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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Thiago Monteiro fez ótima semana, mas deixou a desejar na reta final

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

06/02/2021 10h02

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Foram quatro vitórias, a primeira semifinal da carreira em um ATP 250 na quadra dura e 90 pontos na conta. A campanha no Great Ocean Road Open, um dos torneios pré-Australian Open, deve colocar Thiago Monteiro, atual número 1 do Brasil e 83 do mundo, perto do 74º posto, o melhor de sua carreira. Nada mau para um começo de temporada.

Nada mau mesmo. Porém, com um olhar um pouco mais ambicioso sobre a semana e as possibilidades, é impossível não apontar - e Monteiro deve estar concluindo o mesmo - que o brasileiro deixou a desejar na semifinal contra o italiano Stefano Travaglia (29 anos, #71 do mundo) e perdeu uma grande chance de alcançar sua primeira final de ATP. O cearense teria somado mais 60 pontos e alcançado um novo ranking mais alto para sua carreira.

Não é questão de ser pessimista ou excessivamente crítico. Monteiro já havia aproveitado chances antes no torneio. Bateu o alternate Thomas Fancutt (#437) na estreia (6/4 e 6/4) e superou outro alternate, Matt Ebden (#320), na segunda rodada (6/7, 6/4 e 6/3). A chave se abriu de verdade quando, nas oitavas, o brasileiro deixou de enfrentar David Goffin, cabeça 1 do torneio, para pegar o espanhol Carlos Alcaraz (#146), um garoto de 17 promissor o bastante para eliminar Goffin, mas jovem o bastante para ter altos e baixos em suas atuações.

Pois Monteiro foi lá, fez 7/6(3) e 6/3 sobre Alcaraz e, nas quartas, aplicou 6/4 e 6/4 em cima de Jordan Thompson (#52). Merece aplausos por aproveitar essas chances. Havia, contudo, mais uma boa oportunidade. Enquanto a metade de baixo da chave tinha Sinner e Khachanov em uma semifinal badalada e de altíssimo nível (Sinner venceu por 7/6 no terceiro set), Monteiro encarou Travaglia. Um jogo acessível contra um oponente que também buscava sua primeira final de ATP e entrou mal no embate, dando uma quebra de presente com erros bobos já no primeiro game.

Infelizmente, o que se viu depois disso foi um Monteiro não muito diferente daquele que já havia perdido boas chances em outros torneios. Um tenista com pouca variação, tentando tomar a dianteira dos pontos na base da pancadaria, fazendo pouco com as devoluções e excessivamente dependente do primeiro serviço. Quando o saque não entrou, as coisas se complicaram.

O brasileiro perdeu até uma boa chance de "voltar" ao jogo no segundo set, quando Travaglia saiu de 40/0 para ceder dois break points. Em um deles, Monteiro devolveu para fora um despretensioso segundo saque do italiano. Era o quarto game da parcial, e foi sua última chance real de equilibrar a partida. Depois disso, o cearense só ganhou mais três pontos no serviço de Travaglia.

Sim, Thiago Monteiro segue evoluindo sob a tutela de Fabian Blengino. A saída do Brasil (onde treinava na Tennis Route) e a contratação do argentino foi um passo inteligente e que vem dando frutos. O próximo passo precisa ser dado dentro da quadra e sob pressão. Não é fácil, mas é o que no momento separa Monteiro de seu objetivo: o top 50. O cearense é trabalhador e sabe o que quer. Que ninguém duvide que ele pode chegar lá.

Coisas que eu acho que acho:

- Este tipo de texto sempre é mal recebido pelos fãs e pachecos. Paciência. Você pode ficar o dia inteiro elogiando Monteiro por estar em uma semifinal de ATP e achar que tudo foi maravilhoso. Direito seu. Para mim, pensar assim é pouco ambicioso e, principalmente, pouco crítico (e, dependendo do caso, autocrítico). Quem olha só para o que fez não vê o que deixou de fazer e, sobretudo, por que deixou de fazê-lo. E é nesses porquês que estão as respostas importantes. Vale para tudo na vida.

- É um absurdo Monteiro perder para Travaglia? Longe disso. O ponto aqui é que tampouco seria absurda uma vitória do brasileiro. E encontrar Travaglia numa semifinal de ATP em quadra dura é uma rara chance que o cearense tinha totais condições de aproveitar. É isto que precisa ser enfatizado.

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