Vice em Toronto carimba novo patamar de Bia Haddad Maia no circuito

Seis jogos, cinco vitórias, um troféu de vice. A campanha de Bia Haddad Maia nesta semana, no WTA 1000 de Toronto, veio em um sequência de triunfos mais curta do que aquela da grama, em junho, quando conquistou os WTAs 250 de Nottingham e Birmingham em semanas consecutivas, mas com uma lista invejável de vítimas e atuações que colocam a brasileira de 26 anos definitivamente em um patamar acima do que ocupava até sete dias atrás.

Uma perigosa top 15 jogando em casa (Leylah Fernandez), uma ex-número 1 do mundo (Karolina Pliskova), uma campeã olímpica (Belinda Bencic) e, claro, a atual número 1 do mundo, Iga Swiatek, ficaram pelo caminho, derrubadas por Bia Haddad Maia, assim como a italiana Martina Trevisan (#26), que teve o azar de encarar a paulista na primeira rodada. Simona Halep ficou com o título, mas precisou de uma apresentação brilhante do fundo de quadra para isso na final deste domingo.

Se o novo status de Bia ainda era visto com certa desconfiança por parte do mundo do tênis (sim, isso aconteceu) quando ela esteve entre as dez mais cotadas das casas de apostas ao título de Wimbledon, isso não deve se repetir agora, às vésperas do US Open. A brasileira já fez o bastante para mostrar suas qualidades e sua capacidade, e Toronto serviu para carimbar a legitimidade de seu novo patamar. Agora, estar no top 20, brigando pelo título de um slam, é o novo normal para Haddad Maia.

Adaptação

A semana reforçou muitas das qualidades atuais de Bia. Destaco aqui as três que mais valem menção para mim. A primeira deles foi a capacidade de adaptação de Bia às condições adversas de jogo quando, na quinta-feira, entrou em quadra em uma ventania para encarar Iga Swiatek, a número 1 do mundo, que ainda não havia sido derrotada em um WTA 1000 em 2022 (23 vitórias seguidas) e carregava uma série de 20 jogos sem perder em quadras duras.

Enquanto a poderosa número 1 do mundo sofria com as rajadas, penava com o saque e cometia seguidas duplas faltas, Bia sequer parecia incomodada. Foi consistente em condições inconsistentes, brilhou quando esteve pressionada na reta final do jogo e arrancou um triunfo memorável.

Não foi a primeira vez que Bia venceu uma partida assim. Em outubro do ano passado, quando ainda era a #115 do ranking, a paulista foi superior a Karolina Pliskova em uma ventania no WTA 1000 de Indian Wells e fez 6/3 e 7/5.

Tênis, com torneios diferentes em lugares diferentes e em condições diferentes - e novos adversários de todo tipo - a cada semana, é um esporte de quem se adapta melhor, e Bia se coloca entre as melhores do mundo neste quesito.

Calma e consistência

Contra Belinda Bencic e Karolina Pliskova, Bia encarou backhands poderosos. A suíça, campeã olímpica, usava frequentemente sua esquerda para buscar paralelas. Pliskova, dona de um dos melhores saques do circuito, também agrediu um bocado com o golpe.

Bia teve seus altos e baixos aqui e ali, mas não subiu nem caiu demais. Manteve a consistência e seu plano de jogo, que é baseado em bolas fundas executadas com regularidade. É um plano de alta porcentagem. Bia raramente parte para um golpe kamikaze, tentando matar o ponto com uma bola de alto risco. Em vez disso, sua sua ótima capacidade defensiva para alongar os pontos e forçar as rivais a arriscarem primeiro. Bencic e Pliskova fizeram isso e terminaram com mais erros não forçados do que a brasileira, que, novamente, foi mais sólida na maioria dos momentos importantes.

Autocrítica e confiança

Depois que passou a trabalhar com o técnico Rafael Paciaroni, Bia desenvolveu duas qualidades típicas de atletas de elite: a capacidade de reconhecer seus erros (e, consequentemente, o que precisa evoluir) e a coragem de admitir publicamente suas qualidades (e, consequentemente, seu favoritismo).

Quando bateu Iga, falou de seus altos e baixos e destacou que soube ser humilde e disciplinada nos momentos difíceis e que foi importante não levar o jogo para o lado emocional, e sim para o racional; após bater Bencic, reconheceu a superioridade da suíça no começo e lembrou que precisou se equilibrar e do trabalho duro que tem que fazer quando está sob pressão; e quando bateu Pliskova, reconheceu que deixou de ser agressiva após abrir vantagem, falou que fechou o primeiro set "mais na luta do que no tênis" e mostrou-se contente com a postura durante o jogo, ressaltando "competir e lutar com o que a gente tem no momento."

Coisas que eu acho que acho:

- Bia soma 17 vitórias desde junho no circuito mundial. É a segunda maior vencedora de jogos no período, ficando atrás apenas da francesa Carolina Garcia (20).

- Em jogos de três sets, Bia também lidera a WTA: já são 20 jogos decididos na terceira parcial. Ela venceu 15 desses duelos e também está em primeiro no ranking da temporada nesse quesito.

- Com a campanha em Toronto, ela sobe para o 16º posto no ranking. Será, evidentemente, a sua melhor posição na carreira.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: Maniac, na versão metal metal de Tobias Sammet e seu projeto Avantasia, porque she's dancing like she's never danced before.

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