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Alcaraz supera Tiafoe e duela contra Ruud por #1 na final do US Open

Reuters
Imagem: Reuters

João Victor Araripe

Colunista do UOL(*)

10/09/2022 00h55

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Mais uma maratona emocionante para o currículo que promete ser extenso. O jovem Carlos Alcaraz superou Frances Tiafoe na segunda semifinal masculina do US Open. Número 4 do mundo, o espanhol reagiu e aplicou 6/7(6), 6/3, 6/1, 6/7(5) e 6/3 sobre o tenista da casa. A final masculina do US Open entre Carlos Alcaraz e Casper Ruud será no domingo às 17h e vale o topo do ranking mundial da ATP. Quem vencer será o novo número 1 do mundo.

O desfecho não foi o que a torcida gostaria. Ainda assim, foi mais um espetáculo de Alcaraz na sessão noturna do Arthur Ashe Stadium, com 4h19 de partida. Foi a terceira vitória consecutiva do tenista de 19 anos em cinco sets no torneio. Nas rodadas anteriores, Alcaraz já havia precisado de 5h15 para superar Jannik Sinner nas quartas de final e Marin Cilic nas oitavas em 3h55.

Aos 19 anos e 4 meses, Alcaraz pode se tornar o tenista mais jovem a ser número 1 do mundo. Atualmente, o detentor do recorde é o australiano Lleyton Hewitt que chegou ao topo com apenas 20 anos e 9 meses, em novembro de 2001. Nem Federer, nem Nadal e sequer Djokovic estão sequer no top 5 de tenistas mais jovens a atingir o topo do ranking mundial.

Será o terceiro duelo entre Carlos Alcaraz e Casper Ruud no circuito profissional. O espanhol levou a melhor nos dois jogos anteriores sem perder sets, sendo o mais recente na final do Masters 1000 de Miami, em abril. Na ocasião, Alcaraz venceu seu primeiro título de Masters 1000, com vitória por 7/5 e 6/4.

Como aconteceu

A dinâmica do jogo parecia bem clara inicialmente. Tiafoe tentaria fazer Alcaraz jogar todos os pontos de serviço. Não daria nada de graça. E se tivesse a oportunidade, daria o bote na hora certa. Tentaria o chip and charge e pressionaria o novo fenômeno do tênis como pudesse com apoio da torcida.

Alcaraz mordeu a isca e quase se complicou. Precisava fazer pontos obscenos a cada game. Quando estava atrás no placar, tentou bater mais e correr cada vez mais riscos. A tática poderia dar certo para Tiafoe, mas ele precisaria ser impecável. Para frustração da torcida, não foi. O americano fez grande partida com altos e baixos. Assim, o jovem oponente resistiu para levar mais uma batalha na base do físico e da garra.

A maior arma de Tiafoe para largar na frente foi o saque. Com confiança nas alturas, foi impecável principalmente com o primeiro serviço no início do jogo. O aproveitamento nem foi tão alto, mas a eficiência foi mortal. Alcaraz sequer conseguiu colocar a devolução em quadra em 59% dos pontos em que o americano encaixou o primeiro serviço. Encaixou talvez não seja o melhor verbo. Disparou talvez seja mais adequado. Salvou dois break points sem sufoco no sétimo game e criou mais oportunidades no fim da parcial.

Sacando atrás, o espanhol tentou controlar os nervos mas se viu pressionado na reta final do primeiro set. Tiafoe teve set point para evitar o tiebreak. Alcaraz subiu de nível e forçou o desempate. O tenista da casa seguiu compenetrado e à frente no placar. A pressão inevitavelmente funcionou. Enquanto Tiafoe curtia a atmosfera do Arthur Ashe, Carlos Alcaraz parecia ainda tentar adaptar os nervos. No quarto set point contra, perdeu o set com dupla falta.

O nervosismo seguiu no segundo set. Dessa vez foi Tiafoe que não capitalizou a quebra. Intensificou os chip and charges e teve a chance de ter 7/6 e 2/1, set e quebra. Errou uma contra deixada. Alcaraz, por sua vez, permaneceu firme. Sabia que uma hora o nível do adversário iria baixar. De fato, isso aconteceu. Aos poucos, Tiafoe começou a hesitar e a oscilar. Sacou mal quando pressionado nos games seguintes e foi quebrado. E foi aí que a dinâmica da partida mudou. A esperança local tentou correr atrás do prejuízo. Já era tarde, o jogo era outro e o placar estava empatado.

Após o intervalo de sets, a confiança de Tiafoe foi por água abaixo. O saque desapareceu. Os raros erros começaram a aparecer com frequência. Passou a hesitar. Alcaraz aproveitou e puniu o adversário. Começou a dominar do fundo de quadra. Deixou de insistir no backhand do oponente e começou a atacar também no forehand. Assim, virou o jogo e abriu 2 sets a 1.

O jovem espanhol seguiu com pé no acelerador e quebrou logo para fazer 2/0 no quarto set. Tiafoe não se deu por vencido. O tenista da casa conseguiu subir de nível e presenteou a torcida com bons pontos. Salvou um match point sacando em 4/5 e forçou um novo improvável tiebreak. Novamente, o americano cresceu com apoio das arquibancadas. Sacou bem e pressionou Alcaraz, que largou atrás e perdeu o set cedendo um mini-break.

Quinto set e a torcida americana foi à loucura brevemente. O set decisivo começou parecido ao anterior. Alcaraz largou melhor e Tiafoe conseguiu igualar o placar em 2/2. A partir do quinto game, o físico pesou. Tiafoe perdeu oito pontos consecutivos, incluindo seu serviço com uma dupla falta no meio da rede. O top 5 não perdoou. Quebrou novamente e tomou as rédeas da partida até garantir vaga na decisão do Grand Slam americano, desabando no chão de emoção.

Coisas que eu acho:

- A possível liderança de Carlos Alcaraz aos 19 anos diz mais sobre a nova realidade pós-domínio do Big 3. Hewitt e Safin, por exemplo, foram frutos do declínio de Sampras e Agassi. Alcaraz chegaria a 6.740 com título. Ruud, por sua vez, teria 6.650 se for campeão. Mesmo com os pontos de Wimbledon nenhum deles atingiria 7 mil pontos, marca que Dominic Thiem, Alexander Zverev e Stefanos Tsitsipas já atingiram com folga nos últimos 5 anos, por exemplo.

- Por outro lado, é assustador ver a rapidez de sua ascensão e apenas um indício do que podemos esperar de sua carreira. Em janeiro de 2021, Carlos Alcaraz precisou jogar o qualifying do Australian Open. Entrou no top 100 em maio. Quem esperaria que ele poderia ser o número 1 do mundo menos de 15 meses depois?

- Frances Tiafoe saiu aplaudido de pé de quadra, inclusive por Michelle Obama. Com direito a entrevista, se desculpou pela chance perdida. Apesar de ainda ter 24 anos, Tiafoe sabia que o jogo era vencível e como pode não ter outras chances como essa.

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