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Thiago Wild precisa crescer fora de quadra, e o mundo já nota isso
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Quando Thiago Wild recusou-se a responder, na coletiva de ontem, sobre o caso de violência doméstica em que está envolvido, agiu da pior maneira possível. Nem digo isso pela recusa. Ninguém é obrigado a falar sobre nada. A postura do paranaense é que foi lamentável, afirmando que não é o jornalista quem decide o que deve ou não ser falado. É Thiago quem não tem o direito de dizer o que pode ou não ser questionado. E isso foi só uma parte do problema.
Wild perdeu a chance de mostrar educação —no mínimo, tato— no momento em que todos olhavam para ele. Em vez disso, foi agressivo e arrogante. Podia ter respondido simplesmente "não gostaria de falar sobre isso agora" ou "espero que o processo prove a minha inocência" ou ainda "prefiro falar sobre este assunto apenas quando o processo estiver encerrado". Saídas educadas nunca faltam. Alexander Zverev, que não é nenhum gênio, lidou muito melhor com esse cenário enquanto foi investigado pela ATP em um caso também de violência doméstica.
O dilema maior é que o mundo, que poderia estar apenas admirando o talento mostrado em quadra, na Chatrier, diante do número 2 do mundo, agora já vê Wild com olhos diferentes. Basta ler este preciso e muito bem ponderado texto do jornalista argentino Sebastián Fest.
Entre outros ótimos argumentos, Fest escreve que "Seyboth Wild era o herói do dia, um homem admirado por todos. Que melhor oportunidade para falar sobre o tema? Quando não o fez, as notícias nas horas seguintes não foram apenas sobre seu grande triunfo. Não, o sucesso sobre Medvedev dividiu espaço com uma história confusa e uma raiva ainda mais confusa. Muitos veículos de imprensa ao redor do mundo destacaram isso".
Fest, caros leitores, tem um currículo respeitável. Escreve em inglês e espanhol para El Mundo, Forbes e El País, além da especializada Clay Magazine. Tem anos de experiência cobrindo tênis, escreveu para a alemã DPA e o espanhol La Nación. É autor do livro "Sin Red", sobre Rafael Nadal e Roger Federer. Quando ele escreve, as pessoas leem com atenção. Seu alcance é mundial, assim como o eventual sucesso de Wild nas quadras.
Logo, todos prestam atenção, e a maioria, inclusive este escriba aqui, concorda que "quando um atleta alcança a fama por um feito esportivo, como no caso de Seyboth Wild, e em três segundos de busca no Google surge uma história muito negativa sobre ele, a coisa inteligente a fazer é abordar o tema e dizer o que precisa ser dito. Reagir com raiva contra o jornalista, desqualificá-lo ou recusar-se a falar apenas fazem girar a roda de fofocas e desinformação".
"Bem aconselhado, Seyboth Wild poderia ter evitado esse tropeço para sua imagem. Foi um grave erro em seu grande dia", completa Fest em texto publicado na Clay Magazine.
A resposta de Wild foi só uma parte do problema. Depois da coletiva, segundo relatado pelo jornalista brasileiro Renan Nabeshima, o autor da pergunta que incomodou Wild, o holandês Jannik Schneider, foi procurado por um suposto agente da Octagon (empresa que gere a carreira de Wild), que tentou tirar uma foto de sua credencial.
O incidente, que passou a imagem de intimidação, repercutiu mal no mundo do tênis, junto com a resposta agressiva de Wild. O jornalista Jorge Pacheco escreveu sobre "o passado" do brasileiro no diário El Español e relata que "Schneider foi ameaçado pela equipe de Thiago Wild" (vide tweet abaixo):
A jornalista canadense Stephanie Myles classifica como tendência bizarra a presença de agentes de tenistas na sala de entrevistas. "Não sei de quem foi a ideia, mas isso precisa ser repensado imediatamente", publicou no Twitter.
"Bom que pergunta foi feita e muito feliz por ouvir que colegas na sala o apoiaram. Se uma pergunta válida provoca esse tipo de reação, apenas destaca a necessidade de a pergunta ser feita em primeiro lugar", opinou o jornalista austríaco René Denfeld (tweet abaixo).
O francês Quentin Moynet, jornalista do L'Équipe, um dos jornais esportivos mais respeitados do mundo, também comentou o momento: "Apoio a Schneider, cuja pergunta foi legítima. Ele fez seu trabalho como jornalista".
Até o americano Jon Wertheim, editor executivo da Sports Illustrated, publicou sua opinião no Twitter: "Pergunta legítima do jornalista. Resposta legítima do jogador... Efeito Streisand causado pelo agente".
"Efeito Streisand" é o nome que se dá a uma tentativa de abafar um assunto, mas que causa o efeito contrário. No caso, o agente, ao tentar fotografar o jornalista no que, repito, pareceu uma tentativa de intimidação, deu mais destaque à coisa toda —inclusive à reação de Wild diante da pergunta.
Voltando a Wild, joga a seu favor o fato de o tênis dar uma nova chance a cada partida para que sua imagem seja mais bem trabalhada, e os erros sejam corrigidos. Despencar no ranking parece ter ensinado algo a Wild sobre como trabalhar dentro de quadra. Que a coletiva desta terça tenha lhe ensinado algo sobre como trabalhar fora da quadra. O mundo está olhando.
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