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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem Pelé, o futebol e o Brasil não teriam o mesmo tamanho

Colunista do UOL

29/12/2022 16h43

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Os últimos dias foram de uma expectativa estranha. As notícias sobre o estado de saúde do Rei não eram nada boas. Os ''cuidados paliativos'', divulgados em seus boletins médicos, são autoexplicáveis. O dia chegou. E com ele, junto com a despedida do maior jogador que o mundo já viu, a certeza: Pelé foi fundamental para que o futebol e o Brasil tomassem as dimensões que têm hoje.

Quis o destino que, 77 anos depois do primeiro jogo da história, nosso país fosse berço do nascimento do homem que transformaria para sempre o esporte mais popular do planeta. E ele chegou para mudar a trajetória de tudo!

Com apenas 17 anos, enfileirou suecos, galeses e francês no primeiro título de Copa do Mundo da seleção brasileira. Colocou o país que era confundido com diversos outros da América e até mesmo da África, no mapa do mundo. Elevou a autoestima da população ao brilhar não só no time nacional, mas também no seu lendário Santos.

Trouxe a união do talento venerável, o drible, a ginga, a qualidade nos passes e finalizações, com a potência física, o perfil atlético, o trator que atropelava marcadores de formas diferentes. Um colosso como jogador! Um potencial que jamais será igualado.

A partir de Pelé, não só pelo que fez dentro de campo, mas por suas aparições em demais ambientes antes inexplorados por um negro na sociedade, questões de igualdade entre pretos e brancos passaram a engatinhar numa sociedade altamente racista.

01 - TV Excelsior/Reprodução - TV Excelsior/Reprodução
Da esq. para a dir., Rosamaria Murtinho, Pelé e Regina Duarte em 'Os Estranhos', novela de TV Excelsior de 1969
Imagem: TV Excelsior/Reprodução

O mundo chorou com suas lesões em 1962 e 1966, mas se encantou com o camisa 10 da maior seleção que o planeta já viu em 1970. Recordista de gols, de títulos. Marcas que são perseguidas pelos maiores talentos desta e de outras gerações que já se despediram sem conseguir igualá-las.

Esforço inútil. Pelé, por mais que tenha números excepcionais, não se resume a isso. O Rei cometeu suas falhas enquanto cidadão, como todos nós, e durante anos foi apontado como alguém de menor importância em seu próprio país.

Prefiro ficar com a mensagem deixada por ele no momento de sua maior glória individual, o gol mil:

'' Afirmo que devo tudo o que sou ao povo brasileiro. E faço um apelo para que nunca se esqueçam das crianças pobres, dos necessitados e das casas de caridade. Vamos defender os pobres, vamos defender as criancinhas necessitadas. Vamos ajudar todo mundo, pelo amor de Deus. O povo brasileiro não pode esquecer das crianças.''

Muito obrigado, Rei! Viva Pelé! E que nunca nos esqueçamos de ensinar às crianças quem foi ele!