De "Covid Tour" a bolada em juíza, atos e fatos abalam imagem de Djokovic
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Dentro de quadra, a temporada 2020 de Novak Djokovic era espetacular até ontem (6). Em janeiro, foi campeão do Australian Open derrubando Roger Federer e Dominic Thiem. Em fevereiro, conquistou o título do ATP 500 de Dubai superando Stefanos Tsitsipas. No fim de agosto, após a paralisação do circuito pela pandemia, Nole foi campeão do Masters 1000 de Cincinnati. Estava invicto e somando 26 vitórias. Até que acertou uma bolada no pescoço de uma juíza de linha e foi desclassificado do US Open.
Fora de quadra, no entanto, Djokovic protagonizou episódios que, de diferentes maneiras, prejudicaram sua imagem inclusive dentro de sua própria base de fãs. Uma sequência de atos e fatos que incluíram a organização de um circuito de exibições que terminou de forma antecipada após contaminações de Covid; uma série de lives propagando ideias de como purificar água com a mente e pular em trampolins para eliminar toxinas; um forte posicionamento contra vacinação obrigatória; a polêmica renúncia ao cargo de presidente do Conselho de Jogadores da ATP; e, agora, a desclassificação no US Open.
O fracassado "Covid Tour"
Enquanto o circuito mundial estava paralisado por conta da pandemia do novo coronavírus, Novak Djokovic planejou a organização do Adria Tour, um circuito de torneios de exibição que seria disputado em quatro cidades nos Bálcãs: Belgrado, Zadar, Montenegro e Banja Luka. Além disso, haveria uma exibição em Sarajevo. O evento era bem intencionado e tinha como objetivo arrecadar fundos para projetos humanitários na região.
A primeira etapa, em Belgrado, foi realizada sem quase nenhuma medida de distanciamento social ou preocupação com Covid-19. As arquibancadas ficaram lotadas, os competidores se abraçavam a todo momento, e o fim de semana foi encerrado com uma grande festa que incluiu tenistas dançando sem camisa no ambiente fechado de uma boate.
Djokovic se defendeu das críticas alegando que tudo foi realizado de acordo com as autoridades locais, mas o resultado não foi nada bom. A segunda etapa, em Zadar, foi cancelada antes da final quando Grigor Dimitrov revelou testar positivo para covid-19. Depois, também testaram positivo Novak Djokovic e sua esposa, o croata Borna Coric, o sérvio Viktor Troicki e sua esposa, o técnico de Dimitrov, e dois integrantes do time de Nole: Goran Ivanisevic, seu técnico, e Marco Panichi, preparador físico.
O episódio virou piada nas redes sociais, com muitos fãs de tênis trocando o sobrenome do número 1 do mundo por "Djokovid" e chamando o Adria Tour de Covid Tour. O sérvio também foi criticado publicamente pela ATP e até por tenistas polêmicos, como Nick Kyrgios e Tennys Sandgren.
Antivacina
No tempo livre durante a pandemia, Djokovic conversou com várias personalidades ao vivo na internet. Uma live com Andy Murray, em especial, fez muito sucesso. Papos com Stan Wawrinka e Maria Sharapova também tiveram boa audiência e repercussão - a russa, entre risos, pediu que o sérvio não falasse sobre abraçar árvores.
Uma conversa com outros atletas sérvios, porém, causou o que foi a primeira polêmica do ano para Nole. Ele revelou ser contra vacinas e disse que não saberia o que fazer se fosse obrigado a tomar uma injeção contra Covid-19 para voltar a competir. A declaração repercutiu mal, e Djokovic ganhou nas redes o apelido "Novaxxx", um jogo de palavras em inglês com "não" e "vacina".
Agora em agosto, pouco antes do começo do US Open, o número 1 do mundo deu uma entrevista ao New York Times explicando sua posição. "Vi que a imprensa internacional tirou isso de contexto um pouco, dizendo que eu sou completamente contra vacinas de qualquer tipo. Minha questão com vacinas é se alguém está me forçando a colocar algo no meu corpo. Isso eu não quero. Para mim, é inaceitável. Não sou contra vacinação de qualquer tipo porque quem sou eu para falar de vacinas quando há pessoas que estão na medicina salvando vidas pelo mundo? Tenho certeza que há vacinas que têm poucos efeitos colaterais que ajudaram pessoas e ajudaram a impedir a transmissão de algumas infecções pelo mundo".
Na mesma entrevista, Djokovic questionou a eficácia de vacinas especificamente contra o novo coronavírus: "Como estamos esperando que isso [vacinas] resolva nosso problema quando este coronavírus está sofrendo mutações regularmente pelo que entendo?", questionou
A pseudociência
Outra live controversa envolveu o amigo pessoal Chervin Jafarieh, ex-corretor de imóveis que fundou uma empresa chamada Cymbiotika, que vende, entre outros produtos igualmente intrigantes, o suplemento Golden Mind, "formulado para provocar o ápice do desempenho mental e, mais importante ainda, fortalecer a estrutura do cérebro e proteger contra o declínio cognitivo do envelhecimento". O frasco individual custa US$ 58 (R$ 307,67).
Em um momento do papo, Djokovic revelou consumir um dos produtos de Jafarieh, o Coated Silver, que custa US$ 120 (R$ 636,55) e é composto por nanopartículas de prata, água e polissacarídeos. Jafarieh promete que a prata, quando ingerida da forma correta, neutraliza vírus e fungos e fortalece o sistema de defesa do organismo.
Em outro trecho da conversa, o tenista e o amigo alegam que a conexão correta no momento de beber água é capaz de mudar a composição molecular do líquido. Djokovic afirma que o processo não tem a ver com nutrição e que as pessoas ainda devem comer e beber, mas ressalta: "Conheço algumas pessoas que por meio da transformação energética, por meio da força de orações, por meio do poder da gratidão, conseguiram transformar a mais tóxica das comidas ou talvez a água mais poluída na água mais curativa porque a água reage". O tenista reforça seu raciocínio alegando que cientistas já provaram que as moléculas da água reagem às nossas emoções e ao que é falado (veja acima).
Coronavírus transmitido via 5G?
Jelena, esposa de Djokovic, compartilha o estilo de vida natural de Novak e, a julgar por um episódio recente, também parece acreditar em uma ciência alternativa. No começo de abril, ela postou em sua conta no Instagram o vídeo de um cientista chamado Thomas Cowan. Para ele, a tecnologia de internet móvel 5G é responsável pela propagação do novo coronavírus. Cowan argumenta que as antenas recentemente instaladas violaram o sistema imunológico das pessoas, provocando a pandemia. O vídeo já foi visto mais de 400 mil vezes, mas o Instagram o rotulou como informação falsa. Embora Jelena tenha feito a postagem no dia 1º de abril, jamais disse que se tratava de uma brincadeira e tampouco apagou o vídeo.
Renúncia a cargo na ATP
A polêmica mais recente envolvendo Djokovic aconteceu pouco antes do início do US Open. Alegando que os tenistas não são representados da melhor maneira pela ATP, a entidade que rege o circuito mundial masculino, o número 1 do mundo renunciou ao cargo de presidente de Conselho de Jogadores e formou uma associação paralela chamada Professional Tennis Players Association (PTPA) junto com o canadense Vasek Pospisil e John Isner, que também deixaram seus cargos no Conselho. Eles posaram para uma foto simbólica em uma das quadras do US Open. Em um documento enviado a alguns tenistas, o grupo afirma que "o objetivo da PTPA não é substituir a ATP, mas dar aos jogadores uma estrutura de governança própria independente da ATP e e que dê respostas diretas às necessidades e preocupações dos jogadores membros".
A medida foi amplamente criticada no circuito, especialmente pelo momento - durante uma pandemia, quando torneios vêm tentando criar soluções e ajustar protocolos para que seja possível dar sequência ao circuito de maneira segura. Rafael Nadal e Roger Federer, também integrantes do Conselho, manifestaram-se contra o sérvio. O brasileiro Bruno Soares e o sul-africano Kevin Anderson, que também formam o órgão representativo, fizeram o mesmo. Além disso, os quatro torneios do grand slam, juntamente com ATP, WTA e a Federação Internacional de Tênis (ITF) divulgaram um comunicado conjunto ressaltando a necessidade de união no esporte e criticando a formação da PTPA.
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