Topo

Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que pode definir o equilibrado Argentina e França

Colunista do UOL

17/12/2022 18h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A final da Copa do Mundo 2022 é certamente uma das de mais difícil prognóstico na história. Sabe-se exatamente como argentinos e franceses jogam. São trabalhos de médio e longo prazo feitos por seus treinadores, com virtudes e defeitos mostrados de forma extensa neste Mundial. Mas é exatamente a variedade de cenários que torna o jogo tão imprevisível.

A ''Scaloneta'' reaparece na hora certa

A Argentina conseguiu ser um time mais equilibrado nas duas últimas partidas. Mesmo sofrendo o empate da Holanda na base do ''abafa'' no final do tempo normal, foi superior aos europeus em grande parte dos 120 minutos, e levou a vaga merecidamente nos pênaltis. Diante da Croácia, demorou a encaixar, mas mostrou estar preparada para neutralizar o que Modric e cia fazem de melhor.

Scaloni vem montando sua equipe de acordo com o adversário. Uma demonstração de humildade e entendimento do que é necessário para evitar vantagens rivais. Isso não é cultural do futebol sul-americano, sobretudo no nível de protagonismo a que a Argentina está acostumada. Mesmo assim, não escala sua equipe para se defender prioritariamente. Visa exatamente o equilíbrio necessário para competir.

Contra a Holanda escalou três zagueiros para que seus alas ''batessem'' com os alas rivais e a marcação se encaixasse com mais facilidade. Contra a Croácia, acumulou jogadores no meio, setor forte dos balcânicos, e ganhou formas de gerar linhas de passe, além de inibir o avanço adversário no campo através da bola de pé em pé.

01 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Provável time da Argentina para pegar a França na final da Copa do Mundo 2022
Imagem: Rodrigo Coutinho

É provável que mude de novo contra a França. Di Maria não está na sua melhor condição física. Deve ficar de fora, e isso abre a possibilidade de ter Lisandro Martinez compondo uma linha defensiva com cinco elementos. Mais gente para proteger a área e os espaços de infiltração bem explorados pela França nos últimos metros do campo. Além de coberturas próximas aos laterais.

Lionel Messi faz a ''Copa da sua vida''! Muito do que a Argentina produz ofensivamente passa obviamente pelos pés dele. É uma dependência natural do jogador mais talentoso surgido neste século, mas isso não quer dizer que o time não possa criar sem ele. Enzo Fernández entrou e tomou conta do meio-campo. Inicia os ataques com qualidade e critério a partir de seus ótimos passes. Muita personalidade.

02 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Messi buscando o lado direito, nas costas dos volantes, região tradicional dele, voltado para o lado mais frágil da defesa francesa
Imagem: Rodrigo Coutinho

Julián Álvarez e Mac Allister entraram no time com a competição em andamento e resolveram problemas importantes para desafogar Messi. O primeiro gera mais mobilidade em relação a Lautaro Martínez, e já fez quatro gols no torneio. Tecnicamente vive uma fase superior. O segundo foi quem mais se aproximou do poder de retenção e articulação que o lesionado Lo Celso dava antes do Mundial.

O ponto mais preocupante para a Argentina no jogo é evitar os enfrentamentos individuais contra os atacantes franceses. O desnível técnico é considerável. Até por isso a formação com uma linha de cinco na defesa, e a entrada de Lisandro Martínez, muito firme nos combates, é provável.

03 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
A Argentina defendendo com linha de cinco atrás, cenário provável de se repetir neste domingo. Julián Álvarez no detalhe, retornando para auxiliar o meio-campo na marcação
Imagem: Rodrigo Coutinho

O talento transborda na França

Não há seleção com mais poder de decisão do que a francesa. Benzema, Nkunku, Pogba, Kanté, Kimpembé e Lucas Hernández são importantes desfalques surgidos no período pré-Copa e durante a competição. Mesmo assim a reserva de talento é imensa para definir em momentos adversos, que o diga as últimas duas vitórias antes da final.

04 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Provável time da França para a final deste domingo
Imagem: Rodrigo Coutinho

Não dá para dizer que a França foi melhor coletivamente do que Marrocos e Inglaterra. Teve momentos de muito perigo contra a sua meta em ambos os jogos. Diante dos africanos abriu o placar cedo, e levou um sufoco de um time tecnicamente inferior até conseguir marcar o segundo gol na reta final dos 90 minutos.

No confronto com os ingleses, mostrou debilidades pelo lado esquerdo de sua defesa. Um risco calculado pela liberdade dada por Deschamps a Mbappé. O camisa 10 é o homem mais decisivo e não precisa retornar marcando pelo lado esquerdo, o que teoricamente seria a sua obrigação, ajudando Théo Hernández no setor. A ideia do treinador é tê-lo livre para os contragolpes, descansado para brilhar com a bola.

Rabiot é o responsável por compensar o combate nesta faixa do gramado, o que não é exatamente uma especialidade dele. Com isso, Griezmann acaba ''sacrificado'', retornando alguns metros e compondo a linha de meio como se fosse um volante no momento defensivo, ao lado de Tchouaméni.

05 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
A França defendendo com duas linhas de quatro e Rabiot flutuando para o lado esquerdo, visando o auxílio a Théo Hernández. Griezmann (detalhe em vermelho) retornando por dentro.
Imagem: Rodrigo Coutinho

O problema é que os adversários já se deram conta do ''mapa da mina'' da defesa francesa, e muitas vezes forçam as jogadas no setor, acumulam jogadores por ali, e nem sempre há igualdade numérica para combater. Menos mal que os zagueiros disponíveis são de altíssimo nível. Varane, Upamecano e Konaté fazem excelente Mundial, e bloquearam diversas investidas de perigo dos oponentes.

Com a bola, o jogo francês flui naturalmente. Griezmann, em grande Copa do Mundo, e Rabiot, articulam à frente de Tchouaméni. Circulam a bola e infiltram na área. Mbappé pode ficar bem aberto pela esquerda ou buscar o espaço entre o lateral-direito e o zagueiro rival, abrindo o corredor para os avanços sempre contundentes de Théo Hernández.

06 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
França atacando com Dembélé e Théo Hernández(ambos em amarelo) dando amplitude no campo de ataque. Koundé(branco) na base da jogada. E Mbappé(em vermelho) traçando diagonais na direção da área
Imagem: Rodrigo Coutinho

Na direita, Dembélé fica mais fixo. Koundé não avança com frequência, está sempre por trás da linha da bola, dando suporte aos zagueiros. Upamecano é um nome importantíssimo na distribuição dos passes e Giroud é a certeza de presença perigosa na área rival.

Os contra-ataques franceses são uma arma poderosíssima. Sempre que faz um gol ou o oponente faz questão de ter a bola, o time não se priva de recuar o bloco para acionar Mbappé ou Dembélé em velocidade. Sair atrás da França no placar é fatal na maioria das vezes.