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5 momentos que mostram por que Alcaraz conquista o mundo do tênis

Carlos Alcaraz nas quartas de final do ATP 500 de Barcelona em 2022 - Divulgação / Barcelona Open
Carlos Alcaraz nas quartas de final do ATP 500 de Barcelona em 2022 Imagem: Divulgação / Barcelona Open

Colunista do UOL

23/04/2022 04h00

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Carlos Alcaraz é a maior sensação do circuito hoje, e os motivos para isso ficam mais evidentes a cada vez que o espanhol de 18 anos pisa numa quadra de tênis. Nesta quinta-feira, no ATP 500 de Barcelona, ele derrotou o número 5 do mundo, Stefanos Tsitsipas, que vinha de sete vitórias consecutivas e foi campeão do Masters 1000 de Monte Carlo na semana anterior.

Não foi tanto a vitória por 6/4, 5/7 e 6/2 que impressionou, mas como ela veio. Primeiro, com 25 minutos embasbacantes que resultaram na quebra que decidiu o set inicial e em uma vantagem de 4/1, com duas quebras de frente, no segundo set. Uma sequência cheia de pontos espetaculares que mostram o que Alcaraz é capaz de fazer nos seus melhores momentos. Vejamos trechos dessa sequência:

Curtinha preparada e executada à perfeição

O placar mostra 4/4 e 0/40, com Stefanos no saque. O ponto que dá Alcaraz a vantagem no primeiro set é especialidade da casa. Uma curtinha de direita que merece nota máxima não só pela precisão, mas pela preparação do ponto. Notem (no vídeo acima) que o espanhol prepara o ponto com os dois golpes anteriores. Primeiro, uma esquerda angulada que tirou Tsitsipas de sua zona de conforto. Depois, uma direita pesada e funda que colocou o grego dois metros atrás da linha de base. Tsitsipas não teve o tempo necessário para se reposicionar no meio da quadra, e a curtinha de Alcaraz é boa demais para o rival alcançar.

Encarada e foco total

No set point, Alcaraz subiu à rede e viu Tsitsipas tentar acertá-lo com uma bola potente disparada do fundo de quadra. O espanhol esquivou-se rapidamente e, depois de ganhar o ponto e o set, parou junto à rede e encarou o adversário. Mostrou que não se intimidaria. Mais importante ainda: nos games seguintes, jogou em altíssimo nível, comprovando que o gesto provocador do grego não afetou sua concentração.

Devolução e velocidade

Outras duas características que chamam atenção no tênis do adolescente: devoluções de saque agressivas e sua velocidade de deslocamento. No ponto acima, Alcaraz começa com um retorno agressivo. Tsitsipas devolve com uma direita espetacular - um quase bate-pronto do fundo da quadra que colocou a bola funda, com potência e na paralela. Seria um winner contra a maioria dos tenistas, mas Alcaraz, depois da devolução, teletransportou-se para a outra linha e não só alcançou a bola do grego como devolveu uma paralela vencedora de backhand. Obsceno.

Mais devolução

No ponto imediatamente seguinte, com o placar em 1/1 e 30/40 (veja no vídeo de highlights no alto do post), Alcaraz dispara outra devolução indefensável - desta vez de esquerda e na paralela. Soltou o grito, comemorou a quebra e ouviu a arquibancada de Barcelona explodir junto com ele.

Mais curtinha

O momento de Alcaraz era assustador, e o espanhol fazia o que queria com o grego. Com Tsitsipas sacando em 1/3 e 0/15 (também no vídeo do alto do post), o espanhol ousa uma curtinha de execução dificílima. De trás da linha de base e na paralela. O grego, no fundo de quadra e esperando uma cruzada funda, até ameaça ir na bola, mas logo desiste. Detalhe: o narrador da transmissão oficial até ri do nível que Alcaraz mostra naquele momento.

É claro que Alcaraz não venceu só por causa desses 25 minutos espetaculares. Houve uma enorme oscilação (falo logo abaixo) e, mais tarde, houve também uma demorada ida ao banheiro que recompôs o espanhol e enfureceu Tsitsipas (que ironia). Mas, no fim, a vitória mostra que Alcaraz está, como mostrou no Rio e em Miami, no caminho para conquistar o mundo do tênis e ser abraçado pelos fãs de Nadal e Federer.

Coisas que eu acho que acho:

- Não foi uma partida perfeita de Alcaraz. Longe disso. A coisa quase desandou depois de abrir 6/4 e 4/1. É até compreensível. Um garotão de 18 dava uma surra no número 5 do mundo e ouvia as arquibancadas cantarem seu nome a plenos pulmões. Era o cenário perfeito para alguém se perder, e não foi diferente com Carlos. Tomado durante um momento pela soberba adolescente de quem acredita que pode tudo, Alcaraz passou do ponto. Começou a espancar a bolinha em todos os lances, tentando fazer pontos improváveis em lances de baixa porcentagem. Esqueceu o plano tático e desandou a errar. Tsitsipas aproveitou, interpretou bem o momento e conseguiu a virada para forçar o terceiro set.

- A gente segue tentando evitar esse tipo de comparação, mas a coincidência é assustadora. Alcaraz entrará no top 10 pela primeira quando o ranking for atualizado na segunda-feira, dia 25 de abril de 2022. Ele tem 18 anos. Rafael Nadal apareceu pela primeira vez no top 10 em 2005, também num dia 25 de abril, logo depois do ATP de Barcelona. Rafa, que tinha 18 anos na época, foi o campeão daquele torneio.

- Para quem não entendeu o dilema de Tsitsipas, que tomou dois point penalties por demorar no banheiro: a regra atual (alterada após longos toilet breaks de Tsitsipas, é bom dizer!) diz que o tenista que vai ao banheiro entre os sets tem direito a três minutos para usar o toalete e mais dois se for trocar de roupa. Ao todo, são cinco minutos que devem ser cronometrados a partir do momento em que o atleta chega ao vestiário. Ou seja, se o vestiário for longe da quadra central, essa demora pode provocar uma paralisação bem longa no jogo. E foi o que aconteceu quando Alcaraz usou seu toilet break após a segunda parcial. A partida ficou parada por mais de sete minutos.

Tsitsipas teve seu serviço quebrado logo no primeiro game do terceiro set (o mundo dá voltas, não?) e, incomodado, resolveu ir ao banheiro após o terceiro game, quando o placar mostrava 3/0. Segundo a regra, porém, quem vai ao banheiro no meio de um set - e não ao fim - tem que usar o tempo regulamentar da virada de lado. Tsitsipas estourou esse tempo e foi punido com a perda de dois pontos. Quando Alcaraz começou o quarto game, já tinha 30/0 de vantagem. Dois pontos depois, fez 4/0. Tsitsipas reclamou absurdos com o árbitro de cadeira, inclusive dando a entender que não conhecia a regra - quem diria, não? - mas não teve o que fazer.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: Greek Tragedy, dos britânicos da banda The Wombats. Eles vieram até São Paulo para o Lolapallooza, tocaram 15 minutos e foram interrompidos por causa de um temporal. O show não foi retomado. Isso, sim, foi uma tragédia grega.

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