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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Alex Sandro e Danilo: é preciso entender o que fazem para valorizá-los

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''Os laterais da seleção são fracos''. Quantas vezes você já ouviu a frase que abre esse texto? Ela foi dita com certa frequência nos últimos anos e reflete uma meia verdade a respeito do material humano disponível para a posição atualmente no Brasil. Deixa claro também que há imensa dificuldade de entendimento sobre o papel tático de Danilo e Alex Sandro no time nacional.

O primeiro se profissionalizou no América Mineiro com 18 anos e virou titular do Santos na temporada seguinte. Ganhou Libertadores pelo Peixe. Passou por Porto, Real Madrid e Manchester City com destaque. Foi campeão em todos eles e alvo de elogios. Pep Guardiola cansou de exaltá-lo publicamente. Fez 129 jogos nos últimos quatro anos de Juventus(ITA), 115 como titular. Tem três títulos.

Já o segundo foi revelado pelo Athletico e virou titular do Santos com 19 anos. Também venceu a Libertadores e não demorou muito tempo para ser vendido ao Porto. Ficou quatro temporadas lá, conquistou quatro títulos, e desde 2015 veste a camisa da ''Velha Senhora''. São 289 jogos e dez troféus pelo clube, foi titular em 83% das partidas que disputou.

Vencedores, estabelecidos em um gigante europeu, versáteis para cumprir mais de uma posição na linha defensiva e reconhecidos internacionalmente. No Brasil, porém, são taxados como limitados. Certamente por quem não acompanhou da forma devida as trajetórias descritas acima.

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Roberto Carlos e Cafu se abraçam em jogo da seleção brasileira
Imagem: Neal Simpson/EMPICS via Getty Images

O maior ''pecado'' de Alex Sandro e Danilo e não estarem no mesmo nível de dois dos maiores laterais da história do futebol mundial. Só isso! Cafu e Roberto Carlos marcaram época. Campeões mundiais com a seleção brasileira, titulares em times históricos no Brasil e na Europa. Referências até hoje nos quatro cantos do mundo. Mas até eles sofreram perseguição crítica antes e depois do título na Copa de 2002.

Os atuais laterais da seleção brasileira possuem características bem distintas dos lendários citados. O futebol de hoje é diferente. Exige que laterais, mesmo os formados na América do Sul, se adaptem às funções defensivas com mais eficiência. Jogam como zagueiros improvisados, seja em linha de três ou de quatro, até por isso ganharam mais altura a massa muscular. É uma demanda atual!

Cafu e Roberto Carlos não descuidavam da defesa, mas eram laterais resumidamente mais ofensivos. Jogaram numa época de pouca utilização de pontas, exploravam bastante o ''corredor externo'' do campo, algo que voltou a acontecer em todo o globo e afetou diretamente a ocupação de espaços, além da movimentação de quem atua na posição.

Vários times, incluindo a seleção brasileira, utilizam esses pontas sempre em amplitude no campo de ataque. Como o lateral vai ocupar o mesmo espaço?

É por isso que muitas vezes eles são utilizados como ''meio-campistas'' quando a equipe em que jogam entra em fase ofensiva, ou seja, se estabelece no ataque. Também como integrantes da primeira linha de construção das jogadas, auxiliando na circulação da bola, no passe inicial, e prontos para reagirem nas transições defensivas.

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Aqui o Brasil começa a se instalar no campo de ataque. Danilo centralizando a partir da direita, Alex Sandro mais alinhado aos zagueiros pela esquerda. Mais a frente, os pontas bem abertos.
Imagem: Rodrigo Coutinho

Danilo e Alex Sandro fazem um misto dessas funções. Vez ou outra serão vistos no campo de ataque. Podem fazer uma ultrapassagem pontual pelo lado, uma infiltração na área pelo meio, chutarem de fora da área, como o próprio lateral-esquerdo acertou a trave na estreia contra a Sérvia. Mas não é o padrão. E não podem ser cobrados por isso.

Há um sistema bem organizado para obedecer. Isso dá mais liberdade aos pontas, atacantes e meias da Seleção. Até mais conforto para um dos excelentes zagueiros se arriscar no ataque.

Eles não podem pagar pela produção menos efetiva de jogadores da posição nos últimos anos no Brasil. É óbvio que se compararmos com outras décadas e Copas, havia mais opções de talento. Hoje há escassez nesta função, mas Alex Sandro e Danilo poderiam ser jogadores de destaque em outras épocas no Brasil.

Não é porque não aparecem constantemente dando assistências e fazendo gols, que não são bons o suficiente para serem titulares da seleção ou não são importantes. Já passou da hora de entendermos as funções e características de cada jogador para abrirmos a mente.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, Cafu e Roberto Carlos são campeões da Copa de 2002, e não 2022. O erro foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL