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Luisa Stefani é o melhor que aconteceu ao tênis brasileiro na última década

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

18/08/2021 11h06

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Manhã de segunda-feira, 16 de agosto. Pipoca na tela do celular mensagem de um amigo jornalista que esteve em Tóquio: "Luisa Stefani é agora o grande nome do tênis brasileiro?" Um dia antes, a paulista de 24 anos garantiu sua entrada no top 20 de duplas e tornou-se a primeira brasileira a levantar o troféu de um WTA 1000 ao conquistar o título de Montreal ao lado da canadense Gabriela Dabrowski.

Uma semana antes, Luisa e Gaby foram vice-campeãs no WTA 500 de San Jose, nos EUA. E uma semana antes disso, Luisa conquistou junto a Laura Pigossi uma das medalhas mais espetaculares da história olímpica do país - o bronze de duplas nos Jogos Tóquio-2020. Uma sequência gloriosa com frutos do belo trabalho feita pela brasileira. O ranking, afinal, conta os pontos de 52 semanas, e Luisa Stefani não chegou ao top 20 da noite para o dia.

Minha resposta na hora? "Espero que sim. Adoro a Luisa. Um amor de menina. Inteligente, trata bem a imprensa, joga muito..." Foi uma mensagem que saiu quase no automático. Pouco depois, enquanto almoçava num restaurante conhecido do centro de Petrópolis, me peguei pensando no assunto e chegando à seguinte conclusão: Luisa Stefani não só é o grande nome de hoje como é a melhor coisa que aconteceu ao tênis brasileiro em muito tempo. Em uma década, ouso dizer. E sim, sei bem que o mineiro Marcelo Melo foi número 1 do mundo por 56 semanas neste período e que Bruno Soares conquistou seis slams (três em duplas e outros três nas mistas).

O primeiro motivo para a minha opinião é, obviamente, o sucesso olímpico. Com o bronze, Luisa e Laura fizeram algo raríssimo: tiraram o tênis brasileiro de sua bolha. Elas apareceram no Jornal Nacional, no Jornal Hoje, no Fantástico, na CNN, na Record, na Jovem Pan, na Globo News e todo tipo de veículo que nunca mostra tênis. Danilo Gentili já pediu entrevista. Muita gente já aprendeu que seu sobrenome não é stéfani nem stefaní. É um alcance que a modalidade não tem no país desde Guga. Nem Thomaz Bellucci em seus melhores dias, naquela campanha de Madri/2011, teve tanto destaque.

Mas não é só a campanha bronzeada. Fosse "apenas" a medalha em Tóquio, Luisa poderia muito bem passar três anos esquecida pelo grande público (e, claro, a imprensa) como outros heróis olímpicos deste país. A paulista, porém, atravessou o Pacífico e já teve dois grandes resultados. E tudo, tudo mesmo, sugere que a carreira de Luisa só tem uma direção a tomar: para o alto.

Mais títulos significarão mais exposição para Luisa, que já falou sobre sua intenção de fazer o tênis crescer no Brasil. Até nisso, a moça está em outro patamar. Aos 24, podia curtir sua carreira, a fama e o dinheiro sem se envolver em uma questão que não é exatamente responsabilidade de tenistas (e temos exemplos recentes disso). Luisa, que mora e treina em Tampa, não precisaria nem dar as caras no Brasil. Ela, contudo, é diferente.

A medalhista também tem um exemplo importante a dar: é, sim, possível, jogar tênis universitário nos Estados Unidos e entrar no circuito de forma competitiva. É uma lição que muitos por aqui ainda precisam aprender. O college não precisa ser visto como uma rota para atletas incapazes de ganhar a vida no circuito profissional. Talvez seja mais inteligente olhar para o esporte universitário como uma estrada que ajuda a separar quem tem ou não as qualidades - técnicas e mentais - para ir longe na profissão (publicarei em breve uma entrevista em que a mãe de Luisa fala maravilhosamente sobre como sua filha cresceu nesse cenário).

Luisa "acontecer" também é bom por ela ser mulher em um país onde o tênis feminino é deixado de lado. Não há nenhum movimento de autoridade alguma para atrair mais meninas. A maioria acaba optando por vôlei ou basquete, modalidades com referências de sucesso no Brasil e muito mais baratas para os pais no alto rendimento. Luisa já é essa referência que faltava, mas não só isso. Desde muito tempo antes da medalha, ela já trabalha para estimular crianças a jogarem por aqui. Sua parceria com a Liga Tênis 10, conduzida de forma brilhante e, por que não, heróica pela Bruna Assemany no Rio de Janeiro, é louvável e ainda deve render muito (prometo escrever mais sobre isto em um futuro post).

Por fim, acima de tudo que escrevi nos parágrafos anteriores, Luisa sabe de sua importância e de como certos compromissos serão mais frequentes e mais exigentes proporcionalmente à sua ascensão no circuito. Ciente disso, atende à imprensa sempre com um sorriso no rosto, seja fazendo entradas ao vivo aqui e ali ou gravando vídeos e áudios diários para "alimentar" jornalistas e fãs. É muito mais do que alguns atletas que se destacaram recentemente. É muito mais do que ela tem a obrigação de fazer, mas repito: Luisa é diferente.

Coisas que eu acho que acho:

- A ESPN fez um excelente trabalho mostrando ao vivo pelo menos uma parte de cada um dos últimos três jogos de Stefani e Dabrowski no WTA 1000 de Montreal. Sim, na TV a cabo. As partidas também foram mostradas na íntegra via streaming no app do canal. Não me lembro de o SporTV mostrar três jogos seguidos de Bruno Soares e/ou Marcelo Melo num Masters 1000 - e lembremos que Melo foi número 1 do mundo por 56 semanas!