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Cameron Norrie: olhos abertos após ida à Rocinha e pronto para final no Rio
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Neste domingo, quando sair de quadra após a final do Rio Open, o britânico Cameron Norrie poderá dizer que teve uma experiência completa na Cidade Maravilhosa. Hospedou-se em um hotel de frente para o mar, curtiu a praia carioca, sofreu com o calor e a umidade em longas partidas no ATP 500 do Rio de Janeiro e teve tempo até para fazer uma visita à Rocinha.
O passeio à favela, aliás, foi uma parte importante de sua passagem pela cidade. Para Norrie, um cidadão nascido na África do Sul, criado na Nova Zelândia, filho de pai escocês e mãe galesa e morador de Londres, bater bola em uma região tão diferente dos cenários em que foi criado serviu para conhecer e entender uma realidade muito diferente.
"Foi incrível. Fiquei muito feliz com a chance de ir até a favela, viver aquilo e jogar tênis com jovens talentosos em uma quadra incrível. Era um subida muito inclinada e, de repente, havia uma linda quadra de saibro. Tentei motivá-los a jogar melhor. Foi uma experiência legal. Obviamente, eu cresci em um lugar muito diferente, então foi algo que abriu meus olhos. Eles estavam tão felizes de bater bola comigo, então espero ter inspirado alguns deles a jogar tênis e ganhar a vida fazendo isso. É claro que isso exige muito trabalho, mas espero que eles tenham a chance. Para mim, foi uma lição de humildade ver as reações e ouvir perguntas sobre todos os tipos de coisas. Eles estavam muito felizes", disse o tenista de 27 anos, atual número 13 do mundo.
Norrie competiu no cenário universitário dos Estados Unidos antes de entrar 100% no circuito profissional. Hoje, recomenda sua trajetória para jovens que não podem bancar os primeiros custos da vida como pro.
"Sim, eu falei com Valter Albuquerque (Valtinho, que venceu a categoria de 17 a 23 anos do Torneio Winners, competição disputada entre crianças e jovens dos projetos sociais apoiados pelo Rio Open), o menino que me convidou a visitar sua casa, e ele me disse que era um objetivo dele jogar tênis na faculdade. Obviamente, você precisa ganhar muitos jogos para conseguir uma bolsa, mas se ele, com 16 anos, sabe sobre ir a uma faculdade, acho que é uma ótima opção para meninos do Brasil obter uma bolsa e fazer isso. Você vai jogar muitas partidas e receber educação de graça se for um bom jogador. É uma vida muito boa antes do tênis profissional. Se você quer ser profissional, a universidade é um uma ótima opção. Tudo é organizado para você. Você tem musculação e preparação física, tem técnicos, a escola e tudo para continuar aprendendo e crescendo. Eu tive a chance de amadurecer e jogar profissional depois, mas se você fizer faculdade e decidir não jogar tênis, vai poder fazer outra coisa. A faculdade te dá conexões, então advogo por isso. Foi ótimo para mim, e vivi ótimos dias na TCU (Texas Christian University)."
Norrie disputará neste domingo, contra Carlos Alcaraz, a partir das 17h30min (de Brasília) sua terceira final de nível ATP em quatro torneios disputados no ano. Em Auckland, em janeiro, perdeu a decisão para Richard Gasquet por 4/6, 6/4 e 6/4. Na semana passada, diante do mesmo Alcaraz, foi superado em dois sets: 6/3 e 7/5.
Será diferente na Cidade Maravilhosa? O que quer que aconteça, Norrie se mostra preparado. Desde que chegou ao Rio, o britânico vem falando em jogar partidas longas, sob muito calor e com muita umidade. E até agora nada lhe tirou da rota planejada. Cabeça de chave 2 do torneio, Cameron derrotou Juan Manuel Cerúndolo, Thiago Monteiro, Hugo Dellien e Bernabé Zapata Miralles, quatro tenistas com bom currículo no saibro.
"Eu sabia o que esperar antes de vir para cá. Há muitos saibristas que adoram este piso, e já enfrentei todos essas caras que jogam bem no saibro. Sabia que seria difícil, quente e úmido. Em Buenos Aires, na semana anterior, foi quente demais! Eu estava morrendo em quadra, e aqui tenho suado muito, trocado de camisas e grips, indo até a toalha com mais frequência... Você [olhando para mim] está suando agora e está tranquilo (risos), então eu sei como é para os fãs também nos ver jogando, então eu estava pronto para sofrer. Eu consegui me concentrar no tênis e jogar bem nas últimas partidas até o fim."
No entanto, cabe questionar: o que faz Norrie tão perigoso neste torneio é o mesmo que afasta outros tenistas de elite do Rio Open? Será que é mais prático ficar na Europa, jogar torneios com ar-condicionado em quadra coberta, sem longas pausas por chuva e possivelmente ganhando os mesmos pontos que no Rio de Janeiro?
Norrie acredita que não. "Acho que não é esse o caso. Talvez o fato de que seja uma gira de saibro tão curta e logo depois temos que voltar às quadras duras para Indian Wells e Miami, com Acapulco e Dubai na semana que vem, então os jogadores querem ter a melhor chance de jogar bem nesses torneios. Para mim... eu queria vir até aqui e melhorar meu jogo no saibro. O próximo slam é Roland Garros, e eu costumo demorar para começar a jogar bem no saibro, mas consegui fazer ajustes mais rápidos desta vez e espero que ganhar essas partidas no saibro me deem confiança para quando chegar a Monte Carlo e alguns dos primeiros torneios de saibro na Europa."
Mas e Alcaraz? Por que o espanhol consegue vencer tanto e tão cedo, aos 19 anos? Norrie tem uma boa resposta: "Alcaraz, no geral, é um jogador muito completo em uma idade tão jovem. Acho que sua variação, sobretudo com o forehand.... Ele consegue bater angulado, forte, chapado, e ele faz curtinhas muito bem. Seu backhand também é um foguete. Acho que ele é muito duro de bater, mas acho que se eu conseguir jogar meu melhor por um período longo de tempo, vou ter chances contra ele. Senti isso na semana passada, na final de Buenos Aires. Ele foi bom demais no fim, mas sim, ele é um grande jogador jovem. É ótimo para o esporte, e é incrível o quão humilde ele é. Adoro ele como pessoa, nos damos muito bem fora de quadra, gosto muito do time dele, passamos tempo juntos, e ele é muito legal."
Coisas que eu acho que acho:
- Ouça abaixo, no podcast oficial do Rio Open, uma prévia da final do torneio em um bate papo com o jornalista Fernando Nardini, da ESPN.
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