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Entre incertezas e polêmicas, ATP volta com Djokovic encabeçando Cincinnati

Peter Staples/ATP Tour via Getty Images
Imagem: Peter Staples/ATP Tour via Getty Images

Colunista do UOL

22/08/2020 04h00

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Um caso de covid e duas desclassificações contestadas pela maioria dos tenistas; questionamentos quanto aos critérios de uma volta aos torneios que não engloba todos tenistas; ausências de Rafael Nadal, Roger Federer e Stan Wawrinka; zebras no qualifying; e Novak Djokovic, um líder criticado por sua postura durante a pandemia. É nesses termos que a elite do tênis masculino volta às quadras neste sábado, primeiro dia da chave principal do Masters 1.000 de Cincinnati - torneio disputado em Nova York e sem público este ano.

No tênis, o "novo normal" passa tão longe do que nos acostumamos a ver quanto o bom comportamento de Nick Kyrgios (vide isto e isto). A começar pelo cenário em que será disputado o Masters de Cincinnati desta ano: em Nova York, no mesmo complexo do US Open, sem público, sem juízes de linha (será usado o Hawk-Eye Live), com tenistas confinados em uma "bolha de segurança" em que só é permitido ir do hotel oficial ao torneio e vice-versa. A não ser para os mais abastados, como Novak Djokovic e Naomi Osaka, que alugaram casas para eles e suas equipes, pagaram extra por um "segurança" oficial, um funcionário do torneio que supostamente garante que esses tenistas e seus estafes não furarão a bolha de segurança.

O retorno do circuito, por si só, é alvo de críticas. Nesta sexta-feira, por exemplo, o ucraniano Sergiy Stakhovsky reclamou de como o US Open deste ano terá menos tenistas competindo. Entre outros itens, o ex-integrante do Conselho dos Jogadores lembrou que o torneio não terá qualifying, o que excluirá 128 tenistas, dando menos chances a tenistas de ranking mais baixo. E Stakho nem mencionou que a chave de duplas do US Open foi cortada pela metade. O torneio de duplas mistas, por sua vez, nem será disputado.

Outra polêmica da semana que antecedeu o Masters de Cincy envolveu um caso positivo de covid. Quem testou positivo foi Juan Manuel Galván, preparador físico do argentino Guido Pella e do boliviano Hugo Dellien. Os dois tenistas acabaram impedidos de jogar o torneio. Ambos tiveram resultados negativos, mas pelo contato que tiveram com o preparador foram obrigados a fazer quarentena. O argentino estaria na chave principal, enquanto o boliviano planejava jogar o quali.

Segundo relato do jornal espanhol Marca, muitos dos jogadores na bolha se incomodaram com a eliminação de Pella e Dellien. O diário publicou que Novak Djokovic chegou a liderar um movimento recolhendo assinaturas dos atletas para tentar liberar os dois atletas. Não houve, contudo, alteração na "punição" aos dois. O qualifying começou na quinta-feira sem Dellien, e a chave principal foi divulgada no mesmo dia sem Pella. Na sexta-feira, o russo Daniil Medvedev disse que a grande maioria dos tenistas foi contra a eliminação do argentino e do boliviano.

É impossível não mencionar os desfalques. Rafael Nadal e Stan Wawrinka, por exemplo, preferiram ficar na Europa. O suíço, aliás, preferiu disputar um torneio da série Challenger, em Praga, no saibro - provavelmente já buscando ritmo para competir no saibro, pensando em Roland Garros. Nick Kyrgios citou sua saúde para justificar a permanência na Austrália. Roger Federer, que ainda se recupera de duas cirurgias no joelho, é outra ausência mais do que relevante.

Novak Djokovic, número 1 do mundo e invicto em 2020 (foi campeão da ATP Cup, do Australian Open e do ATP 500 de Dubai), encabeça o grupo. O sérvio ainda não deixou para trás totalmente as polêmicas que se envolveu durante a paralisação do circuito. Recentemente, deu entrevista ao New York Times dizendo que "se tivesse a chance de fazer o Adria Tour de novo, faria de novo". O circuito de exibições, que foi interrompido precocemente, teve nove casos positivos de covid-19 entre os principais envolvidos. Na mesma entrevista, o número 1 declarou que na bolha de segurança "preciso ser responsável e, claro, respeitar as regras e restrições como qualquer outro." No entanto, depois de chegar a Nova York, liderou o movimento para recolocar Pella e Dellien no torneio, indo de encontro ao que manda o protocolo de segurança.

Dentro de quadra, os resultados não ficaram tão perto assim do que se esperava. Dos 12 principais cabeças de chave do qualifying que brigavam por 12 vagas na chave principal, apenas um (Aljaz Bedene, cabeça 4) confirmou seu favoritismo. Outros nove cabeças caíram logo na primeira rodada do quali.

Thiago Monteiro, número 1 do país, brigava por um lugar na chave, mas teve de abandonar na segunda rodada do quali por causa de um estiramento no adutor direito. A questão física, aliás, é outro grande ponto de interrogação em Cincinnati. Não se sabe em que forma cada tenista chegou em Nova York, muito menos como eles lidarão com uma eventual sequência de partidas.

De certeza mesmo, só o favoritismo (no papel!) de Djokovic, o melhor tenista do planeta na atualidade, e de Dominic Thiem, que além de ser o cabeça de chave 2 em Cincinnati, disputou 28 (!!!) partidas e ganhou três torneios amistosos (no saibro, em quadra dura e na grama) durante a paralisação. Se isso vai se confirmar quando as primeiras bolas entrarem em jogo, aí é outra história - para outro post. Até lá.

Coisas que eu acho que acho:

- Ao justificar sua hospedagem em uma casa fora da bolha "hotel-torneio", Djokovic admite que é um luxo, mas ressalta que todos tenistas tiveram a chance de fazer esse investimento (vide tweet mais acima). O sérvio cai em uma grande contradição, visto que até Andy Murray achou que os valores cobrados pelo US Open para esse "luxo" eram absurdos. Dizer que todos tiveram essa chance é esquecer que muitos dos 127 outros tenistas na chave do US Open vivem outra realidade financeira. Pisou na bola o número 1.

- Novidade interessante no SporTV: Joana Cortez estreia hoje como comentarista do canal. Ela também vai participar das transmissões do US Open. O canal global, que ainda detém a exclusividade dos Masters 1000, vai exibir o torneio de Cincinnati no SporTV sempre a partir das 12h (de Brasília). Boa sorte à Joana e ao canal nessa reta final com os Masters 1000.

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