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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fase acessível do Real não pode tirar o foco principal do Flamengo

Colunista do UOL

19/01/2023 04h00

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Ainda não se tem certeza da realização desse jogo, mas pouco mais de três semanas antes do virtual confronto entre Real Madrid e Flamengo no Mundial de Clubes, o tema já domina os debates em programas esportivos e conversas presenciais ou virtuais entre os torcedores. O time espanhol realmente não vive um bom momento, mas o rubro-negro tem que ter cuidado para isso não lhe afastar da realidade.

Em primeiro lugar é preciso passar das semifinais. Não são poucos os times sul-americanos que foram ao Mundial e acabaram surpreendidos. Isso não tem necessariamente a ver com a qualidade da equipe. Clubes que chegaram em ótimo momento neste perigoso jogo, sucumbiram, e os possíveis adversários do Flamengo não são tão frágeis.

O time carioca vai encarar o vencedor de Al Hilal e Wydad Casablanca no jogo que pode ser prévio à final. O clube saudita é um velho conhecido. Complicou demais a vida do Flamengo na semifinal do Mundial de 2019. Chegou a estar vencendo até o início do 2º tempo. Atualmente é treinado pelo experiente argentino Ramon Diaz e tem bons jogadores em seu elenco.

Michael e Cuellar, ambos com passagem pelo rubro-negro, são dois exemplos. O centroavante argentino Vietto e o atacante peruano Carrillo completam o quarteto de sul-americanos titulares. Ainda há o melhor jogador saudita da atualidade - Salem Al-Dawsari -, o malinês Moussa Marega, e Kanno, meia que fez ótima Copa pela Arábia Saudita. O time não perde desde outubro.

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Ex-Flamengo, Michael disputará o Mundial de Clubes pelo Al Hilal, da Arábia Saudita
Imagem: Divulgação / Al Hilal

Já o Wydad Casablanca não possui jogadores tão conhecidos, mas terá o ''fator casa'' a seu favor, e tem uma torcida muito pulsante. O atacante senegalês Bouly Sambou é o principal jogador do time. O clube venceu a Champions League Africana ao bater o gigante do continente Al Ahly na final. O técnico era Walid Regragui, que comandou a ótima seleção marroquina na última Copa do Mundo.

Não bastassem os desafios pré-Real, é necessário manter os pés no chão para entender a distância existente entre o maior nível do futebol de clubes da Europa e o dos demais continentes. Mesmo a América do Sul estando casas à frente da África e da Ásia, por exemplo, ainda há um abismo considerável.

O próprio Flamengo em 2019, e o Palmeiras, no ano passado, fizeram jogos duros e competitivos contra Liverpool e Chelsea respectivamente, mas nos momentos em que as equipes inglesas tiveram foco e intensidade em campo, a diferença apareceu com força.

Esse, aliás, pode ser um dos trunfos do rubro-negro. O pouco interesse dos europeus no Mundial é verídico. Uns são mais afeitos a este jogo e outros menos, mas certamente nenhum deles encara como um sul-americano. Jogar com a obrigação do Real Madrid vencer seria salutar e pode definir a postura tática ideal dentro de campo.

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Gabigol durante a final do Mundial Interclubes de 2019 entre Flamengo e Liverpool
Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Imaginar o Flamengo esperando os merengues para jogar somente em contra-ataques com os jogadores que tem é difícil. A natureza de Everton Ribeiro, Pedro, Arrascaeta e Gabigol é outra, mas não se expor tanto é aconselhável. O próprio time espanhol ganhou diversos jogos recentes quando teve espaço para o contragolpe, e encontrou dificuldades imensas diante de defesas mais fechadas.

Voltar do Marrocos com o segundo título mundial de sua história vai exigir frieza e aversão ao ''oba-oba''. Entender o melhor cenário contra um time mais potente tecnicamente, algo que o Flamengo quase nunca enfrenta, será determinante para conseguir ser competitivo. E, antes disso, rechaçar a ilusão de que o clube já está na final é o antídoto para ter acesso ao desejado jogo.