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Thomaz Bellucci terá a despedida que sua carreira merece

Thomaz Bellucci no Rio Open de 2019 - Fotojump
Thomaz Bellucci no Rio Open de 2019 Imagem: Fotojump

Colunista do UOL

13/01/2023 04h00

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Qualquer atleta vai nos dizer que é duro tomar a decisão de deixar de praticar um esporte profissionalmente. É difícil saber o momento certo, mas talvez seja ainda mais complicado traçar o que fazer depois do último match point. Não são poucas as dúvidas que os recém-aposentados revelam tempos depois. Qual será o ganha-pão, qual seu valor "de mercado" depois de parar, que receitas pingarão na conta, quem são os possíveis parceiros de empreitadas, etc.

Um desses pontos de interrogação é crucial: onde parar. O local da última apresentação, de muitas maneiras, é também aquele que vai deixar a última impressão e refletir, pelo menos em parte, o valor de um atleta. Gustavo Kuerten deixou o tênis em Roland Garros/2008. Justíssimo para um tricampeão do torneio francês. Juan Martín del Potro despediu-se em Buenos Aires, emocionado, diante de uma torcida fantástica. Andre Agassi e Serena Williams pararam o US Open em suas últimas campanhas. Dá pra entender, né?

Logo, é justíssimo que Thomaz Bellucci faça sua última apresentação no Rio Open, um ATP 500 que é o maior torneio disputado em solo brasileiro. Um palco na medida para o maior simplista brasileiro depois de Gustavo Kuerten. O homem que mais colocou pessoas diante da TV para um jogo de tênis no pós-Guga (consta que aquela semifinal de Madri/2011 contra Djokovic ainda tem o recorde de jogo mais visto da TV a cabo brasileira).

O paulista de 35 anos, ex-número 21 do ranking e atual #907, fez seu anúncio nesta quinta-feira. Depois de um par de anos duros, sem resultados e forçado a jogar torneios cada vez menores, Bellucci decidiu que é hora de colocar um ponto final. E que bom que este fim não será em um Challenger no interior do Brasil, diante de umas 50 pessoas que mal sabem quem está em quadra.

Poderia ser esse o cenário se o Rio Open tivesse dito não a Thomaz. O torneio, felizmente, fez o certo. Vai perder em qualidade, sim, porque poderia dar um convite a alguém mais em forma. Por outro lado, vai ganhar proporcionando aos fãs uma noite memorável, que certamente será especial para Bellucci e todos aqueles que acompanharam sua carreira (este escriba incluído).

No Rio, Bellucci terá os aplausos que merece e nem sempre conquistou. Hoje, até pelos insucessos (proporcionalmente falando) de nomes como Thiago Wild e Orlando Luz, o fã de tênis entende mais, conhece mais. E reconhece, ainda que com uma pitada de atraso, o que Bellucci significou para o tênis brasileiro. E vê-lo pela última vez em uma quadra grande, em um torneio grande, será especial.

Coisas que eu acho que acho:

- Eu poderia ter citado aqui muitos dos feitos e números bacanas de Bellucci (assim como as derrotas doídas e as chances perdidas), mas ainda haverá tempo para esmiuçar sua carreira e fazer mais uma ou outra homenagem aqui no Saque e Voleio.

- A distribuição de wild cards no Rio Open (e já era assim no finado Brasil Open) é sempre polêmica. No caso de Bellucci, imagino uma ou outra reclamação. No entanto, "ajuda" o torneio o fato de o Brasil não ter uma GRANDE promessa do esporte no momento. Quem mais mereceria? Orlandinho, que já teve inúmeras chances na carreira? Felipe Meligeni, o número 2 do Brasil e 165 do mundo (que ainda pode receber um convite?) Thiago Wild, que segue além do top 400 (!)? Difícil argumentar que outro brasileiro tenha boas chances de vencer uma rodada inicial no ATP 500 carioca.