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Slam premia inteligência, serenidade e decisões certas de Stefani e Matos
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Luisa Stefani e Rafael Matos escreveram uma nova página no grande livro que conta a história do tênis brasileiro. Nesta sexta-feira, a paulista e o gaúcho conquistaram, juntos, o título de duplas mistas do Australian Open, tornando-se a primeira parceria 100% brasileira a levantar um troféu em um torneio do Grand Slam. E fizeram isso diante de uma dupla de tenistas veteranos e vencedores: os indianos Rohan Bopanna e Sania Mirza.
Luisa teve sua formação tenística quase toda nos Estados Unidos; Rafa, por sua vez, treinou a maior parte da vida no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Trajetórias bem diferentes, mas que se encontram nas características que paulista e gaúcho têm em comum: inteligência - dentro e fora de quadra -, ótima base de apoio familiar, serenidade, leveza e ótimas tomadas de decisão. Qualidades que foram premiadas em Melbourne, no que pode ter sido apenas o primeiro feito de uma parceria que pode vencer muito.
Matos cresceu como parte de uma bela geração do tênis brasileiro, tendo como contemporâneos João Menezes, Marcelo Zormann e o mais festejado deles, Orlando Luz. Matos era considerado o mais talentoso do grupo, mas foi Orlandinho quem obteve os melhores resultados mais cedo e, portanto, concentrou as atenções, ganhando convites para todo tipo de torneio - inclusive o ATP 500 carioca, o Rio Open.
Rafa não subiu no ranking com a velocidade desejada e fechou a temporada 2019 como o número 473 do mundo aos 23 anos. Nas duplas, porém, o gaúcho de Porto Alegre já somava um punhado de títulos, e o 207º posto no ranking lhe permitia sonhar mais alto. Era a hora de escolher, e Matos tomou a decisão de concentrar seus esforços no jogo de duplas, onde sua versatilidade técnica e a ótima capacidade de tomar decisões fariam a diferença, compensando a falta de potência em alguns golpes que limitava sua ascensão nas simples.
Três anos depois, a escolha mostrou-se mais do que acertada. Matos hoje é o duplista número 29 do mundo. É também o número 1 do Brasil, à frente até do ex-líder do ranking mundo Marcelo Melo, e já soma seis títulos de nível ATP. Alcançou tudo isso sem pressa nem alarde. Trabalhou quieto - como sempre fez - e com inteligência. A campanha em Melbourne, cheia de pontos espetaculares em que Matos conseguia colocar seus rivais em dificuldade, é prova disso.
Para Luisa, o título tem sabor diferente. Sim, também é seu primeiro slam, mas o feito é a coroação de uma menina que já tem a consciência de ser uma das melhores do mundo. Em 2021, quando foi medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Tóquio-2020, a paulista já tinha títulos de nível WTA, alcançou a semifinal do US Open e entrou no top 10. No torneio nova-iorquino, porém, sofreu uma ruptura no ligamento anterior cruzado do joelho direito. Era necessário operar e passar por um longo processo de reabilitação.
Quando saiu da sala de operação, a paulista previa voltar ao circuito no fim de maio, a tempo de competir em Roland Garros. O tempo foi passando, e Luisa optou por uma postura mais cautelosa, minimizando riscos. Retornou só em setembro, justamente um ano depois da lesão. A espera foi recompensada. A decisão, acertadíssima. Desde então, a paulista disputou cinco torneios de nível WTA e ganhou três (além do WTA125 de Montevidéu). Já voltou para o 34º posto do ranking e terá até o US Open de 2023 para competir sem precisar defender pontos. É justo esperar que ela brigue pela liderança do ranking de duplas femininas em algum momento, mesmo sem ter disputado o Australian Open (sua parceira, a americana Caty McNally, queixou-se de dores e desistiu do torneio antes da estreia).
Leveza e habilidades que se complementaram
Dentro de quadra, as personalidades do mais tímido Rafa e da mais extrovertida Luisa se complementaram com suas habilidades nas duplas. Mesmo pela TV, era possível ver os dois sempre se motivando, com atitude positiva nos momentos duros. Quando Matos não jogou tão bem, como nas quartas de final, Stefani esteve lá para segurar o time. Na semi, a história se inverteu. Foi o gaúcho que assumiu a responsabilidade em um momento instável da paulista.
Taticamente, os dois brilharam. Luisa e seus voleios completaram gloriosamente o jogo de fundo de Rafa, que se impôs nos ralis diante de nomes de peso como Mate Pavic e Rohan Bopanna. Quando não buscavam winners, os brasileiros sempre colocavam uma bola a mais, dificultando a vida dos adversários e exigindo que executassem golpes com menos margem de segurança. Foi assim do começo ao fim da campanha. Do primeiro saque até o voleio de Luisa que decidiu a final. Uma parceria de dois atletas inteligentes, que carregam boas energias para a quadra e que têm a capacidade técnica para executar o que é preciso. O Brasil não podia querer muito mais.
Coisas que eu acho que acho:
- Não canso de repetir no Twitter e farei o mesmo aqui no Saque e Voleio: Luisa e Rafa, mais do que atletas brilhantes, são pessoas brilhantes, com ótimas bases de apoio. São jovens educados, com a cabeça no lugar, que sabem onde estão pisando, sabem o que querem e, sobretudo, o que é preciso para alcançar seus objetivos. São muito mais do que apenas tenistas "especiais" que batem bem numa bolinha de tênis.
- Ainda no tom do parágrafo acima, o mais bacana deste título, para mim, é que ele está nas mãos certas. Mãos de gente que vai dar o exemplo correto dentro e fora de quadra. Parece básico, mas a história recente do tênis brasileiro mostra que não é tão simples assim.
- Luisa é bem conhecida do torcedor brasileiro desde os Jogos de Tóquio. Rafa começará a se tornar um rosto mais familiar agora, e o fã de tênis que ainda não o conhece verá como o gaúcho é acima da média.
- Para lembrar dos 32 títulos de slam do Brasil, siga o fio do jornalista Rubens Lisboa abaixo:
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