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Thiem no Rio Open: uma derrota doída e uma lição sobre saúde mental

Dominic Thiem durante a primeira rodada do Rio Open em 2023 - Rio Open/Fotujump
Dominic Thiem durante a primeira rodada do Rio Open em 2023 Imagem: Rio Open/Fotujump

Colunista do UOL

21/02/2023 10h05

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O primeiro dia da chave principal do Rio Open foi um tanto interessante. Não só pela curiosidade de ver João Fonseca, a maior promessa atual do tênis brasileiro, jogando um ATP 500 aos 16 anos, mas também porque estiverem em quadra o número 1 do país, Thiago Monteiro; um campeão de slam e ex-top 5, Dominic Thiem; e um tenista que muitos apostam que será top 5-10 em breve, o italiano Lorenzo Musetti.

Meu momento preferido do dia - como jornalista, não como torcedor - foi a entrevista de Dominic Thiem após a derrota por 6/1, 3/6 e 7/6(2) para Monteiro. O austríaco, que teve uma séria lesão no punho em 2021, ainda sofre para conseguir consistência em seu jogo e, consequentemente, nos resultados. A derrota desta segunda foi a oitava nos últimos dez jogos, o que mexe com a confiança de qualquer um.

Duas declarações merecem destaque especial. A primeira, quando Thiem considera a hipótese de que seu tênis e seu ranking de antes podem não voltar. Depois, ele destaca o quento não deveria basear o valor que tem de si mesmo apenas em resultados, vitórias, números e ranking. Leiam abaixo:

"Eu nunca me lesionei antes, então não sabia quanto tempo levaria. Está levando o tempo que está levando. Não estou me estressando. O que estou fazendo é tentar dar o meu melhor em cada partida, do começo ao fim, e se tudo voltar, volta, sabe? É simples assim."

Mes e se não voltar?

"Se não voltar, não vai voltar, sabe? Eu sinto também que me defini baseado em resultados por tempo demais. É muito insalubre, especialmente mentalmente se você se define só pelos resultados. Mas sim... se voltar, volta. Se não, não. Tudo que faço é dar meu melhor em cada partida, em cada treino e vivo no momento. É o que eu faço. Se vai voltar, eu não tenho influência sobre isso."

Há uma lição a se tirar daí, e ela tem bastante a ver com o que Thiem sentiu após conquistar o US Open, em 2020. Pouco depois, o austríaco deu uma entrevista revelando que teve dificuldades para se motivar. É uma questão também de saúde mental. Basicamente, o que ele quis dizer foi o seguinte: depois de passar tanto tempo concentrando tantos esforços e voltando toda sua vida em busca de algo (ganhar um slam), o que resta quando essa meta é alcançada?

Junto com esse obstáculo, veio a lesão, e Thiem sofreu uma inevitável queda o ranking. Hoje, com 29 anos, é apenas o número 96 na lista da ATP. O lado positivo disso tudo? Dominic aprendeu a lição sobre saúde mental e, embora evidentemente sinta as dores de derrotas que não sofreria anos atrás, lida melhor com elas, sem deixar de entender o que precisa fazer para evoluir. Ele também deixou isso bem claro na entrevista de ontem:

"A única coisa que tenho que melhorar urgentemente é que na maioria dos pontos eu fico muito longe da linha de base. Hoje foi um pouco melhor do que em Buenos Aires, mas quando me aproximo da linha, cometo muitos erros. Tenho que encontrar o timing novamente e me colocar mais perto da linha de base novamente. Ele [Monteiro] fez isso melhor do que eu. Basicamente, no tênis profissional, quem joga mais perto da linha é quem ganha os pontos."

Coisas que eu acho que acho:

- Monteiro, obviamente, teve muito mérito. Fez uma apresentação muito mais sólida do que nos ATPs de Córdoba e Buenos Aires, salvou break points cruciais no começo do terceiro set e jogou um tie-break impecável. Foi grande quando mais precisou, e isso é algo que nem sempre vemos no número 1 do Brasil. Que aconteça com mais frequência.

- Fonseca fez uma apresentação digna diante de um adversário superior e mais consistente. Não foi um bom primeiro set. O carioca agrediu demais, errou demais e fez poucos ajustes. Fez o velho "entra lá e solta o braço", que não adiantou muito nem foi tão saudável assim. Ele mesmo admitiu após o jogo que entrou nervoso e deu pontos demais de graça ao adversário. A segunda parcial, porém, foi bem diferente. João usou mais spin, jogou pontos mais longos e foi recompensado com erros de Molcan. Esboçou uma reação, levantou a torcida e chegou a sacar em 3/4. No fim, perdeu por 6/0 e 6/3. Ganhou pontos bonitos e mostrou seu potencial. Fez valer o convite para a chave principal.

- A decepção do dia foi Musetti, que foi presa fácil para o chileno Nicolás Jarry: 6/4 e 6/1. Era uma situação nada simples para o italiano. Jarry vinha do quali e vinha sacando bem. Musetti entrou em quadra sem tanto ritmo de jogo e, diante do jogo de pontos curtos do chileno, não conseguiu alongar as trocas. Jarry passou por cima.

- Como todos aqui já sabem, há três anos apresento o podcast oficial do Rio Open. Refaço o convite para que todos ouçam porque o conteúdo é bom (assim acredito), com áudios das entrevistas com os jogadores, especialistas analisando as partidas e até bate-papos com convidados especiais com histórias no tênis, como foi o caso de minha conversa com o chef Felipe Bronze neste episódio aqui. Deixo abaixo o episódio pós-dia 1 do Rio Open. Ouçam!

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