo como prioridade para ter mais competitividade. Não perder. E ''matar'' os jogos em contra-ataques ou bolas paradas em sua grande maioria.

Óbvio que o investimento feito pelo clube e a qualidade do elenco pediam mais. O Verdão tem um dos melhores planteis do continente há pelo menos cinco temporadas. Mesmo com o título, o comportamento diante do Santos na final da Libertadores de 2020 foi digno de questionamentos. Deu certo! Mas faltou pouco para não dar. O chute de Diego Pituca na reta final dos 90 minutos que o diga.

O mesmo se pode dizer da Copa do Brasil de 2020. Diante do América-MG nas semifinais, um bom time, mas de Série B naquela altura, o Palmeiras basicamente especulou durante os 180 minutos. Não se impôs com a bola. As finais do Paulistão de 2021, contra o São Paulo, é outro exemplo importante. Desta vez com insucesso no resultado.

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Abel Ferreira durante a partida entre Palmeiras e Emelec-EQU
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Havia internamente, porém, a convicção de que a continuidade faria o time evoluir em outros aspectos. E isso aconteceu. Se manteve a postura reativa diante de Atlético-MG e Flamengo na reta final da última Libertadores, apresentou mais organização e padrões ao entrar em fase ofensiva nessas partidas.

Nos momentos em que teve a posse, mostrou crescimento coletivo, consequentemente proporcionando a subida de nível de peças individuais. Raphael Veiga, Danilo e Dudu são os melhores exemplos. A evolução geral já havia fico nítida para quem acompanhou com atenção o Brasileirão 2021 do Palmeiras.

Hoje é possível imaginar o Verdão se comportando de maneiras diferentes e jogando em alto nível de qualquer forma. O tempo dá aos jogadores o conhecimento mais detalhado das ideias de um treinador quando o trabalho é bom e há qualidade na montagem do elenco. A maturidade e as muitas formas que pode chegar às vitórias não vieram por acaso.

Não dá para saber se o Palmeiras conquistará todos os títulos que pretende. O resultado no futebol, por mais que muitos cheguem a conclusões baseando-se somente nele, é incontrolável. O que sabemos hoje é que é o time mais próximo de alcançar esse status no Brasil. E só a sequência poderia trazer isso.