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Nadal x Djokovic, Episódio 59: as chaves da vitória de Rafa

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Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

01/06/2022 04h00

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Por tudo que já foi escrito neste blog e explicado no podcast Saque e Voleio, Novak Djokovic, atual número 1 e campeão de Roland Garros, era considerado grande favorito para derrotar Rafael Nadal nesta terça-feira, em Paris. No entanto, o que se viu foi um espanhol brilhante, agressivo e que agrediu mais durante a maior parte do tempo. Assim, saiu de quadra com um triunfo memorável por 6/2, 4/6, 6/2 e 7/6(4) sobre o grande rival.

Mas o que Rafa fez de tão eficiente para derrubar Novak? O que mudou em relação ao duelo do ano passado, quando o sérvio bateu o espanhol por 3 sets a 1 e conquistou o título? Por que agora, quando Djokovic vinha numa sequência de nove jogos e 22 sets sem perder, enquanto Nadal mostrava altos e baixos, o espanhol levou a melhor? É hora de analisar como o 13 vezes campeão de Roland Garros fez a diferença sobre o líder do ranking.

1. Agressividade

Nadal buscou sempre agredir primeiro nos ralis, e isso ficou muito nítido desde os games iniciais. Enquanto Djokovic adotou uma postura um tanto neutra - quase passiva - para começar a partida, Rafa foi ao ataque e foi com precisão. Foi assim que o espanhol ganhou a maioria dos pontos importantes no primeiro set (quebrou Nole duas vezes e salvou dois break points) e na primeira metade do segundo, quando venceu dois longos games no saque do sérvio. Foi assim também que Nadal disparou na frente no terceiro set e buscou a quebra para empatar a quarta parcial depois de salvar dois set points. Ou seja, quando precisou, Rafa foi ao ataque sem esperar erros de Djokovic e foi recompensado por isso. Ao fim do jogo, Rafa somou 57 winners contra 48 de Djokovic.

2. Devoluções fundas

Nadal não é o tipo de jogador que busca winners de devolução, então é fácil subestimá-lo no quesito, mas seus retornos nesta terça-feira foram fundamentais. Ano passado, o próprio Djokovic disse que, durante boa parte do duelo, ganhou pouquíssimos pontos de graça com o saque. No entanto, naquele dia, Rafa agrediu pouco o segundo saque do sérvio. Ontem, a história foi muito diferente.

Quando tinha a chance, Rafa enchia sua devolução de spin para evitar um ataque do sérvio e, quando conseguia a profundidade ideal no golpe, preparava-se para agredir já na segunda bola - de preferência, com o forehand. Assim, o espanhol tomava a dianteira dos pontos, colocando Nole na defensiva em seus próprios pontos de saque. O plano funcionou bem sobretudo no primeiro set, quando Djokovic teve aproveitamento de menos de 50% de primeiros serviços, mas Nadal também abriu caminho com ótimas devoluções em outros momentos do confronto.

3. Backhand afiado

O forehand de Nadal é uma arma letal. É de conhecimento público. Contra Djokovic, porém, ele não resolve sozinho do fundo de quadra. Rafa sabe que seus backhands têm que estar afiados. Ele precisa de seu backhand na paralela para mudar direção e sair das direitas anguladas do sérvio. Ao mesmo tempo, o golpe precisa funcionar igualmente bem na cruzada para punir paralelas mais curtas de Nole e abrir a quadra para um ataque no golpe seguinte.

Ano passado, o número 1 do mundo conseguiu prender Nadal no fundo da quadra e forçá-lo a bater backhands defensivos, muitas vezes perto da linha de duplas. Ontem, não. Desde o primeiro game, Rafa mostrou que seus backhands estavam calibrados, prontos para agredir os dois lados do sérvio. E eles fizeram a diferença tanto no primeiro game, forçando dois erros de Djokovic, quanto no último ponto, quando uma cruzada deslocou Djokovic e preparou o ponto para a paralela indefensável que fechou um tie-break muito nervoso àquela altura.

4. Subidas à rede

Para o desgosto de puristas e preconceituosos (aqueles que só veem voleadores natos - vide Federer - como eficientes), Rafa Nadal é um dos melhores do circuito junto à rede. Nesta terça, o veterano foi espetacular no quesito porque subir à rede contra Djokovic é extremamente difícil. O sérvio alcança e contra-ataca bolas que muitos tenistas conseguem apenas defender. Assim, o adversário de Nole precisa ler bem o ponto e escolher a hora certa de subir.

Nadal foi brilhante nas escolhas e na execução, o que causa diferentes consequências na dinâmica do jogo. Antes de mais nada, minimiza o poder defensivo de Djokovic. É como passar ao rival um recado do tipo "você não vai poder só se defender o tempo inteiro porque vou à rede te sufocar." Essa ação, por sua vez, costuma provocar duas reações: em geral, o adversário começa a tentar agredir mais para não se ver tanto na defensiva. Isso, eventualmente, também faz o oponente correr mais riscos no ataque, e a consequência disso costuma ser um número maior de erros.

Nadal não só ganhou 22 dos 32 pontos em que foi à rede (73% de aproveitamento), voleando e smashando gloriosamente, como também viu Djokovic cometer mais erros não forçados (53 contra 43 do espanhol). E as subidas à rede, além dos 22 pontos diretos, tiveram, sim, sua influência no resto da dinâmica do confronto.

5. Força mental

É bem conhecida a força mental de Rafa, e qualquer adversário sabe o quão duro é bater o espanhol em um jogo de cinco sets. No entanto, Nadal foi bem nesse quesito sobretudo em dois aspectos nesta terça-feira. Primeiro, ao não se abalar depois de perder um segundo set que estava bem encaminhado (sacou em 3/0, com suas quebras de vantagem). Mais tarde, ao controlar bem as emoções no tie-break, não deixando as lembranças do duelo do ano passado afetarem seu desempenho neste dia. Em 2021, Rafa perdeu um importantíssimo tie-break do terceiro set, quando cometeu uma dupla falta e errou um voleio fácil. Ontem, Nadal não deu nada de graça e venceu o tie-break do quarto set para selar o triunfo.

Coisas que eu acho que acho:

- Djokovic deixou a desejar em alguns pontos diferentes em momentos distintos da partida. No começo, o serviço lhe deixou na mão. No início do terceiro set, faltou agressividade. No tie-break, por outro lado, Nole foi agressivo demais, atacando em bolas de baixa porcentagem, e pagou o preço por isso. No resumo, o número 1 do mundo não achou um ponto de conforto para sua postura nesta terça. Nadal cobrou um preço alto.

- Som de ontem no meu Kuba Disco: Danger Zone, de Kenny Loggins. Sim, é aquela música. Daquele filme. E a sequência é um filmaço.

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