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Rafa e Ruud fazem bela exibição, mas lugares vazios e estrutura prejudicam

DGW / Washington Alves
Imagem: DGW / Washington Alves

Colunista do UOL

28/11/2022 04h00

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A passagem de Rafael Nadal e Casper Ruud por Belo Horizonte cumpriu o prometido em muitos aspectos, e isso incluiu, evidentemente, um bem disputado jogo de exibição na noite deste sábado, no Mineirinho, que terminou com vitória do espanhol em dois sets. A visita, ainda que rápida, não pode ser resumida à partida, então eis aqui meu resumo sobre o que mais rolou na capital mineira, com direito a observações e opiniões, evidentemente.

O espanhol chegou visivelmente cansado pela sequência de exibições. Afinal, jogou em Buenos Aires no dia 23 e em Santiago no dia 25. Ainda assim, mostrou energia e simpatia ao longo de sua agenda de compromissos. Primeiro, participou animadamente de um almoço no Minascentro com cerca de 500 convidados que pagaram por volta de R$ 9 mil (no combo almoço + ingressos + área VIP). Lá, Rafa deu uma pequena entrevista e foi de mesa em mesa com Casper Ruud tirando fotos.

Em seguida, espanhol e norueguês deram uma simpática e descontraída entrevista coletiva de mais de 20 minutos e, ao fim, Rafa ainda concedeu algumas exclusivas para certos veículos de imprensa selecionados. De lá, partiu para o Mineirinho para outros eventos. Entre eles, uma clínica para 24 pessoas que tiveram o privilégio de desembolsar R$ 22.400 (ou R$ 24.864,90 em 8x no cartão) para estarem lá com os números 2 e 3 do mundo.

A parte final da visita foi o que todos viram: a exibição. Um belo jogo, é bom que se diga, considerando tratar-se de um amistoso. Ainda assim, fica a impressão que falta algo. O "casamento" dos estilos de jogo parecidos de Nadal e Ruud não é o mais propício para uma exibição. O colega João Victor Araripe disse, e concordo: gostaria de ter visto algumas brincadeiras em certos momentos do jogo. Algo como Federer fez quando veio ao Brasil, levando uma bola de futebol para a quadra, vestindo a camisa da Seleção. De qualquer modo, entendo que não seja esse o estilo de Rafa e Ruud, e paciência. No fim das contas, não é algo que tire o brilho do evento.

O que fica realmente como nota triste é a grande quantidade de assentos vazios a noite inteira no Mineirinho. A organização disse que foram vendidos cerca de 10 mil ingressos, mas o número total deixa de importar tanto quando é possível ver muitos lugares desocupados. No "olhômetro" e contando assentos em algumas das fotos que fiz, era possível ver cerca de 20-30% de assentos vazios. E isso é muito ruim quando quem está em quadra, numa noite de sábado (em vez uma quarta-feira em horário comercial!) é o maior campeão de slams em simples da história do tênis masculino, fazendo uma rara visita a seu país.

O preço dos ingressos, evidentemente, teve a ver com isso. Afinal, o bilhete mais barato (e apenas válido para as últimas sete fileiras do ginásio) era vendido a R$ 539 - preço cheio do chamado "ingresso solidário". Qualquer lugar mais perto da quadra não saía por menos de R$ 800 (incluindo meia-entrada - veja todos os preços neste texto).

Como escrevi aqui há mais de um mês, esta exibição testaria a paixão e o bolso dos fãs brasileiros. O resultado? Sim, há muita gente no Brasil com muito dinheiro e disposta a gastá-lo em eventos de tênis. Porém, também há muitos fãs de tênis que adorariam ver Nadal, mas não podem bancar o que foi pedido pelos promotores deste Nadal x Ruud. É possível ver isso no tweet abaixo, que é de partir o coração. Também é possível notar aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

(Muitas) Coisas que eu acho que acho:

- De modo geral, não foi um evento brilhante em termos de organização. Houve tumulto e empurra-empurra em pelo menos uma das entradas; vi pessoas que compraram ingressos no anel inferior e não podiam sentar porque os lugares foram ocupados por outros (e não havia quem lhes ajudasse); vi pessoas que ocuparam degraus onde não havia assentos; e ouvi relatos de gente que comprou assentos cujos números não existiam.

- Mais: só havia comida em um dos bares no anel inferior, o que provocou uma fila enorme. Nos outros, só líquidos. Não é o que espera alguém que paga mais de R$ 600 por um evento.

- O árbitro de cadeira, muito bem trajado, parecia mais aposentado que Bruno Soares e errou flagrantemente a contagem no primeiro set, chamando "game e primeiro set" para Nadal (6/4) quando placar deveria estar mostrando 5/5. Rafa e Ruud precisaram corrigi-lo.

- Ainda sobre placares: um deles não mostrava o número de games vencidos durante o jogo de duplas. Imperdoável.

- Também houve reclamações sobre o sistema de som do Mineirinho. Todas pessoas com quem conversei e que estavam vendo pela TV ou sentadas no anel superior não conseguiram entender o que foi falado na cerimônia de despedida de Bruno Soares. No anel inferior, onde eu estava, o som chegava alto e claro, o que me faz acreditar que a culpa não é simplesmente da acústica do ginásio, mas de como as caixas de som foram posicionadas.

- Nenhuma lojinha, nenhum estande, nenhum produto do evento à venda. Nem um daqueles simples copinhos de plástico que os estádios de futebol vendem aos baldes. Quem foi ao Mineirinho (e trata-se, evidentemente, de um público com alto poder aquisitivo) não teve com comprar lembranças do evento. E quando há demanda, mas falta oferta, alguém falhou muito feio.

- Sobre os valores cobrados pelo almoço e a clínica com Nadal e Ruud: honestamente, não me incomodam nem um pouco (enquanto eu não precisar pagar!). Esse tipo de "experiência" atende a um público pequeno e específico. Além disso, quando tudo é bem calculado, é justamente este tipo de ação, com poucos gastando muito, que ajuda a baratear uma certa parte dos ingressos. Ênfase em "quando tudo é bem calculado", por favor.

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