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No US Open do caos, até governador é chamado para decidir sobre jogo

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

05/09/2020 04h00

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Há pouco mais de duas semanas, um preparador físico testou positivo para covid e causou a exclusão de dois tenistas do Masters 1000 de Cincinnati. A eliminação dos dois - o argentino Guido Pella e o boliviano Hugo Dellien - provocou a ira de tenistas que, liderados por Novak Djokovic, fizeram um abaixo-assinado para que os dois fossem liberados para jogar. Não adiantou. Começava ali, contudo, uma série de episódios confusos e mal explicados na "bolha" de segurança organizada pela USTA, a federação de tênis dos Estados Unidos, que culminaram com o atraso de uma partida que só veio a acontecer porque foi autorizada, a título de exceção, depois de um cabo-de-guerra político envolvendo a prefeitura e o governo do estado de Nova York.

Antes do US Open, quando o torneio de Cincinnati se desenrolava, tudo parecia resolvido, ainda que sob queixas, com as exclusões de Pella e Dellien. No entanto, no último sábado, dois dias antes do início do torneio nova-iorquino, o francês Benoit Paire testou positivo para covid. Para piorar, a "investigação" conduzida pela organização constatou que ele teve contato próximo com 11 pessoas. Se a regra estipulada pela USTA e aplicada a Pella e Dellien fosse mantida, os 11 (entre eles, sete tenistas) também teriam de ser excluídos do US Open.

No entanto, a organização do torneio tomou um pequeno desvio da rota inicial. Em vez de expulsar os sete e confiná-los por 14 dias no hotel, a USTA, apoiada pela autoridade de saúde da cidade de Nova York (leia-se "prefeitura"), criou novas regras. Redigiu um documento com novas medidas de restrição para os 11 e exigiu que todos assinassem. Seguindo esse regulamento improvisado, eles poderiam continuar no US Open, mas: seriam testados todos os dias; não poderiam sair de seus quartos a não ser para irem ao torneio e só com hora marcada; não teriam mais acesso a áreas comuns como vestiários e refeitórios; usariam equipamentos de academia separadamente e apenas com horário marcado; não poderiam receber visitas no quarto; e refeições no hotel só poderiam ser feitas com entrega no quarto.

Os problemas logo ficaram evidentes. Primeiro porque a USTA se recusou a comentar por que Pella e Dellien foram tratados de maneira diferente que os outros sete tenistas. Depois porque houve quem assinou o documento, mas se queixou das restrições - caso da francesa Kristina Mladenovic, que disse ter sido testada dez vezes, todas com resultado negativo. Por outro lado, houve também quem gostasse do tratamento "diferenciado", como o também francês Adrian Mannarino, pivô do drama desta sexta-feira. Esse episódio peculiar, no entanto, começou com a belga Kirsten Flipkens de protagonista.

Eliminada do US Open nas chaves de simples e duplas, Flipkens, mais uma integrante do grupo que ficou conhecido como "Os 11 de Paire", soube nesta sexta que, por ordem do condado de Nassau, ela não poderia mais sair de seu quarto até o fim do período de quarentena. Uma medida estranha, já que na noite anterior ela foi informada que teria de ficar em Nova York, respeitando a quarentena, mas poderia continuar saindo de seu quarto, desde que seguindo as limitações do "novo" regulamento.

É aí que o roteiro ganha contornos seinfeldianos. Segundo a bem informada jornalista canadense Stephanie Myles, alguém da imprensa francesa reportou que Flipkens foi vista no aeroporto JFK, o maior de Nova York (coincidência ou não, isso aconteceu depois de ela postar uma foto do Veterans Memorial Coliseum, construção vizinha ao hotel oficial do torneio). Em seguida, Flipkens recebeu uma ligação de uma pessoa fazendo uma série de perguntas sobre seu paradeiro. Ao mesmo tempo, Adrian Mannarino recebia a informação de que não seria autorizado a entrar em quadra.

Mannarino enfrentaria Alexander Zverev pela terceira rodada, mas a partida foi subitamente adiada pela USTA. Quando todos se indagavam o que tinha acontecido, a federação, que certamente não vai ganhar uma estrelinha dourada no boletim ao lado do quesito "transparência", soltou um comunicado (não) dizendo o seguinte: "A partida Zverev-Mannarino foi adiada enquanto um diálogo colaborativo com oficiais de saúde foi conduzido." ... "Dada a sensibilidade dos assuntos médicos envolvidos, a USTA não pode fornecer mais detalhes."

A partida, que estava marcada para começar às 14h30min locais, só teve seu início no fim da tarde. A explicação só veio depois do duelo, quando o próprio Mannarino publicou um texto em suas redes sociais. O departamento de Saúde do estado de Nova York se sobrepôs à prefeitura, que havia permitido a continuidade dos 11 no torneio. Quando o governo estadual soube dessa permissão - o que só aconteceu nesta sexta - mandou excluir Mannarino do evento. Foi aí que a USTA, tentando corrigir a correção da correção, passou a buscar contato com o governador de Nova York, Andrew Cuomo, pedindo uma exceção. Até Novak Djokovic disse, mais tarde, que tentou falar com o político. Cuomo, contudo, é um cidadão ocupado, e a demora para que houvesse a comunicação causou o atraso. No fim das contas, o governador autorizou, a título de exceção, que Mannarino jogasse.

E ainda faltam nove dias de torneio...