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Rio Open e Cameron Norrie, um campeão que sabe sofrer

Cameron Norrie com o troféu do Rio Open de 2023 - Rio Open/Fotojump
Cameron Norrie com o troféu do Rio Open de 2023 Imagem: Rio Open/Fotojump

Colunista do UOL

27/02/2023 16h06

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O Rio de Janeiro em fevereiro não é para amadores, e o mesmo vale para o Rio Open, guardadas as devidas proporções. Competir na Cidade Maravilhosa nesta época do ano pode ser um exercício brutal. O calor castiga. A umidade ensopa. O saibro fica ainda mais lento. As partidas, mais longas. E quando tudo parece correr bem, existe sempre o risco de uma tempestade interromper partidas, forçar longas esperas madrugada adentro e mudar as condições do jogo.

David Ferrer, em uma de suas passagens por aqui, disse que jogar tênis no Rio de Janeiro é muito mais duro do que em Melbourne, no meio do verão australiano. Rafael Nadal concordou. É preciso mais do que tênis para levantar o troféu do Rio Open, e foi isso que Cameron Norrie mostrou durante toda a semana que terminou com seu primeiro título de ATP 500, sua maior conquista da carreira na terra batida até agora.

O principal mérito de Norrie? Saber sofrer. E o britânico chegou ao Rio ciente de suas chances, mas também do sacrifício que teria de fazer para aproveitá-las. Na primeira entrevista, antes de fazer seu primeiro jogo, isso ficou evidente:

"Aqui é muito úmido, vou ter que trocar muito de camisa, trocar o grip... Suei muito já no meu treino, então acho que as condições serão o maior fator na mudança [em comparação com Buenos Aires, torneio da semana anterior]. Vou precisar me concentrar em fazer uma partida física e difícil contra [Juan Manuel] Cerúndolo. Ele é um grande saibrista, e é uma grande chance de jogar contra um cara que se sente bem no saibro, especialmente em condições lentas como as daqui. Estou esperando uma batalha."

Norrie sabia o que lhe aguardava e, assim, com suor e sacrifício, foi avançando na chave. Bateu Cerúndolo; conteve a torcida quando derrotou Monteiro; superou Dellien em três sets duros; e venceu a semifinal contra Zapata Miralles no tie-break do terceiro set durante o entardecer de um quentíssimo sábado.

Quando perguntei a Norrie, durante dez minutos que tive para entrevistá-lo de forma exclusiva, por que ele não parecia incomodado com as condições e as partidas longas, a resposta deixou tudo mais claro:

"Eu sabia o que esperar antes de vir para cá. Há muitos saibristas que adoram este piso, e já enfrentei todos essas caras que jogam bem no saibro. Sabia que seria difícil, quente e úmido. Aqui tenho suado muito, trocado de camisas e grips, indo até a toalha com mais frequência... Você [olhando para mim] está suando agora e está tranquilo (risos), então eu sei como é para os fãs também nos ver jogando, então eu estava pronto para sofrer."

A final contra Alcaraz não foi diferente. Mesmo lesionado, o espanhol foi um adversário magnífico. Compensou a falta de mobilidade com winners incríveis e curtinhas maravilhosas. Norrie fez o que pôde. Correu, defendeu-se e, quando pôde, também atacou. Usou pernas, coração e cérebro. Soube sofrer. Soube trilhar o caminho até a glória no Rio. Palmas para ele.

Coisas que eu acho que acho:

- Alcaraz é um tenista com mais armas, mais potência e mais pernas do que Norrie. Dizer isso não é desrespeito algum ao britânico, que parece conhecer bem o seu potencial e suas limitações (triste é a pessoa que não sabe fazer ou não consegue entender comparações). Não fosse a lesão, teria vencido o espanhol? Nunca saberemos. Do mesmo jeito que elevou seu nível quando foi preciso até as semifinais, Alcaraz complicou jogos que poderiam ter sido vencidos com mais facilidade durante a semana, e isso cobrou seu preço fisicamente.

- Há muito a ser dito e escrito sobre o Rio Open, e farei isso ao longo da semana, assim que voltar para casa e organizar as pendências que sempre surgem durante 15 dias fora. Por enquanto, deixo abaixo o último episódio do podcast Rio Open, em que o diretor do torneio, Lui Carvalho, faz um balanço do evento deste ano e fala sobre o que vem no futuro do torneio de 2024 em diante.

- Deixo aqui também o link para o texto que publiquei ontem no Saque e Voleio. Norrie fala sobre sua visita à Rocinha, o poder transformador do esporte e o circuito universitário dos EUA como alternativa viável para jovens brasileiros.

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