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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Brasil na Billie Jean King Cup: uma derrota que merece aplausos

Divulgação/ITF
Imagem: Divulgação/ITF

Colunista do UOL

18/04/2021 04h00

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Faltou um setzinho. Na verdade, dois games. Os dois últimos que não vieram na derrota de Luisa Stefani e Carolina Meligeni diante de Katarzyna Kawa e Magdalena Frech no quinto jogo: 1/6, 6/2 e 6/4. As polonesas, em casa, souberam fazer ajustes e elevar o nível de seu tênis no momento mais importante. Venceram com méritos e conquistaram o direito de continuar na elite da Billie Jean King Cup.

O Brasil da capitã Roberta Burzagli, por sua vez, volta de Bytom rebaixado. "Rebaixado." Adjetivo duro para um time que, desfalcado de Bia Haddad Maia, a melhor simplista do Brasil, fez mais do que se esperava. Lutou como imaginávamos, ganhou até o que não esperávamos e sucumbiu logo quando o triunfo parecia sair do campo dos sonhos para o plano do palpável.

Por um par de horas, Laura, Carol e Luisa foram meu Shoeless Joe saindo do milharal. "Se você construir, ele virá", dizia a voz na cabeça de Kevin Costner. Pois o trio construiu um fim de semana memorável e, se a vitória não veio por um par de games depois de quase 11h de tênis, não deixei de me colocar de pé e aplaudir como fiz no clássico de 1989 (caro leitor, assista "Campo de Sonhos" urgentemente se ainda não pescou as referências).

Laura, que deu ao Brasil o primeiro ponto, o fez com todas características de uma bela "jogadora de Fed", diríamos uns tempos atrás - e só não dissemos porque Fernando Roese, o ex-capitão, não teve coragem de convocá-la. Hoje, podemos afirmar, com todas as letras, em negrito e itálico, que Laura é uma "bela jogadora de BJK Cup", ainda que a sonoridade do novo nome não ajude. A paulista deixou no passado uma dura derrota em quase 5h em Córdoba e fez de tudo em Bytom. Deu raça, gritou de alegria e de raiva, reclamou da arbitragem, foi ao banheiro após perder um set e até comemorou slice errado da rival. Passou seis horas em quadra e conquistou o pontinho - pontaço! - da sexta-feira. Palmas para ela.

Aquele pontinho de esperança foi o bastante para que Carol entrasse em quadra no sábado ainda com chances. A campineira saiu do saibro, seu piso favorito, e atravessou o Atlântico junto com Laura para encarar a quadra dura indoor de Bytom. E se os poloneses lhe deram um piso lento, melhor ainda. Carol tirou vantagem disso e da falta de confiança de Kawa, a #1 polonesa que, após seis derrotas seguidas no circuito, não tinha nem a fé de seu capitão e só entrou no sábado porque Urszula Radwanska deixou a desejar na tarde anterior. Carol correu, correu e, nos pontos que pareciam perdidos, correu ainda mais. Vibrou, levantou bola e, sim, atacou quando conseguiu diante de uma rival mais agressiva e mais potente. Com uma faca no pescoço, mas outra entre os dentes, arrancou bela virada no segundo set e empatou o confronto. Palmas para ela.

E Luisa, que chegou mais tarde em Bytom e, na hora derradeira, entrou numa quadra com três tenistas mais "quentes", que já haviam atuado no sábado? Uma menina que podia ter ficado em Charleston, perto de casa, jogando um WTA 250 com chances de título e de somar 280 pontos. Também cruzou o oceano e entrou na fogueira polonesa. Sacou bem, atacou e defendeu magistralmente na rede, movimentou-se o tempo inteiro e dominou a quadra no primeiro set. Palmas para ela.

Não conseguiu o mesmo nas parciais seguintes, quando Kawa e Frech tiveram sucesso sobretudo nas trocas com Carol no fundo de quadra. Luisa se segurou com ótimos saques (os mais velozes do fim de semana), mas a tarefa de carregar o time provou-se dura demais. No fim, o time polonês foi mais... time. Teve duas atletas que jogaram em nível mais alto, justamente quando mais precisaram. Méritos das donas da casa. Paciência. Fica a derrota, sim, mas que também fiquem aplausos para a apresentação brasileira.

Coisas que eu acho que acho:

- Quem me lê sabe que não sou adepto do pachequismo ou de elogiar brasileiros pelos simples fato de terem nascido dentro das mesmas fronteiras onde este blog está hospedado. Há, contudo, casos e casos. O fim de semana em Bytom foi daqueles que valem a pena acompanhar. Não foi um brilho de técnica - de nenhum dos lados - mas tirou o que havia de melhor nas meninas que vestiram verde-e-amarelo (ou o belo uniforme azul, no caso).

- Luisa teria tido mais sorte com outra parceira no quinto jogo? Talvez. Entre as que viajaram a Bytom, Laura Pigossi era quem tinha mais resultados em duplas. Por outro lado, se Luisa e Laura perdessem, alguém questionaria os porquês de escalar Pigossi após seis horas de jogo em cerca de 24 horas.

- O quanto pesou a ausência de Bia Haddad Maia? Considerando que a paulista vinha em uma ótima sequência, conquistando dois títulos de W25 em uma semana, é de se imaginar que sim, Bia tinha bastante a contribuir para o time. Ela, no entanto, preferiu disputar um W60 em Oeiras, Portugal, onde recebeu um wild card para a chave principal. Acabou derrotada na estreia. Escrevi o que acho de sua não-participação aqui no blog, cerca de um mês atrás

- "Ah, mas se a Iga Swiatek tivesse jogado, o confronto também teria sido diferente", pode argumentar o leitor. Sim, claro que seria. Aqui, assino embaixo do que postou Chico Costa, ex-capitão brasileiro na Davis: isso é problema das polonesas. O Brasil foi a Bytom sabendo que Iga não atuaria e, por isso, teria mais chances. Essas chances, porém, caem quando há um desfalque.

- "Por que você não citou a Gabriela Cé, número 1 do país?", seria outra questão válida. Gabi não jogou e, enquanto não duvido do valor de sua presença no banco, também acredito que Burzagli acertou ao não colocá-la em quadra. Já faz tempo que a gaúcha tem dificuldades para vencer. Ainda que a quadra fosse lenta e Gabi seja uma adepta do tênis de bolas altas, não era o tipo de ocasião para tentar fazer as polonesas dançarem a quadrilha.

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