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Sir Andy Murray: no mais longo dos jogos, a maior lição da vida

Divulgação/LTA
Imagem: Divulgação/LTA

Colunista do UOL

19/01/2023 15h59

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Sir Andy Murray voltou a desafiar o tempo, o corpo e as probabilidades. Sir Andy Murray voltou a derrotar o tempo, o corpo e as probabilidades. Um quadril de metal, 35 anos de idade e 17 temporadas nas costas. Somemos a isso as 4h49min de quadra contra o poderoso Matteo Berrettini, dois dias antes, em um dos triunfos mais emocionantes de sua "segunda carreira".

Nesta quinta-feira, entrando pela madrugada australiana, Sir Andy Murray disputou a partida mais longa de sua carreira. Foram 5h45min contra um Thanasi Kokkinakis nove anos mais jovem, em seu país e com torcida a favor. Um tenista da casa que abriu 2 sets a 0, mas só saiu de quadra às 4h06min da manhã em Melbourne, abatido por Sir Andy Murray, que voltou a derrotar o tempo, o corpo e as probabilidades.

"Tenho um coração grande", disse o britânico, procurando palavras para explicar o inexplicável enquanto lidava com a exaustão, as emoções e ouvia um entrevistador - John Fitzgerald, campeão de sete slams em duplas - estarrecido por testemunhar Sir Andy derrotando o tempo, o corpo e as probabilidades.

"Meu amor pelo jogo, por competir, meu respeito por este evento, pela competição. Foi por isso que continuei."

"Sei que não pareço especialmente feliz quando estou jogando em boa parte do tempo", continuou, em referência a sua maneira rabugenta de estar em quadra, reclamando de si mesmo e esbravejando boa parte do tempo, "mas é quando estou mais feliz por dentro."

"Sempre amei competir, sempre coloquei o coração no que fiz, sempre mostrei minhas emoções quando joguei e já fui criticado muito por isso ao longo dos anos, mas é quem eu sou."

Eu poderia escrever algumas linhas sobre cada uma dessas frases, mas elas são autoexplicativas quando se sabe algo sobre a carreira de Sir Andy Murray e o que ele fez e faz para estar em quadra derrotando o tempo, o corpo e as probabilidades.

Dá para ver uma partida de Sir Andy Murray e montar um livro de autoajuda sem ChatGPT. Lições de um homem que, dia após dia, aplica na prática o que fala em suas entrevistas em vez de juntar cinco frases de efeito desconexas para explicar uma derrota. Coração. Amor por competir. Respeito por um evento. Após o mais longo jogo de sua carreira, eis a maior das lições de quem derrota tempo, o corpo e as probabilidades.

Desconfiança que diminui

Sir Andy Murray fez sua segunda operação no quadril em 2019 e, desde então, lida com a desconfiança dos outros - fãs, técnicos, analistas e inclusive médicos especialistas em quadril. Naquele mesmo ano, foi campeão do ATP 250 da Antuérpia, derrotando Stan Wawrinka na final. Os resultados, porém, não tiveram a sequência desejada. Aparecem sempre dores aqui e ali. A velocidade de movimentação não era a de antes. Ficou difícil fazer boas apresentações em dias consecutivos.

Durante todo tempo, o britânico seguiu repetindo que vinha jogando melhor e iria subir no ranking - mesmo quando seus resultados sugeriam algo muito diferente. Ainda assim, Sir Andy Murray voltou ao top 50 no ano passado. Hoje, como #66 do mundo, acredita que o melhor de sua "segunda carreira" ainda está por vir. E isso tem uma explicação: "Acho que agora meu corpo está acostumado a ter o quadril de metal, então não tenho mais tantas dores. Quando eu tinha 33 anos, tive muito mais problemas com meu corpo do que agora, aos 35 e meio, apenas porque meu corpo está acostumado ao novo quadril."

"A biomecânica em volta da minha pélvis mudou quando eu fiz a operação. Obviamente, o resto do corpo tem de compensar a junta de metal. Minha lombar esquerda às vezes dói. Minha virilha esquerda. Mas agora eu sinto que meu corpo se acostumou. Espero que continue assim por um período de tempo e que eu possa jogar tênis de alto nível de novo", disse, segundo reportagem recente do jornal The Telegraph.

E quando Sir Andy Murray diz que seus melhores dias ainda estão por vir, a ciência lhe dá esperança: "Quando me movimento bem, tendo a jogar bem, e isso é muito importante para mim. É provavelmente o que me deixa mais feliz:, afirmou, explicando que o GPS usado em partidas de exibição aponta que sua velocidade de movimentação está perto dos níveis de antes da cirurgia.

E antes do torneio Murray já dizia: "É obviamente uma chave dura, mas também sinto que estou em um lugar muito melhor chegando aqui do que estive em qualquer slam no ano passado." Será? Parece que já serou.

Coisas que eu acho que acho:

- Ao responder que tinha um grande coração, Murray ouviu de Fitzgerald que ele tinha "tudo grande". Ao que respondeu: "Não sei se minha esposa concordaria." Depois de 6h, destruído e precisando correr para a primeira banheira de gelo, o homem ainda teve espírito para fazer uma gracinha autodepreciativa diante do mundo todo. "Gênio" define.

- ESTE PONTO!

- Qualquer jogo de Sir Andy Murray nesta fase é digno de todo tipo de elogios e observações sobre as qualidades da pessoa que é este ex-número 1 do mundo. Infelizmente, as pessoas tendem a se interessar pelas pessoas só quando o atleta dentro delas é um vencedor (e Break Point, assim como Drive to Survive, são ótimos serviços para mudar um pouco este cenário). Mas, no fim das contas, nas vitórias e nas derrotas, a vida de Sir Andy Murray é uma lição.

- Até hoje, a partida mais longa da carreira de Murray era o duelo contra Juan Martín del Potro válido pelas semifinais da Copa Davis de 2016. Aquela partida, jogada em Glasgow, durou 5h07min, e Delpo venceu por 6/4 no quinto set, depois de estar perdendo por 2 sets a 1. A Argentina venceu o confronto por 3 a 2, avançou à final e conquistou seu primeiro título na competição ao fazer 3 a 2 em cima da Croácia.

- Som de hoje no meu Kuba Disco: "My Hero", dos Foo Fighters, é tão autoexplicativa quanto qualquer das frases de Sir Andy Murray acima.

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