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Brasil na Davis: Monteiro se salva em revés que expõe roupa suja do tênis

EFE
Imagem: EFE

Colunista do UOL

06/03/2022 04h00

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O resultado não espanta ninguém, especialmente porque Alexander Zverev, número 3 do mundo, decidiu aparecer de última hora no Rio de Janeiro para ajudar a Alemanha a se classificar para a fase final da Copa Davis. Após dois dias de confronto na irregular quadra provisória montada no Centro Olímpico, os visitantes triunfaram por 3 a 1. Primeiro, Zverev bateu Thiago Wild por 6/4 e 6/2. Em seguida, ainda na sexta, Thiago Monteiro superou Jan-Lennard Struff por 6/3, 1/6 e 6/3. No sábado, Kevin Krawietz e Tim Puetz bateram Bruno Soares e Felipe Meligeni por 4/6, 7/6(4) e 6/4, e, por último, Zverev fechou a série ao fazer 6/1 e 7/5 em cima de Monteiro.

Como em todo confronto de Davis, porém, há o que elogiar e o que criticar, inclusive a roupa suja que foi exposta em uma série de tweets após a derrota brasileira nas duplas. Vejamos, então, quem foi bem e quem mandou mal no fim de semana.

Positivos

Thiago Monteiro sai bem mais forte do que entrou. Encarou um adversário que lhe derrotou confortavelmente nos dois duelos anteriores, não se deixou intimidar e fez dois sets brilhantes - especialmente o terceiro, em um nível altíssimo do começo ao fim. Soube levantar a torcida e alimentar-se dela. Anotou a maior vitória de sua carreira - com sobras! - na Copa Davis.

Felipe Meligeni fez uma bela partida no sábado, justificando sua escalação em detrimento do veteraníssimo multicampeão Marcelo Melo, que vem em péssima fase no circuito. Felipe não tremeu, vibrou muito e chamou a torcida. A vitória não veio porque Krawietz e Puetz formam um time muito forte. Krawietz, é bom lembrar, é bicampeão de Roland Garros, e nem os quiques ruins da quadra carioca tiraram o alemão do sério.

Jaime Oncins também sai mais forte. Teve personalidade o bastante (como sempre mostrou em quadra) para deixar Melo no banco e acreditar no potencial de Felipe. Há quem diga que Jaime não deveria ter levado Melo ao Rio de Janeiro (foi o que postou o ex-capitão brasileiro Chico Costa - vide tweet abaixo - e eu mesmo tuitei isso na quinta-feira), mas não dá para dizer que as decisões de Oncins afetaram negativamente o resultado final do confronto.

Neutros

Thiago Wild nem empolgou nem decepcionou. Teve uma partida a fazer, que era contra o número 3 do mundo, e não conseguiu ameaçar Zverev. Não que alguém esperasse algo muito diferente disso. Wild fez o que sempre faz. Ganha uma dúzia de pontos bonitos, comete outra dúzia de erros não forçados e reclama de si mesmo. No fim, os pontos bonitos não vieram em número suficiente - o que também costuma acontecer contra rivais de ranking inferior.

Bruno Soares continua competitivo a jogando em alto nível com seus recém-completados 40 anos de idade. Não dá para culpar a atuação do veterano pela derrota para Krawietz e Puetz. Dito isso, faz tempo que Bruno não vence uma partida realmente grande de duplas na Davis. A última foi em Buenos Aires/2015. De lá para cá, os confrontos mais importantes tiveram derrotas de Bruno. Algumas delas tiveram peso enormes em confrontos nos quais o Brasil tinha boas chances (Croácia, em Florianópolis/2015; e Bélgica, em Uberlândia/2020).

Negativos

A quadra merece destaque aqui. Não sou contra a utilização do Centro Olímpico - pelo contrário - mas o local foi construído com uma quadra dura (e ninguém reclamou na época, quando a Confederação Brasileira de Tênis, então dirigida por Jorge Lacerda, tinha a intenção de administrar o local). Fazer uma quadra de saibro provisória ali tinha seus riscos, e o que se viu nos dois dias foi uma superfície de jogo irregular e que provocou a ira de alguns tenistas em momentos diferentes.

E não foram só os quiques irregulares o problema. Por não ser uma quadra natural de saibro, ela ficou mais rápida e com pique mais alto do que o desejável para enfrentar Zverev, que tem um dos melhores saques do planeta. O serviço de Sascha, combinado com a velocidade do piso, os quiques irregulares e as devoluções de Monteiro (que continuam deixando a desejar), provou-se um obstáculo intransponível. Em quatro sets jogados, Zverev enfrentou apenas quatro break points e se salvou de todos. A dupla de Krawietz e Puetz também só perdeu o serviço uma vez.

Não é a primeira vez que uma quadra em casa prejudica as chances brasileiras. Em Uberlândia/2020, contra a Bélgica, a equipe brasileira saiu do confronto alegando que a quadra de saibro provisória e indoor ajudou o time rival. Monteiro disse que o piso estava mais rápido do que o ideal, e Soares apontou que os quiques irregulares complicaram sua vida nas devoluções.

A postura dos irmãos Marcelo e Daniel Melo também não esteve nem perto da ideal. No banco, Marcelo parecia em um tom diferente do resto da equipe. Enquanto Felipe Meligeni, Mateus Alves e a maior parte da equipe vibrava e empurrava os companheiros, Marcelo passou a maior parte do tempo ou ausente ou sentado olhando para o celular.

Daniel, seu técnico e irmão, fez a postagem acima logo depois da derrota de Bruno e Felipe nas duplas. Pouco depois, ao ver que a repercussão não foi boa, Daniel fez outra postagem dizendo "parem de polemizar". Parece que todo mundo entendeu a intenção do post, e Daniel se arrependeu. De todo modo, pegou mal e passou a imagem de alguém que não levou na boa a decisão do capitão Oncins ao escalar a dupla que foi para o jogo.

Brasil Davis - Luiz Cândido/CBT - Luiz Cândido/CBT
Imagem: Luiz Cândido/CBT
Coisas que eu acho que acho:

- Por mais que os tenistas façam algum (não muito, pelo visto) esforço para esconder problemas de relacionamento no tênis brasileiro, a cada derrota brasileira algum descontentamento vem à tona. Vejam o tweet de Daniel Melo acima e conectem os pontinhos com os tweets de Fernando Meligeni e sua sobrinha (e irmã de Felipe), Carol:

- Mais tarde, Daniel fez outro tweet:

- Não, não foi um simples emoji. Não naquele momento. Não depois daquele resultado. Daniel sabe disso, e os Meligeni sabem disso. Seria mais honroso admitir o erro e pedir desculpas, mas o tênis brasileiro, de modo geral, não é tão bom nisso.

- A parte mais triste disso tudo é que soa mais como uma disputa de egos do que qualquer outra coisa. Marcelo Melo está em uma fase ruim, com seu pior ranking em mais de uma década, e a escalação de Felipe Meligeni, que acaba de conquistar um título de ATP (um ATP fraco, é verdade) já era perfeitamente justificável antes do jogo. Depois de sua apresentação, ficou mais fácil ainda entendê-la. Escalar Marcelo no lugar de Bruno tampouco faria sentido.

- Marcelo e Bruno têm carreiras brilhantes, com feitos enormes, mas há dois pontos que acho necessário mencionar: 1) Juntos, eles não têm um grande resultado há muito tempo; e 2) Os dois são tão grandes que não há necessidade, a essa altura e com essa idade, de um ficar se comparando ao outro.

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