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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que os pontas são tão importantes no Modelo Diniz do novo Fluminense

Colunista do UOL

20/07/2022 04h00

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O estilo de jogo de Fernando Diniz divide opiniões. Ele, porém, vai muito além das saídas com passes curtos envolvendo o goleiro e da posse de bola. Essas são duas ferramentas para que o principal seja posto em prática: a superioridade no setor da bola para atrair o adversário e explorar os espaços que surgem. Entender a função dos pontas é determinante nisso, principalmente depois da saída de Luiz Henrique

Cabe ressaltar que essa percepção dos pontas no atual time do Fluminense poderia ser aplicada, por exemplo, aos meias do São Paulo em 2020. Naquela ocasião o esquema mais utilizado foi o 4-4-2. Igor Gomes e Gabriel Sara de meias. Luciano e Brenner no ataque. Igor e Sara tinham a mesma função que cabe a Arias e Matheus Martins atualmente.

Arias e Matheus Martins não possuem características de ''pontas natos''. Não são jogadores que ficarão o tempo inteiro colados na lateral do campo, buscando o enfrentamento individual ou jogadas de linha de fundo. São diferentes entre si, mas as valências de ambos ajudam Diniz naquilo que ele precisa.

O colombiano jogou no Santa Fé, América de Cali e Patriotas em seu país de origem, e na maioria das vezes foi um meia que partia de um dos lados do campo, preferencialmente o esquerdo. Saía do flanco e tentava ser um ''elemento surpresa'' nas costas dos volantes adversários, ou recebia de frente a partia para o meio com a bola dominada. É um jogador de articulação.

Já Matheus é uma espécie de ''segundo atacante''. Na base, jogou bastante pelo lado esquerdo, mas sempre com a incumbência de puxar diagonais em direção a área adversária, sempre teve mais liberdade de movimentação em relação a um ponta mais tradicional. É muito talentoso! Finaliza bem, se mexe com inteligência, acrescenta potência e qualidade nos ataques à última linha, sabe auxiliar também na criação.

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Jhon Arias e Fernando Diniz comemorando um dos gols do Tricolor neste Brasileirão
Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

No conceito de buscar superioridade no setor da jogada, eles vão até ela, e não esperam em suas zonas de origem no campo. É preciso ter mobilidade, gás, intensidade e qualidade técnica para cumprir bem isso. Fazer parte da ''roda de bobo'' ao adversário com eficiência.

Com a saída de Luiz Henrique isso ficou ainda mais nítido. O agora atacante do Bétis possui outras características. Depende mais de manter-se pela direita. Seu jogo precisa deste posicionamento para que possa trabalhar os dribles na direção da área com sua habilidosa perna esquerda.

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O Fluminense concentrado pela direita, o lado mais frequente, e Matheus Martins e Arias próximos. A seta indica o movimento de Martins da esquerda para a direita. No alto da imagem, em amarelo, Caio Paulista dá amplitude
Imagem: Rodrigo Coutinho
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E aqui iniciando um ataque pelo lado esquerdo, setor de origem de Matheus Martins, por isso Arias faz a flutuação para lá, como indicado na seta vermelha.
Imagem: Rodrigo Coutinho

Como um complemento ao trabalho de Arias e Matheus Martins dentro deste contexto, é importante citar Samuel Xavier e Caio Paulista, os laterais tricolores. É fundamental que o lado contrário da jogada seja ocupado por ao menos um atleta. Ele garante a amplitude do time no campo de ataque, e é a opção de passe de virada para encontrar espaços.

Samuel e Caio fazem isso e, ao receberem uma inversão, podem carregar em velocidade, caso haja a possibilidade, ou esperar a flutuação de todo o meio-campo, além de Arias e de Matheus Martins para o novo ''setor da bola''. Com Luiz Henrique, Samuel Xavier fazia essa flutuação para o lado esquerdo com mais frequência do que o ex-jogador do Fluminense.

Essa mudança requer uma sequência para a adaptação e implica diretamente numa importante percepção do time. É necessário alternar mais o raio de ação das jogadas, antes concentradas pelo lado direito. Arias e Matheus possibilitam essa mudança, mas precisam entender a hora de se fixar no flanco para estabelecer o lado do ataque, e o momento de circular livremente para a ponta contrária.