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Federer: hora de apertar os cintos e curtir cada segundo do fim da viagem
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Roger Federer deixou a desejar no ATP 250 de Genebra. A expectativa é tanta cada vez que o suíço entra em quadra que não dá para qualificar de outra maneira sua segunda volta às quadras nesta temporada. Diante do espanhol Pablo Andújar, o suíço teve momentos de brilho, mas durante boa parte do tempo esteve hesitante, errático e movimentando-se de maneira instável - ágil em alguns pontos, inseguro em outros. Até seu segundo saque mostrou-se mais frágil do que o normal. Só que apesar de todas as dificuldades inerentes a um longo período fora das quadras, aos 39 anos e às duas cirurgias no joelho direito, o suíço lidou bem com um experiente rival e abriu 4/2 no terceiro set. Tinha o comando do duelo até que desabou. Perdeu quatro games seguidos e acabou derrotado por 6/4, 4/6 e 6/4.
Foi, sim, decepcionante. Nem tanto pela atuação de modo geral, mas pela reta final. Não foi um cansaço repentino que bateu depois de 1h35min de partida. Não foi o joelho que começou a doer nem Andújar que passou a jogar como clone de um certo compatriota. Federer foi simplesmente... mortal. Perdeu o controle de um rali que lhe daria 0/30 com o rival sacando em 2/4; errou feio uma direita quando sacava em 4/3 e 30/30; errou um forehand rotineiro, que ele já fez milhões de vezes, com a quadra aberta e o placar mostrando 4/5 e 15/30; e espirrou mais duas direitas - os últimos pontos do jogo.
Andújar, obviamente, teve seus méritos. Disparou dois aces para fechar o sétimo game; machucou o segundo saque de Federer no oitavo; mandou bolas fundas e pesadas quando teve a chance. Em um dia normal, ou melhor, alguns anos atrás, provavelmente não teria sido suficiente nem para tirar um set do suíço. Em Genebra, contudo, ele encarou uma versão diferente de seu ídolo.
Depois da partida, a repercussão não surpreendeu. Fãs manifestando seu desapontamento nas redes sociais, lamentando a atuação de seu ídolo e questionando a opção por competir em Roland Garros, em um piso que supostamente não favorece um veterano de 39 anos. Gente pedindo que ele se guarde para a temporada de grama, onde - repito - supostamente teria mais chances de conquistar outro slam (concordo que Wimbledon parece o melhor cenário). Torcedores pedindo aposentadoria, decretando que Federer não pode competir a não ser brigando por títulos.
Não que isso vá surpreender o leitor habitual do Saque e Voleio, mas... discordo da maioria. Federer, o grande Roger Federer dos 20 slams e dos mais de 100 títulos, o homem que flutua em quadra, o cara que nos deu o SABR e a Laver Cup, o cidadão dos winners de bate-pronto do fundo de quadra, o monstro que nos encheu os olhos, que nos encheu de lágrimas nas derrotas e nas vitórias... Esse Roger Federer deu tanto a tanta gente e por tanto tempo e que adquiriu o direito de ousar no procedimento de pouso de um voo que decolou 20 anos atrás.
Tudo indica que ele manterá os planos de competir em Roland Garros, que sempre foi seu triângulo das Bermudas pessoal (mantenhamos as metáforas aéreas). A julgar por suas declarações pós-Genebra, o suíço acredita que competir em Paris aumentará suas chances na grama. Ele precisa, afinal, recuperar ritmo de jogo e "aquela" confiança para ganhar pontos grandes e fechar partidas. Logo, o slam do saibro pode ajudá-lo, mesmo encarando a hipótese de acontecer o que alguns chamariam de vexame.
Tenho aqui minhas dúvidas. A não ser que o sorteio lhe coloque diante de um nome forte, eu não colocaria dinheiro em uma derrota de Roger antes das oitavas em Roland Garros. Mas e se acontecer? E daí? Vexame por quê? Esse mesmo Federer dos tantos adjetivos acima já adquiriu o direito de perder na primeira ou na segunda rodada de um slam. Se o que ele acredita ser o melhor caminho vai incomodar uma parcela de seus fãs... Se alguns ainda têm dificuldade para entender que este retorno, aos 39, não será como o retorno dos sonhos de 2017... Paciência.
Poucos fins de carreira são em voo de cruzeiro. A previsão mais comum inclui ventos fortes e momentos de turbulência, e Roger, por maior que seja, não deve ser exceção aqui. Encarar essa rota exige coragem, e Federer precisa ser admirado por topar encará-la em vez de dar meia-volta com seu jatinho particular e pousar numa ilha paradisíaca com sua família. E não importa se a pista de pouso está em Wimbledon, Tóquio ou no ano que vem. Os fãs de verdade confiam no comandante, já apertaram os cintos e vão saber valorizar cada segundo dessa jornada.
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