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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Naomi Osaka, a campeã que conta estatísticas de cabeça durante as partidas

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

22/02/2021 04h00

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Dentro de quadra, Naomi Osaka tem um saque dominante, golpes poderosos do fundo de quadra e uma leitura de jogo acima da média. Fora das arenas, a japonesa de 23 anos, também é uma voz ativa em questões sociais e políticas e, por isso tudo, atrai dezenas de marcas interessadas em patrociná-la. Não por acaso, é a mulher mais bem paga do mundo segundo a Forbes.

Não bastasse tudo isso, a campeã do Australian Open no último sábado e dona de quatro troféus de torneios do grand slam tem qualidades que vão além do que torcedores e analistas conseguem enxergar da beira da quadra. Uma dessas habilidades é a capacidade de computar estatísticas de cabeça durante as partidas. Quem revelou isso foi seu técnico, o belga Wim Fissette, em entrevista à revista holandesa Tennis Magazine.

"Estávamos treinando saques um dia, e eu disse que achava que o saque aberto, do lado da vantagem, era o saque preferido dela em pontos importantes. Ela respondeu dizendo que 'depende de que lado me ajuda mais a ganhar pontos nas partidas'. Eu não entendi o que ela quis dizer, então ela continuou: 'Eu conto os pontos que ganho quando saco para o forehand e para o backhand. Então, quando o momento é importante, vou sempre sacar para o lado que me deu mais pontos.' Aparentemente, ela computa estatísticas durante suas partidas."

Parece simples, mas não é uma prática tão comum no circuito profissional. E, na mesma entrevista, Fissette, um dos treinadores mais respeitados do circuito e que também conquistou slams como técnico ao lado de Kim Clijsters, Victoria Azarenka e Angelique Kerber, explicou que a japonesa tem uma capacidade acima da média de fazer ajustes táticos durante a partida por causa da postura de seu pai em seus primeiros torneios de tênis.

"Talvez isso soe como surpresa para alguns, mas ela é incrivelmente forte taticamente. Ela consegue ajustar seu jogo no meio de uma partida assim [rapidamente]. Ela me diz 'mas Wim, isso não é normal? Meu pai sempre me mandou disputar partidas sem plano de jogo nenhum. Eu tinha que descobrir por conta própria.' Essa é ela, enquanto muitas outras tenistas jovens são pesadamente orientadas antes das partidas, com uma quantidade infindável de instruções. É impressionante que o pai dela, sabendo o quão explosiva Naomi é como jogadora, sempre enfatizou a importância da construção de pontos, ralis com bolas cruzadas e escolhas inteligentes. Isso está marcado nela. Eu digo até que ela é cautelosa demais às vezes. Se você me perguntar, eu digo que ela pode ser até mais agressiva."

E se hoje em dia Osaka mostra um tênis dominante em quadras duras (venceu o Australian Open e o US Open duas vezes casa), Fissette lembra que há margem para a japonesa evoluir e falou sobre em que áreas específicas sua atleta pode melhorar.

"Já trabalhamos nisso, mas [a principal área de evolução] é a transição para a rede. Ela nunca fez muito isso e continua sendo uma questão difícil. Eu sugeri focar no jogo de rede durante as quatro primeiras semanas de lockdown. Fizemos isso, mas continua sendo algo não natural para ela. Ainda é uma zona desconfortável, onde ela não passou tanto tempo, mas ela quer melhorar passo a passo. Exige tempo. É algo difícil de forçar. Ela precisa se tornar uma jogadora mais completa gradualmente. Trabalhamos em seu slice de backhand, mas isso também precisa melhorar. Ao mesmo tempo, o backhand normal dela na corrida é muito bom. Ela entra em toda bola de maneira linda e sempre consegue executar um golpe de qualidade. Portanto, não há uma necessidade total nisso, mas vamos continuar construindo."

Conseguem imaginar como será difícil derrotar Naomi Osaka se ela ainda conseguir evoluir tanto assim? O resto do circuito que se cuide...