A ATP e o dilema da linha tênue que divide personalidade e molecagem
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Há alguns anos, diante da perspectiva das aposentadorias de Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray, a ATP começou a promover fervorosamente sua nova geração de atletas. Criou a hashtag #NextGen e badala até hoje gente como Nick Kyrgios, Alexander Zverev, Daniil Medvedev, Stefanos Tsitsipas, Denis Shapovalov, Félix Auger-Aliassime, Andrey Rublev, Frances Tiafoe e outros.
Jovens talentosos, jogando um tênis vistoso, subindo no ranking e encantando o planeta. Tudo lindo, tudo maravilhoso. Só que? não. Aos poucos, esses jovens milionários vão mostrando que o futuro do tênis não tem um rostinho tão lindo como a ATP vende. E isso nunca ficou tão claro em tão pouco tempo quanto nesta semana, justamente durante a ATP Cup, um evento novo que a entidade quer que o mundo inteiro pare para ver.
Começou com Alexander Zverev, que destruiu raquetes (até aí, novidade nenhuma) e foi mais longe, disparando um monte de palavrões para seu pai, que estava sentando junto com o time alemão e foi às lágrimas logo depois.
Alguns dias mais tarde, foi a vez de Stefanos Tsitsipas destruir uma raquete, inclusive acertando de raspão o braço de seu pai, capitão da Grécia na competição. O tenista foi punido com uma advertência por conduta antiesportiva e, mais tarde, recebeu outra punição e perdeu um ponto porque mandou violentamente uma bolinha na placa lateral (correndo o risco de acertar alguém na plateia). Ciente de que perderia um game e seria desclassificado se mantivesse a atitude, comportou-se dignamente até o fim.
O caso mais recente foi o de Daniil Medvedev, já pelas quartas de final da ATP Cup. Em um jogo quente contra o argentino Diego Schwartzman, o russo bateu boca com o rival e, mais tarde, deu duas raquetadas na cadeira do árbitro, o sueco Mohamed Lahyani, que tentava alertá-lo. Medvedev tomou duas punições: uma advertência e um point penalty. Assim como Tsitsipas, diante da ameaça de perder um game na próxima ou até de ser desclassificado, o russo calou-se e comportou-se dignamente até o fim da partida.
Três jovens com até 23 anos, três gestos de gente imatura. A nova geração da ATP, que também inclui o encrenqueiro Nick Kyrgios, começa a se parecer mais com um punhado de jovens milionários mimados do que com um grupo talentoso capaz de levar adiante o legado e atrair público da mesma maneira que Federer, Nadal, Djokovic e Murray.
A cada dia que passa, parece mais provável que o tênis masculino vai sofrer um baque gigantesco com o afastamento dos ídolos de hoje. Cabe à ATP, que tanto divulgou e promoveu esses jovens talentos, encontrar uma maneira de estabelecer limites para seus futuros astros e impedir que o circuito seja transformado em circo - o que, convenhamos, dá audiência (embora possa diminuir o valor final do produto). Ou isso ou abraçar a causa, montar o picadeiro e pagar (literalmente!) para ver no que isso tudo vai dar?
Coisas que eu acho que acho:
- Ninguém quer tenistas calados durante três sets. É preciso que haja espaço dentro das regras para que atletas mostrem sua personalidade e cativem fãs. No entanto, se esse espaço permite que o pai de um atleta desande a chorar (seja de vergonha ou mágoa) durante o jogo e outro saia com o braço machucado por uma raquetada... É preciso parar e pensar.
- Diante de tudo que aconteceu, é fácil destacar que Nick Kyrgios comportou-se muito bem em toda competição (por enquanto!). Também é fácil entender: o australiano está em uma espécie de liberdade condicional desde setembro do ano passado. Caso receba qualquer punição por mau comportamento até 30 de março, será suspenso por 16 semanas e pagará mais US$ 25 mil de multa (ele já precisou pagar US$ 113 mil em Cincinnati/2019).
- O bom comportamento de Kyrgios durante este período parece apontar para uma conclusão simples: o australiano tem total noção do que faz em quadra e de suas consequências. Ou seja, suas confusões são molecagem pura. Diante do risco de uma suspensão realmente pesada, o garotão sabe como se portar.
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